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Cuidado ao basear seus investimentos na inflação de um único mês – 06/04/2025 – De Grão em Grão

Você escolheria todas as roupas do ano com base na temperatura de um único mês? Parece absurdo, mas é exatamente isso que muitos investidores fazem ao olhar para a inflação de um único mês e tentar projetar todo o comportamento da economia. Fevereiro trouxe um IPCA de 1,31%, o que causou certo alvoroço entre os investidores. Mas será que isso sinaliza um novo patamar inflacionário ou é apenas mais um capítulo previsível de um livro já conhecido?

Assim como a temperatura do verão engana quem pensa que ela vai durar o ano todo, a inflação também tem seus ciclos naturais. Ao longo dos últimos 20 anos, os dados mostram que o semestre entre outubro e março concentra quase 2/3 da inflação do ano. Portanto, extrapolar para o resto do ano é um erro.

A média desde 2005 (tabela abaixo) mostra que o IPCA entre outubro e março acumula cerca de 3,5%, enquanto de abril a setembro ele soma apenas 1,9%. Portanto, o IPCA do semestre no fim do ano foi em média 187% maior que o no meio de cada ano. Isso acontece por motivos conhecidos: reajustes escolares, planos de saúde, tarifas públicas e outros preços administrados que se concentram no início do calendário.




















Meses Média do IPCA em 20 anos
Outubro 0,52%
Novembro 0,48%
Dezembro 0,63%
Janeiro 0,56%
Fevereiro 0,67%
Março 0,57%
Acumulado 3,53%
Abril 0,49%
Maio 0,41%
Junho 0,29%
Julho 0,26%
Agosto 0,21%
Setembro 0,36%
Acumulado 1,90%
Média anual 5,50%

O número de fevereiro de 2025 isolado parece elevado. Entretanto, quando olhamos para janeiro e fevereiro deste ano, o resultado acumualdo está dentro da média histórica, sem nenhuma catástrofe aparente.

O investidor mais apressado, ao se assustar com um número fora da curva, pode cometer o erro clássico de ajustar demais sua carteira. Trocar títulos pós-fixados por outros atrelados à inflação, mudar de estratégia, fugir da renda fixa pós fixada com receio de um surto inflacionário que possivelmente nem se concretize.

Além disso, é importante lembrar que o IPCA esperado para março e abril, segundo a Anbima, é de 0,55% e 0,48% respectivamente — patamares similares à média de longo prazo para esses meses. Ou seja, a “nova inflação” pode não ser tão nova assim.

Outro ponto fundamental é que, mesmo que o índice pareça dentro do esperado, ele está pressionado. A média anual do IPCA nas últimas duas décadas foi de 5,5% ao ano, o que já embute certa resiliência inflacionária. Esse número, inclusive, está 2,5 pontos acima da meta atual do Banco Central. É por isso que, mesmo diante de expectativas de desaceleração, o mercado ainda trabalha com a perspectiva de mais uma alta na Selic no curto prazo.

A escolha dos investimentos em renda fixa, deve levar em conta o comportamento médio e a expectativa futura, mas não o susto de um mês pontual. Ignorar a sazonalidade pode custar caro. Em vez de se mover por impulso, o investidor bem informado entende que oscilações fazem parte do jogo e que decisões bem-sucedidas são construídas com base em padrões, não em exceções.

Portanto, antes de trocar sua estratégia por pânico ou modismo, vale a pena respirar fundo e lembrar: o calor de fevereiro passa, e a estabilidade da renda fixa permanece, principalmente, para quem sabe interpretar o termômetro sem exageros.


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