Com forte ação no Nordeste, o Will Bank é a aposta do BRB (Banco de Brasília) para entrar no mercado de serviços digitais e ampliar a base de clientes nas classes C e D. A empresa será o braço digital do BRB e faz parte da transação de compra de 58% do capital do Master, do banqueiro Daniel Vorcaro.
O negócio com o Master ainda depende de autorização do Banco Central, mas o comando do BRB vê a aquisição do Will Bank como estratégica para a operação. O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, dos ativos que farão parte do negócio e dos que serão apartados da transação.
Para o BRB, trata-se de uma plataforma tecnológica e de um time jovem de colaboradores que permitem agregar expertise nesse segmento e crescer mais rapidamente na oferta de serviços digitais. O Will Bank tem hoje 9 milhões de clientes, segundo informou à Folha a assessoria de Vorcaro.
Auditores contratados pelo BRB devem terminar na próxima semana a análise dos números do Master para definir o que tecnicamente é chamado de “perímetro” da operação. Ou seja, a parte do banco da Faria Lima que foi comprada pelo BRB.
No dia do anúncio do acordo de compra e venda, em 28 de março, o BRB entregou uma série de documentos ao Banco Central com a previsão de R$ 23 bilhões de ativos de maior risco e menor liquidez que seriam cindidos da operação, como precatórios, direitos creditórios relativos a processos judiciais e fundos de ações de empresas.
De lá para cá, o valor já subiu para R$ 33 bilhões com a inclusão de uma fatia do crédito. Sem saber o tamanho do negócio, o BC não tem como concluir a análise da operação. Para a autoridade monetária, a solução para o Master envolve as duas partes do banco, a que fica com o BRB e os ativos remanescentes.
O Will Bank foi citado pelo presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, durante uma live feita com os servidores do banco, três dias após o anúncio da compra (31). A Folha teve acesso ao áudio da reunião.
Costa disse que haverá “uma complementariedade de atuação do ponto de vista regional” e destacou a presença do banco digital no Nordeste do país. O executivo citou ainda outros dois aspectos da marca: DNA digital e clientela de baixa renda.
“Dentro do conglomerado do Banco Master, há um banco digital, Will Bank, uma fintech, que possui DNA digital, uma presença em clientes de baixa renda e que vai ter um papel determinante na ampliação do relacionamento com os quase 4 milhões de clientes que captamos por meio de banco digital”, afirmou.
“A gente consolida a nossa participação no Centro-Oeste e reforça a nossa expansão nacional, onde no Sudeste o Master tem a maior parte dos clientes dele e, no Nordeste, o Will Bank tem a maior parte dos seus clientes”, acrescentou.
O Will Bank foi criado em 2017 com a promessa de incluir pessoas que estão à margem do sistema financeiro, com produtos como cartão de crédito sem anuidade. A fintech foi comprada pelo Master no começo do ano passado. Na época, tinha 6 milhões de clientes, havia faturado R$ 2,8 bilhões no ano anterior e se tornou sócio do fundo de private equity da XP.
CARTEIRA DE CRÉDITO
Uma mensagem enviada por 2 dos 8 integrantes do Conselho de Administração do BRB a um grupo de servidores indica que o banco decidiu interromper temporariamente a compra de novas carteiras de crédito. Isso teria sido decidido na reunião que aprovou a operação com o Master.
“Nosso voto foi condicionado à interrupção, ainda que temporária, das aquisições de novas carteiras de crédito”, diz a mensagem assinada por Kátia do Carmo Peixoto de Queiroz, indicada pelos Acionistas Minoritários, e Ricardo José Duarte Rodrigues, eleito pelos empregados.
No texto, obtido pela reportagem, os dois conselheiros afirmam que também cobraram “avaliações das possíveis implicações das operações de cessão já realizadas” entre o BRB e o Master, além de reporte mensal ao Conselho de Administração sobre as condições suspensivas.
“Reforçamos nosso compromisso com o fortalecimento e a sustentabilidade do BRB e acompanharemos de perto os desdobramentos da operação. Caso os números sejam desfavoráveis, não concordaremos com a ratificação da transição”, afirmam os dois conselheiros.