O banqueiro André Esteves afirmou neste sábado (12) considerar um horror geopolítico, econômico e moral a política comercial tocada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Eu estou achando um horror esse negócio que está acontecendo aqui nos Estados Unidos, um horror econômico, um horror geopolítico, um horror moral, estou achando um horror”, disse Esteves. O o chairman e sócio sênior do BTG Pactual afirmou em seguida que, apesar de ser crítico à guerra comercial, o Brasil é o menos afetado no jogo.
“Por que ele é menos afetado? Porque a tarifa é um instrumento essencialmente contra produtos industrializados, ou pelo menos ele é muito mais efetivo que produtos industrializados”, disse, depois de explicar que o Brasil é essencialmente um exportador de commodities. Mesmo antes do recuo de Trump e da suspensão por 90 dias das tarifas mais altas, o Brasil já estava no grupo taxado com o índice mínimo, de 10%.
A declaração foi dada em um painel na Brazil Conference, evento organizado por estudantes brasileiros de Boston e MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), em Cambridge (EUA).
Para Esteves, a América Latina de um modo geral pode ser mais poupada dos efeitos nefastos do embate comercial travado pelos EUA.
“Eu sou aqui um grande importador de cobre, eu vou botar aqui 30% tarifa no cobre do Chile. Bom, no dia seguinte você vai comprar o cobre do Chile 30% mais caro, não é só ajustar o preço que não tem outro provedor do cobre do Chile, assim como em geral as commodities funcionam”, disse.
Para ele, a maior prejudicada pela política de Trump pode acabar sendo a Europa, ponderando que a guerra comercial “é uma coisa meio imprevisível”.
“Eu acho que a gente está mais protegido disso, a gente deve usar, pelo contrário, a nossa vocação para o multilateralismo, a nossa boa relação com todas as regiões do mundo, que são privilégios brasileiros, que não nasceu por acaso, nasceu pela nossa índole”, disse.
Para Esteves, o Brasil deve ser responsável por prover 80% do alimento mundial nos próximos 20 anos. “Isso é uma posição geopolítica fantástica. Se a gente não fizer besteira, nem para a esquerda, nem para a direita, andar na rua, a gente pode tirar muita vantagem desse posicionamento.”
No painel, Esteves comentou o modelo em que o BTG opera. Disse que é num modelo de “partnership”, no qual sócios do grupo majoritário também são executivos do banco. De acordo com Esteves, os sócios detém cerca de 70% do banco. Ele lembrou ainda que a instituição abriu o capital em 2012.
Esteves tem participado nas últimas semanas de discussões com o Banco Central e outros grandes bancos privados para debater o futuro do banco Master. Ele não foi questionado sobre o assunto no evento nos Estados Unidos.
Na quinta-feira (10), por exemplo, o banqueiro teve encontro virtual com o presidente do BC, Gabriel Galípolo e com Marcelo Noronha, presidente do Bradesco; Mario Leão, presidente do Santander; e Milton Maluhy, presidente do Itaú Unibanco.
O Master está no centro das atenções do mercado desde o fim de março após ter alcançado um acordo para vender 58% de suas ações totais para o banco estatal BRB. Ativos de maior risco não foram incorporados na transação, e agora outros bancos e o próprio BC discutem o futuro dessa fatia.
O BTG já divulgou três comunicados ao mercado informando que nunca fez proposta pelo banco da Faria Lima.