Ser profissional liberal no Brasil é como andar de jaleco branco em um campo de paintball. Você pode não fazer nada, mas basta estar visível para virar alvo. A exposição vem no pacote. A diferença está entre quem se protege e quem confia apenas na sorte. Como sempre falo, no planejamento financeiro, não basta apenas poupar, também é fundamental proteger.
Você pode seguir o protocolo, atender com ética, entregar excelência. Pode ser respeitado no seu meio, recomendado por clientes, elogiado por pares. E, mesmo assim, um erro de interpretação, um detalhe omitido, um desfecho inesperado pode terminar com seu nome no topo de um processo. No Brasil, não é preciso fazer algo errado para ter que se defender. Basta alguém entender que você deveria ter feito diferente.
A responsabilidade civil funciona como infiltração em parede recém-pintada: ninguém vê até que a mancha apareça — e aí o estrago já está feito. O que parece uma pequena ocorrência pode se transformar numa avalanche de consequências jurídicas, financeiras e emocionais. E essa avalanche não escolhe hora: ela pode chegar em um plantão, durante uma audiência ou no meio de uma entrega comercial.
Para médicos, advogados, empresários e profissionais liberais, o risco não está apenas no erro. Está na percepção do erro. Uma cirurgia com complicação inesperada, um contrato mal interpretado pelo cliente, um acidente dentro do seu comércio, um produto defeituoso entregue sem má intenção, uma falha no clínica de estética ou no cabeleireiro. Todos esses cenários, infelizmente, têm um destino em comum: a possibilidade de uma ação judicial.
E nem sempre ela vem do trabalho. Às vezes, vem de casa. Um filho que quebra o portão do vizinho jogando bola. Um cachorro que escapa e morde alguém na rua. Situações, às vezes, triviais, mas que podem virar uma dor de cabeça jurídica. Porque sim: até como pai de família ou tutor de pet, você pode ser responsabilizado por danos a terceiros. No universo das mídias sociais, muitos estão ainda mais expostos ao ofenderem terceiros com uma simples brincadeira que acreditavam ser inocente.
Segundo o último dado do Conselho Nacional de Justiça, foram abertos mais de 30 milhões de processos em 2023 no país. O número é tão grande que, estatisticamente, parece mais fácil receber uma intimação do que um convite para o casamento de um amigo. E ninguém está imune, nem mesmo quem segue todas as regras.
Por isso, dentro de seu planejamento financeiro, o seguro de responsabilidade civil deveria ser tratado com a mesma naturalidade com que se contrata um plano de saúde ou se instala um alarme no carro. Ele não evita o problema, mas impede que ele vire uma tragédia financeira. Ele cobre não só as indenizações, mas também os custos com defesa jurídica, perícias, acordos e, em muitos casos, ajuda a preservar a imagem pública do profissional.
Muitos acreditam que, por terem ética e zelo, estão seguros. É um erro comum. Porque o seguro de responsabilidade civil não é uma confissão de culpa. É, na verdade, um reconhecimento de realidade: você pode fazer tudo certo e, ainda assim, ser responsabilizado.
E o mais curioso é que, em boa parte dos casos, o custo desse seguro é extremamente baixo. Por exemplo, uma apólice anual para um médico-cirurgião que cobre um montante de indenização de R$ 1 milhão pode custar o equivalente a dois de cafés expresso por dia. E, em troca, você garante a tranquilidade de continuar atuando com segurança, ou apenas vivendo em paz com sua família.
Você passou anos construindo uma carreira. Montou seu empreendimento, formou equipe, ergueu um nome. E também ergueu uma vida. Deixar tudo isso vulnerável por não contratar uma proteção acessível e eficaz é como trafegar de olhos fechados porque confia na sua direção. O mundo não é feito só de motoristas cuidadosos. E a vida, profissional ou pessoal, também não é feita só de imprevistos inofensivos.
No fim das contas, o que está em jogo não é só dinheiro. É o seu direito de seguir fazendo o que ama, vivendo com tranquilidade, com liberdade e confiança. E essa proteção, convenhamos, vale muito mais do que custa.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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