/ Apr 16, 2025

Fazendas solares de mentirinha e de verdade – 15/04/2025 – Jerson Kelman

Fazenda solar é o nome pitoresco que se dá a uma instalação de placas fotovoltaicas que vende eletricidade com desconto para um conjunto de consumidores supostamente “associados” ao empreendimento. São pessoas físicas ou jurídicas conectadas à rede de baixa tensão que podem estar longe da “fazenda”, desde que na mesma área de distribuição de energia elétrica.

O lucro do “fazendeiro” costuma ser exorbitante, mesmo dando desconto para seus “associados”, porque o esquema se beneficia de subsídios originalmente concebidos para estimular a instalação de placas fotovoltaicas nos telhados, para consumo local. Aliás, subsídios que há muito deixaram de ser necessários e que encarecem injustamente as contas de luz dos consumidores sem placas.

Graças a esses subsídios, mantidos por uma legislação equivocada, o crescimento de “fazendas solares” tem sido exponencial. Resultado: quando o sol brilha, as usinas conectadas à alta-tensão, inclusive as solares, são obrigadas a “jogar fora” energia, porque o consumo é prioritariamente atendido pelas “fazendas”. Duas das principais discussões do setor elétrico atualmente são como evitar esse desperdício (chamado de “curtailment” energético) e definir quem deve arcar com o correspondente custo.

A meu ver, as “fazendas solares” deveriam ser chamadas para dar uma contribuição para a mitigação do problema.

Diferentemente das fazendas solares de mentirinha, nas verdadeiras —as agrivoltaicas— os produtos agrícolas e a energia elétrica são gerados numa mesma área, por meio do compartilhamento da luz solar entre os dois sistemas de conversão de energia, o fotovoltaico e o fotossintético. Módulos solares são instalados a certa altura do chão, apoiados em treliças, para permitir o uso de maquinário agrícola por baixo. Os painéis podem ter orientação ajustável para otimizar tanto a produção de energia quanto a agrícola.

A instalação agrivoltaica cria um microclima favorável para algumas culturas, reduzindo o estresse térmico e hídrico, especialmente em regiões com altas temperaturas e escassez de água. A sombra parcial proporcionada pelos painéis atenua a evapotranspiração, reduzindo o consumo de água na irrigação.

A presença de vegetação por baixo dos painéis causa resfriamento, aumentando a eficiência na conversão de energia, pois os painéis solares funcionam melhor em temperaturas mais baixas. A energia gerada nos painéis diminui a quantidade de energia elétrica consumida da rede e, em alguns casos onde a rede não chega, pode viabilizar a própria irrigação, por gotejamento ou microaspersão. Inclusive usando a estrutura que sustenta os painéis para suportar as tubulações.

Apesar desses benefícios potenciais, a solução agrivoltaica ainda enfrenta desafios e limitações. Primeiro, nem todas as plantas se adaptam à sombra parcial criada pelos painéis. É o caso, por exemplo, do trigo e do milho. Segundo, o custo de instalação é maior que o de sistemas fotovoltaicos convencionais, devido à necessidade de estruturas elevadas. Terceiro, a gestão da terra e a manutenção de sistemas duais são complexas, exigindo conhecimento especializado.

São desafios a serem enfrentados. Poucos países têm recursos naturais para produzir energia e alimentos como o Brasil.


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