Euchério Lerner Rodrigues, diretor de investimentos do Rioprevidência, o bilionário fundo de pensão dos servidores fluminenses, deixou o cargo há pouco mais de um mês em meio a uma auditoria do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio de Janeiro após o fundo ter sacado aplicações em grandes bancos e concentrado em letras financeiras emitidas pelo Banco Master.
Em nota ao Painel S.A., o Rioprevidência disse que o ex-diretor saiu do fundo por entender que “cumpriu sua missão”.
Em depoimento neste mês ao TCE, Rodrigues disse ter optado pelos papéis do Master porque estes ofereciam 130% da rentabilidade dos títulos públicos de prazo equivalente, algo que nenhuma outra grande instituição ofereceu.
Informou ainda que o Banco Master tem uma carteira de crédito consignado junto ao Rioprevidência e que, se o banco quebrar, o fundo conseguiria recuperar com a receita dessa carteira as perdas com o investimento nas letras financeiras em 23 meses. As letras financeiras não têm cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Crédito).
Com R$ 13 bilhões de aposentados e futuros pensionistas sob gestão, o Rioprevidência investiu em letras financeiras do Master desde novembro de 2023, um mês após a entrada de Euchério Rodrigues na instituição.
Atualmente, o Rioprevidência tem R$ 970 milhões investidos em títulos do banco, que representam pouco mais de 7% do total de aplicações do fundo. Para o Master, essa aplicação representou 42% de todas as emissões de letras financeiras de 2024.
O banco hoje enfrenta uma crise de liquidez para o pagamento de títulos de curto prazo e negociou a venda de 49% das ações com voto (e 58% do capital total) para levantar R$ 2 bilhões com o BRB (Banco de Brasília).
Alerta do TCU
Rodrigues foi o responsável pela decisão de se desfazer das aplicações em outros bancos para alocar parte do dinheiro no Master.
Em outubro de 2024, uma representação da Secretaria-Geral de Controle Externo questionou o diretor sobre essas operações, na esteira de uma outra auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) na Caixa Asset em uma tentativa de compra de títulos do Master no valor de R$ 500 milhões.
Além de questões relacionadas aos termos da aplicação, o TCE-RJ identificou uma possível irregularidade porque, supostamente, o Master não estaria habilitado para receber recursos previdenciários do fundo de pensão naquele momento.
Em berço esplêndido
Em 9 de abril deste ano, pouco após deixar o cargo, Rodrigues prestou depoimento aos conselheiros do TCE e defendeu sua estratégia de investimento junto ao banco de Daniel Vorcaro.
O ex-diretor criticou as taxas de administração cobradas por grandes bancos para investimentos em seus fundos sem que o Rioprevidência obtivesse, em contrapartida, rendimentos interessantes.
“As aplicações rendiam abaixo, em geral, ou pari passu com as metas atuariais. Algumas aplicações perdiam horrorosamente dos índices atuariais”, disse na audiência.
Segundo ele, os investimentos do Master rendiam 170% da meta atuarial do fundo. “Ou seja, nós estamos superando as metas atuariais do fundo, muitas delas por causa dos investimentos no banco Master”, afirmou.
“As instituições financeiras que estavam trabalhando com o Rioprevidência estavam confortavelmente deitadas em berço esplêndido, ganhando vultosas taxas de administração e nos oferecendo investimentos de rentabilidade pífios. Sobretudo o investimento de risco em renda variável do BTG”, disse.
Ele defendeu a chegada de novos bancos no mercado, como o Master, o Daycoval, o C6 e o Inter, que emitem letras financeiras e estimularam a concorrência, melhorando o poder de barganha do Rioprevidência.
Consultado, Euchério Rodrigues reafirmou seu depoimento ao TCE-RJ e disse que sua saída do Rioprevidência foi motivada pelo decreto do governador Cláudio Castro, que retirou os recursos dos royalties de petróleo da gestão do fundo para passar para a administração do Tesouro estadual. Segundo ele, a partir daí, sua missão estava cumprida, porque ele já fez as alocações necessárias dos recursos de aposentadoria.
Com Stéfanie Rigamonti
