Tem gente que trata a carteira de investimentos como um álbum de figurinhas da Copa. Não pode ouvir falar de um ativo novo que já vem perguntar: “Tá faltando isso na minha carteira?” Como se existisse uma lista oficial, um checklist universal que todo investidor “de respeito” precisasse seguir à risca para ser considerado completo.
Recebo com frequência pedidos assim: “Estou pensando em adicionar cripto, pois ainda não tenho” , “Minha carteira ainda não tem internacional”, “Não tem Tesouro direto” ou “Está faltando a parcela de renda em ações de dividendos e fundos imobiliários.” A impressão que dá é que não ter determinada classe de ativos é uma falha, independentemente do objetivo, do perfil ou do momento de vida de quem investe. Como se o foco estivesse em completar a coleção, não em construir um caminho eficiente.
Mas investir não é colecionar figurinhas. Ter todas as classes de ativos não garante uma boa carteira, assim como ter todas as figurinhas não te faz entender de futebol. O que define uma carteira bem montada é o quanto ela te aproxima dos seus objetivos, com o risco adequado. E isso muda de pessoa para pessoa. Uma carteira enxuta pode ser mais eficiente do que uma repleta de ativos escolhidos apenas para “não faltar nada”.
Essa lógica de preencher espaços em branco também contamina outras decisões. Tem quem ache que um ativo precisa ser trocado só porque está há muito tempo na carteira. Quase como se fosse uma figurinha repetida ou como se tivesse prazo de validade. Mesmo sem mudanças relevantes no cenário ou na tese, o investidor se inquieta. É o efeito da prateleira: se não for novidade, parece que perdeu valor.
Outro exemplo é a obsessão por simetria. Ações e fundos imobiliários precisam ter pesos parecidos. Prefixados e IPCA+ também. Como se coerência estratégica pudesse ser medida em estética de planilha. Esquecem que uma carteira bem feita é justamente aquela que desequilibra a favor daquilo que faz mais sentido.
O mercado adora vender ideias prontas, e o investidor acaba buscando montar a carteira perfeita como quem preenche uma ficha cadastral: um pouco de tudo para não parecer incompleto. Só que ninguém te conta que esse “tudo” pode te afastar do que realmente importa.
A questão não é o que está faltando na sua carteira, mas o que está sobrando. Antes de sair comprando um ativo novo, pergunte-se: isso melhora sua estratégia, ou apenas preenche um espaço vazio no seu álbum imaginário?
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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