Há três anos, depois que a pandemia expôs a vulnerabilidade do mundo às interrupções na cadeia de suprimentos, o governo dos Estados Unidos caracterizou uma grande parte da tabela periódica de elementos —50 minerais no total— como “críticos”.
Os EUA obtêm mais da metade deles, incluindo uma categoria de 17 minerais conhecidos como de “terras raras”, principalmente da China. Esta semana, a China endureceu suas restrições de exportação para seis metais de terras raras, praticamente interrompendo o acesso dos EUA a novos suprimentos.
Aqui está uma análise de quão dependentes os EUA são da China para uma ampla gama desses minerais críticos e de terras raras.
A China não apenas explora a maior parte das terras raras do mundo, mas também abriga a maior parte da capacidade mundial de refiná-las. O refino refere-se ao processo de pegar os minerais brutos e transformá-los em compostos que têm amplas aplicações industriais, seja em baterias, semicondutores, fibra óptica ou até mesmo nos ímãs que permitem a direção assistida na maioria dos veículos.
Muitas terras raras têm propriedades químicas que as tornam resistentes ao calor, podendo ser usadas para criar ímãs, vidros, luzes e baterias de alta qualidade. Ímãs feitos de metais de terras raras são significativamente mais potentes e valiosos do que outros tipos, particularmente na produção de carros elétricos.
A China produz 90% dos ímãs de terras raras. As novas restrições de exportação também se aplicam a eles.
Em outras palavras, grande parte da tecnologia moderna da qual dependemos para comunicações, produção de energia e até mesmo guerra depende da extração e processamento desses minerais pela China.
De acordo com o Departamento de Defesa, cada caça F-35 contém cerca de 400 quilos de materiais de terras raras. Alguns submarinos precisam de mais de quatro toneladas desses materiais. Espera-se que a demanda por minerais críticos dispare nos próximos anos, impulsionada pelo crescimento de veículos elétricos e pela expansão de centros de dados para inteligência artificial.
Por mais de uma década, a China tem usado seu controle sobre o fornecimento de minerais para exercer pressão geopolítica. Em 2010, o país restringiu as exportações de minerais de terras raras para o Japão durante tensões sobre uma disputa de fronteira marítima. Essa proibição durou sete semanas.
Antes deste mês, a China já havia restringido o acesso dos EUA a quatro minerais críticos —gálio, germânio, antimônio e grafite— em retaliação a rodadas anteriores de tarifas dos EUA sobre produtos chineses. Esses minerais são usados na fabricação de chips e têm aplicações em semicondutores, explosivos militares e outros armamentos.
Nos últimos anos, empresas estatais chinesas assumiram todas as refinarias de terras raras de propriedade estrangeira no país. Pequim também rotulou suas técnicas de mineração e refino de terras raras como segredos de Estado, consolidando ainda mais o controle sobre a produção e exportação.
Diferentemente dos EUA, dezenas de universidades na China oferecem programas estruturados em torno da mineração e refino dessas terras. A China desenvolveu tecnologias que permitem às empresas chinesas explorarem terras raras a um custo significativamente menor do que em qualquer outro lugar do mundo.
Os desenvolvimentos que vimos ocorrer em 2025 adicionam mais ímpeto ao desejo dos EUA de diversificar suas cadeias de suprimentos para longe da China, mas isso não pode ser feito da noite para o dia
Alguns minerais críticos, como níquel e lítio, são muito mais abundantes do que os de terras raras, e empresas de mineração americanas têm se dedicado há anos à extração deles domesticamente e em todo o mundo, embora em uma fração da escala das empresas chinesas.
Os metais de terras raras, por outro lado, têm cadeias de suprimentos mais estreitas e geralmente são mais difíceis de explorar, exigindo processos mais complicados para separá-los de outros minerais.
Os EUA têm apenas uma mina de terras raras operacional, em Mountain Pass, na Califórnia, que produz cerca de 15% dos minerais de terras raras do mundo todo. Trump emitiu um decreto no mês passado buscando apoiar a produção doméstica de minerais, acelerando a concessão de licenças e fornecendo financiamento para novos projetos.
Mas os EUA não possuem reservas domésticas de muitos minerais críticos, por isso precisarão de novos parceiros comerciais se desejarem reduzir sua dependência da China. Desde que assumiu o cargo, Trump tem buscado aumentar o acesso americano a certos minerais críticos e de terras raras por meio de acordos com a Ucrânia e o Congo, e há depósitos no Canadá e na Groenlândia, que Trump já cogitou anexar.
Algumas empresas americanas têm estocado esses minerais de terras raras há anos em antecipação a uma guerra comercial. Mas os tamanhos de seus estoques de emergência variam amplamente, tornando difícil prever o momento das interrupções na produção.