A insistência do ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) de levar adiante a proposta para isentar a conta de luz para até 60 milhões de brasileiros rompeu de vez a relação com o ministro Fernando Haddad (Fazenda). O clima azedou ao longo dos últimos dias.
Silveira falou, durante evento no Rio de Janeiro, que a nova proposta visava isentar do pagamento todas as unidades com consumo de até 80 kilowatts-hora (kWh) por mês, e que o projeto seria enviado à Casa Civil. Haddad retrucou no mesmo dia e negou que a proposta estivesse em estudo na Fazenda ou na Casa Civil.
O disse -me -disse ganhou um novo episódio nesta semana porque Silveira chamou um grupo de jornalistas para uma entrevista na qual firmou posição em relação à proposta. Segundo ele, a ideia teria aval do presidente Lula.
Silveira desautorizou publicamente o ministro da Fazenda e ainda por cima disse que lutava para obter outros recursos para a ideia, inclusive do Orçamento.
O ministro acena com uma medida que pode ter impacto no Orçamento, como foi o projeto de ampliação do vale gás (ainda não totalmente resolvido financeiramente), trava uma disputa pública com o chefe da área econômica e o presidente assiste à distância, sem ao menos arbitrar qual dos seus dois ministros está certo.
Quando Silveira diz que precisará de recursos do Orçamento, está evidente que a ideia de revisão de outros subsídios pagos pelos consumidores na conta de luz para bancar a isenção, que ele diz que fará, não será fácil de conseguir no Congresso.
Silveira atropela Haddad e dobra a aposta numa semana que reportagem da Folha mostrou que presidente do Senado, Davi Alcolumbre, fez duras críticas a ele. De acordo com relatos dos participantes, Alcolumbre insinuou que há suspeitas de corrupção envolvendo Silveira, sem citar especificamente quais seriam.
Se o presidente do Senado conta com informações desse tipo contra o ministro, tem a a obrigação de denunciar em público. Não pode se calar e Lula fingir que não tem nada a ver com isso.