Denilson Lima inspirou-se na avó, que fazia bolos para vender na vizinhança, e se tornou um dos mais celebrados confeiteiros da alta sociedade. Nesta Páscoa, o chef viralizou desenvolvendo a versão em chocolate e açúcar das joias dos czares russos, os famosos ovos Fabergé. Em edição super limitada, eles custam entre R$ 4 mil e R$ 15 mil, quantia suficiente para comprar uma bolsa NeoNóe, Pachete ou Alma BB da Louis Vuitton. O chef afirma que teve fila de espera, mas não revela quanto vendeu.
É a primeira vez que você faz um ovo Fabergé de Páscoa?
Já tem dois anos que eu faço, mas, neste ano, eu resolvi inovar e deixá-los realmente com cara de joia. Eu nunca tinha visto um ovo de Páscoa Fabergé tão parecido com uma joia como eu fiz agora.
A alta do preço do chocolate pesa no preço?
Eu não precifico pelo preço do chocolate. Eu cobro pela arte, pela experiência. Sendo bem sincero, pela matéria-prima, eu não gasto tudo isso.
Quanto tempo leva para fazer um ovo de Páscoa Fabergé?
O maior [de 8 kg] eu levo de três a quatro dias para finalizar. Isso, evidentemente, depende da complexidade. Os últimos, fizemos em oito dias.
Então você também cobra pelo seu tempo?
Sim, e quando quero uma obra que seja para deixar em destaque, dependendo do trabalho, eu faço sozinho. Também preparo os primeiros modelos para, depois, a minha equipe [de 22 funcionários] me ajudar a reproduzi-los.
Há público suficiente para consumir esses produtos?
Sim, até porque não é todo cliente que compra esse de R$ 15 mil. A quantidade que sai do ovo maior é no máximo sete. Se saísse mais, não daríamos conta. Temos os de 1 kg que custam R$ 4,2 mil.
Mesmo assim, é caro!
Sim, e vendemos bastante. Até impressionou. É que eu ganhei mais visibilidade neste ano, porque mudei de ateliê, fui para [o bairro paulistano de] Pinheiros. Antes, meu negócio era muito com cara de casa e, agora, me profissionalizei.
Vendeu quantos ovos neste ano?
Ainda não fechamos esse número.
Qual o seu faturamento anual?
Antes eu costumava abrir o faturamento, mas prefiro não abrir mais.
Como é trabalhar para um público tão seleto?
Acho legal, porque valoriza a confeitaria. Muitos confeiteiros na internet comentaram que achavam um absurdo eu cobrar isso em um ovo de Páscoa. Mas a confeitaria é tão desvalorizada que cobrar esse valor ajuda a mostrar que não é só uma bolsa de grife que pode ser cara. O nosso trabalho é tão bom quanto.
Muitos confeiteiros na internet mostraram que dá para fazer ovos Fabergé cobrando bem menos. Isso incomoda?
Eles estão aproveitando o hype [euforia] para fazer publicidade. Mas não me incomoda. Na verdade, é triste, porque os confeiteiros estão desvalorizando seu próprio trabalho com essa atitude.
Sua fama chegou via influenciadores, mas qual é o perfil de seus clientes?
A maioria dos influenciadores não compra. Gosta de mostrar. Então, eu forneço como um meio de fazer marketing. Mas quem realmente compra são pessoas muito ricas, que não gostam de aparecer e que querem viver uma experiência.
Há políticos?
Bastante! Só que eles não entram em contato diretamente, só por meio de assessores. Depois eu descubro que um certo bolo foi encomendado para um político ou um famoso, porque eles me encontram em eventos e vêm falar comigo.
A Páscoa é o carro-chefe das suas vendas?
Antes era o Natal, mas, neste ano, a Páscoa rendeu mais. Comecei desmotivado, porque já tenho demanda grande de bolos. Mas, faltando uns 25 dias para a data, tive a ideia desses ovos, e rendeu. Nunca imaginei que venderia tanto, por ser um produto tão caro. Fiz os ovos Fabergé em uma quantidade menor, para serem exclusivos. Vendi tudo e recebi muito mais pedidos. Teve fila de espera.
RAIO-X
Denilson Lima, 27
Interessado pela gastronomia ainda criança, inspirado na avó que vendia bolos, começou a carreira aos 17, em São Luís (MA), onde iniciou os estudos em gastronomia. Mas ao notar que o mercado da confeitaria ainda era tímido por lá, mudou-se para São Paulo com 19 anos, onde despontou na confeitaria de luxo.