/ Apr 20, 2025

Tarifas de Trump atingem o topo da pirâmide – 20/04/2025 – Marcos de Vasconcellos

Quando Donald Trump decidiu incendiar sua guerra comercial contra a China, a promessa era a de sempre: “Trazer os empregos de volta para casa”. Como todo populista, suas juras são logo soterradas pela realidade.

A imposição das tarifas desta magnitude não reverte cadeias produtivas. Fábricas não saem de impressoras 3D. A fala do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Jerome Powell, na última semana deixou claro o que bons economistas alertaram: Trump está gerando inflação, dificultando o corte de juros, esfriando a economia, levando a menos empregos.

A confiança dos trabalhadores americanos está nos menores níveis desde a pandemia. As menções a “layoffs” (demissões em massa) em sites especializados disparam. E economistas de bancos como JPMorgan e Goldman Sachs já veem a recessão como mais provável do que improvável, como registrou o site MarketWatch.

Logo, Trump buscará novos bodes expiatórios, inimigos que justifiquem o resultado de seus cálculos sem base. Se duvidar, vai sobrar para Elon Musk, o “Posto Ipiranga” do governo americano.

Musk está sentindo os efeitos da guerra comercial na sua fábrica de carros, a Tesla. Suas ações já acumulam quedas de 36% neste ano, mostrando que investidores não veem mais espaço para crescimento como antes das famigeradas tarifas.

O público-alvo da Tesla é composto por homens brancos de classe média alta. Pesquisa da Hedges & Company com mais de 175 milhões de clientes da montadora mostra que eles ganham, em média, mais do que o dobro da receita média da população. Ou seja, o enlouquecido pôquer entre EUA e China está atingindo o topo da pirâmide.

O setor de luxo já acusou o golpe. Nos últimos dias, viralizaram nas redes sociais alguns vídeos e relatos de fornecedores chineses botando lenha na fogueira. Eles mostram produtos muito semelhantes a bolsas e calças de marcas caríssimas e as oferecem por preços irrisórios. Eles relatam que todas são produzidas na Ásia e enviadas para Europa e América apenas para receberem pequenos detalhes, etiquetas de marcas e sobrepreço.

Sobrou acusação dessa espécie de “lavagem de etiqueta” até para a bolsa Birkin, da Hermès, símbolo do luxo e ostentação, já fotografada nas mãos da primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump. A empresa nega a prática.

O caso ilustra uma regra simples do capitalismo: o mundo seguirá consumindo e buscando preços mais baixos. Se os EUA dificultam o acesso aos produtos, o resto do planeta encontra formas de comprar direto da fonte.

O topo da pirâmide, que costumava passar ileso pelas crises, parece, ironicamente, ter sido o primeiro a sentir o baque dessa nova ordem. Um paradoxo interessante: o plano de “America First” pode acabar sendo o primeiro a desandar justamente no território onde os ricos costumam ter proteção garantida.

Lá em novembro do ano passado, registrei nesta coluna quando o “sapateiro das estrelas” deu pistas sobre o futuro das fábricas: migrar para mercados emergentes fora da China, antes que Trump promovesse barreiras comerciais. Agora, são as bolsas —e não só as de valores— que estão dando o recado sobre os resultados da nova economia.


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