/ Apr 23, 2025

BRB não deveria comprar o banco Master – 22/04/2025 – Bernardo Guimarães

Quem lê as notícias deve achar que há algo de estranho na compra do banco Master pelo BRB, um banco estatal. A suspeita está correta, e o assunto é interessante e importante.

O sistema financeiro tem particularidades. Uma é que a quebra de um banco pode ter impactos negativos em todo o sistema. Em outros setores, isso é diferente: se uma cadeia de supermercados fecha suas lojas, os concorrentes se beneficiam.

Bancos, porém, emprestam dinheiro uns aos outros. Um banco que quebra deixa de pagar suas dívidas com outras instituições financeiras. Isso pode desencadear um efeito dominó que resulte na quebra de outros bancos, afetando o crédito para as empresas e a economia como um todo.

Assim, é importante evitar que um banco quebre.

Isso leva a uma segunda característica das instituições financeiras. Sabendo que serão socorridos em caso de problema, na ausência de regulação, bancos têm incentivos para correr mais riscos do que gostaríamos: se der certo, o banqueiro fica rico; se der errado, a sociedade paga a conta. Por causa disso, bancos precisam ser –e são– regulados.

Parte importante do mecanismo de disciplinar os bancos é que, se a sociedade precisa pagar parte da conta, os acionistas devem sair sem nada. Ninguém vai perder a casa porque é acionista de uma empresa que quebrou, mas a ação nesse caso tem que valer zero.

Uma terceira particularidade é que, em geral, bancos investem em ativos de longo prazo, mas suas dívidas têm prazos mais curtos. Portanto, bancos precisam ficar rolando suas dívidas. Assim, se todos acham que um banco vai quebrar, o banco não consegue rolar suas dívidas, e quebra. Expectativas negativas podem gerar resultados negativos.

Nós temos instituições para lidar com essas questões, e elas têm funcionado bem.

Um dos mecanismos para lidar com esse problema é o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que funciona como um seguro para os depositantes que investem até R$ 250 mil em um banco. A ideia é que boatos sobre a saúde financeira de um banco poderiam gerar expectativas negativas e desencadear uma corrida bancária. Sabendo que seus depósitos estão garantidos, investidores não entram nessa corrida.

O FGC é um importante mecanismo de estabilidade do sistema financeiro. Contudo, sabendo que seus investimentos estão garantidos, pessoas têm incentivos para comprar títulos de bancos arriscados, como o Master, que pagam juros muito altos.

Quando um banco fica perto de quebrar, cabe ao Banco Central liquidá-lo –e é difícil encontrar a hora certa de chegar a esse desfecho. Aí, os acionistas são os últimos da fila a receber dinheiro e tipicamente saem sem nada. Os ativos do banco são vendidos para pagar o que for possível, o FGC socorre os “pequenos” investidores, grandes credores em geral perdem e nada sobra para os acionistas.

Esse procedimento endereça as três particularidades descritas acima: gera estabilidade no sistema sem criar incentivos demais para riscos demasiados.

A mesma lógica implica que, mesmo sem considerar corrupção, não faz sentido um banco estatal comprar a parte boa de um banco que está mal e deixar a conta da parte ruim para a sociedade ou para o sistema financeiro. Se há intervenção, o acionista precisa sair sem dinheiro.


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