Neymar, o filho, sejamos justos, no período em que vestiu a camisa do Santos, foi protagonista, em parceria com Paulo Henrique Ganso, do tricampeonato santista na Libertadores, em 2011.
Na escandalosa transação que o levou ao Barcelona, conscientemente, virou coadjuvante de Lionel Messi.
Cansou-se do papel secundário, mesmo que brilhante, e buscou em Paris, no PSG, o de ator principal.
Deu azar.
Surgia um fenômeno chamado Mbappé, que lhe roubaria a iluminação da Cidade Luz.
Para piorar, chegou depois o argentino que o obnubilava na Catalunha.
Daí para aplicar o golpe do baú na Arábia Saudita bastaram alguns escândalos vividos na França e pronto: ser o número 1 em futebol desimportante no Planeta Bola era o de menos, até porque Cristiano Ronaldo já estava por lá e a concorrência era desleal.
Ganhar cerca de um milhão de reais por dia no Al-Hilal estava mais que bom, ainda mais se pintasse, como pintou, nova lesão para afastá-lo dos gramados e mantê-lo nas baladas.
Voltar ao Santos passou a ser o próximo objetivo, como canto do cisne.
Dom Sebastião voltou à Vila Belmiro e o céu o recepcionou com majestosa tempestade.
Poucos entenderam o alerta celestial em paradoxo infernal.
Jogar futebol como esperavam os órfãos dele, já viúvos do Rei Pelé, está sendo esperança frustrada, beira o desejo em desespero.
O que o podcast do UOL Prime, no ar desde a última terça-feira (22), revela é que toda a trajetória de Neymar Júnior pouco teve a ver com decisões dele, mas com as de Neymar pai, o protagonista da série em seis capítulos, um por semana, trabalho fruto de excepcional reportagem do jornalista Pedro Lopes, que conta com a secundária coapresentação deste colunista.
De fato, Neymar pai é personagem que sai da sombra para se transformar, sem nenhum preparo prévio, em empresário implacável, muito bem-sucedido, disposto a fazer fortuna e realizar por meio do filho o sonho aparentemente impossível, pouco importam os meios, de também chegar ao topo.
Fartamente documentado por emails e entrevistas que afastam dúvidas, o podcast resulta na comprovação de que Neymar sênior mandou no presidente da CBF durante três Copas do Mundo, as de 2014, 18 e 22, independentemente do desempenho do jogador, ao submeter treinadores, como Felipão e Tite, a sua vontade até nos compromissos extracampo, como decidir sobre entrevistas, aparições públicas etc.
A decantada “Neymardependência” ia muito além dos aspectos técnicos, para se impor nas mínimas coisas do dia a dia, com todos os privilégios daí decorrentes.
Fica claro por que Edu Gaspar, então coordenador da seleção, também submisso aos desígnios da família, desabafou certa vez: “Não é fácil ser Neymar”.
Tão difícil a ponto de ter encarnado como ninguém a síndrome de Peter Pan, ficado trilhardário sem jamais atingir tanto o objetivo de ser o melhor do mundo quanto o de ganhar a Copa.
Sempre haverá quem, por ganância extrema, entre o dinheiro e o respeito geral da sociedade saudável, fará a escolha preferencial pela riqueza.
O que fez de Francisco papa raro e admirável, de Neymar pai um vencedor predador e do filho rico menino pobre.
A excelente, minuciosa e perfeccionista equipe do UOL Prime está de parabéns.