As conversas entre as principais instituições financeiras do país sobre o futuro do Banco Master têm sido permeadas pela divergência a respeito de qual deve ser a solução para o caso.
O impasse gira em torno da possibilidade de uma liquidação privada (vender e renegociar ativos e passivos) como alternativa a uma solução mais extrema, que envolva uma eventual intervenção pelo Banco Central no banco de Daniel Vorcaro.
Ao longo dos últimos 15 dias, a reportagem da Folha ouviu pessoas envolvidas nas discussões em diferentes posições, que apontam que o comando do Itaú Unibanco tem restrições a uma saída para o chamado “bad bank” (banco ruim) do Master que envolva o uso de recursos do FGC (Fundo Garantidor de Crédito).
O FGC protege contra a falência de instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central a funcionar no Brasil, garantindo depósitos e aplicações até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ. O fundo tem os grandes bancos privados como os maiores contribuintes.
O “bad bank” é como vem sendo chamada a fatia do Master com ativos de menor qualidade e que não seria absorvida na aquisição pelo BRB (Banco de Brasília).
De acordo com esses interlocutores, o Itaú Unibanco é o mais resistente ao salvamento do “bad bank” com dinheiro do FGC. O comando da instituição quer, em vez disso, que seja enviada uma mensagem clara ao mercado sobre os riscos de modelos de negócio que têm base em ativos frágeis e de difícil realização.
Nas discussões, uma das razões apontadas é de cunho moral e conceitual. O Itaú prega a necessidade de uma solução pedagógica aos banqueiros que querem se aproveitar do sistema via FGC. Isso também é levado em conta quando se analisa a viabilidade de uma operação com assistência do fundo.
O Master estruturou grande parte de seu portfólio com precatórios (títulos de ações judiciais) de liquidez limitada e de execução incerta, que hoje podem não ser suficientes para cobrir obrigações como os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) emitidos.
A instituição captou volumes relevantes via CDBs, atraindo investidores com taxas de remuneração acima da média. Muitas vezes, esses papéis eram os que ofereciam o melhor retorno no mercado.
Bradesco e Santander também avaliam o impacto e as consequências de usar recursos do FGC na liquidação privada. Há uma preocupação com os efeitos sistêmicos que uma liquidação abrupta poderia desencadear. Por isso, a saída privada, em vez de uma executada pelo BC, é vista como menos “traumática”.
O BTG Pactual tem se mostrado um dos principais candidatos a administrar uma liquidação privada do Master. O banco está interessado em exercer o papel de liquidante, que é a instituição contratada para vender os ativos e também renegociar os passivos. Essa solução depende de Vorcaro apresentar uma proposta ao BC.
Como mostrou a Folha, Vorcaro ainda busca investidores para ficar com uma fatia do Master, mas já não descarta a liquidação privada como saída para o impasse.
Já numa eventual liquidação extrajudicial do Master pelo BC, o funcionamento do banco é interrompido em casos de insolvência e infração grave às regras bancárias. O FGC, nesse caso, teria que bancar os passivos que contam com garantia do fundo, como os CDBs.
Como no caso do Master os passivos dos CDBs somam cerca de 50% do patrimônio do FGC, as instituições financeiras recompor o patrimônio do fundo, o que acabaria impactando os grandes bancos.
A divergência ocorre longe dos holofotes, mas tem mobilizado sucessivas reuniões entre as instituições e representantes do Banco Central —inclusive o presidente, Gabriel Galípolo.
O chefe da autoridade monetária recebeu o próprio dono do Master, Daniel Vorcaro, neste mês na sede do BC. O dono do Master também participou de conversas técnicas com os diretores do BC Ailton de Aquino Santos (Fiscalização) e Renato Dias de Brito Gomes (Organização do Sistema Financeiro e Resolução), além do procurador-geral Cristiano de Oliveira Lopes Cozer.
Na véspera, Galípolo teve encontro virtual com Marcelo Noronha, presidente do Bradesco; Mario Leão, presidente do Santander; Milton Maluhy, presidente do Itaú-Unibanco; e André Esteves, sócio do BTG Pactual.
Procurados, Master, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e BTG não comentaram.