A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que a conclusão da ligação rodoviária entre o Brasil e Chile, projeto que passou a ser chamado de “Corredor Bioceânico”, terá impacto direto na redução de preços dos alimentos mais comercializados entre os dois países. O Brasil é grande exportador de carne bovina para os chilenos, enquanto o vizinho latino vende boa parte dos pescados importados pelo Brasil.
A nova rota rodoviária será viabilizada a partir de uma série de estradas que já existem, além de trechos que passam por obras de melhorias e pequenos traçados em fase de pavimentação. O projeto foi tema do Fórum Empresarial Brasil-Chile, realizado na sede da CNI (Confederação Nacional da Indústria), em Brasília, com a presença do presidente do Chile, Gabriel Boric, e o ministro da Economia do Chile, Nicolas Grau, além de Simone Tebet e empresários de setores produtivos dos dois países.
Boric faz visita oficial ao Brasil nesta semana e cumpre agendas em Brasília com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O traçado sai do Brasil, atravessando o Paraguai e a Argentina, até chegar ao Chile. Uma ponte, que conectará Porto Murtinho (MS), no Brasil, a Carmelo Peralta, no Paraguai, é a principal obra do projeto, e está sendo realizada pela Itaipu Binacional, em acordo com o Paraguai.
A travessia está em fase de construção e, segundo Tebet, será concluída em maio de 2026. Outros 200 km de pavimentação estão em andamento no território paraguaio e deverão estar asfaltados até dezembro do ano que vem, embora a pavimentação tenha previsão de ser concluída antes disso.
Com esses dois empreendimentos, o corredor rodoviário estará viabilizado, segundo Simone Tebet, interligando os portos brasileiros do Sudeste e Sul do Brasil, no Atlântico, até os portos do Chile, no Pacífico.
A extensão total entre Campo Grande (MS) e os portos de Antofagasta e Iquique, no Chile, por exemplo, é de aproximadamente 2.400 km. Hoje, caminhões com carnes e grãos que saem de Mato Grosso do Sul precisam descer até o Rio Grande do Sul para, a partir de lá, seguir até o Chile, num percurso muito maior.
“Essa redução de viagem deve resultar em uma queda de 24% no preço da carne para o consumidor chileno. Nós também seremos beneficiados, porque o salmão, por exemplo, também terá que reduzir seu preço. Tenho certeza de que as compras de pescado do Chile ficarão mais baratas”, disse Simone Tebet.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, celebrou o acordo, que é prometido há décadas, e disse que o turismo também deve se beneficiar. “Esse corredor é uma das melhores experiências e exemplos de ações colocadas em prática, não é só retórica”, comentou. “Vamos interligar o pantanal e o deserto do Atacama, dois sistemas únicos no mundo. Isso não é só comércio, isso também é turismo. Vai ser uma via não só de transporte, mas de encontro dos povos”, comentou.
O Brasil exportou um total de US$ 6,657 bilhões para o Chile em 2024, enquanto importou US$ 4,952 bilhões do país vizinho. O saldo positivo da balança comercial, portanto, foi de US$ 1,705 bilhão, enquanto o fluxo total de negócios somou US$ 11,601 bilhões, conforme dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio).
O produto brasileiro mais comprado pelos chilenos é o petróleo, com 29% de participação nas vendas totais. Em seguida aparecem as vendas de carnes bovinas (7,9%) e veículos (4,7%). Já o produto chileno mais comprado pelo Brasil é o cobre, que representa 46% das importações, seguido por pescados (19%) e minérios em geral (5,9%).
A rota faz parte das interligações rodoviárias e hidroviárias que o Brasil passou a perseguir com os países latinos, para ampliar a integração na América do Sul. Hoje, 58% do comércio da Ásia é intrar-regional, ou seja, ocorre entre seus países do bloco. No caso da América do Norte, é de 40%, enquanto na América do Sul esse índice é de apenas 15%.
A pressão do presidente americano Donald Trump sobre o comércio e a logística internacionais levou o Brasil a acelerar seus planos de integração com países vizinhos da América do Sul, com as atenções voltadas, principalmente, para o megaporto de Chancay, no Peru.
Em parceria com países vizinhos, o governo brasileiro tem trabalhado, desde 2023, no programa Rotas de Integração Sul-Americana, que prevê cinco caminhos de acesso a países de fronteira com o Brasil. A conexão mais viável e avançada, neste momento, é a chamada “Rota 2”, que prevê a interligação do Peru com o Brasil por meio da hidrovia do rio Solimões, que forma o rio Amazonas.
Além da Rota 2, que utiliza a hidrovia do Solimões para entrar no solo peruano e alcançar Chancay, o Planejamento trabalha na estruturação da Rota 3, que se dá por meio de rodovias que entram no país vizinho a partir de estradas já existentes no Acre, Rondônia e Mato Grosso.
O governo brasileiro investiu R$ 4,1 bilhões em obras vinculadas às cinco rotas do programa em 2024. O recurso foi usado em 190 projetos incluídos no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Para 2025, há um pedido no Orçamento federal de mais R$ 4,5 bilhões, para mais 140 projetos.
Em paralelo aos aportes públicos, há uma carteira de financiamento que soma cerca de US$ 7 bilhões, formada por recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe), BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e Fonplata (Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata).