Autoridades financeiras do G20 pediram ao secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, uma desescalada no embate comercial que os Estados Unidos trava com o mundo, segundo a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito.
A embaixadora participou nesta quarta-feira (23) de encontro do grupo, formado pelas 20 maiores economias do mundo, durante as reuniões de primavera do FMI (Fundo Monetário Internacional) e Banco Mundial.
Trata-se da primeira vez em que as autoridades monetárias tiveram uma conversa presencial desde que Donald Trump anunciou a imposição de tarifas a todas as nações, em 2 de abril.
“Teve uma sessão sobre economia global que é tradicional no G20. Em geral se abre com essa reunião. E ontem, posso dizer, que foi uma sessão inclusive ampliada. Todo o jantar ontem foi só sobre isso”, disse.
“Foi positivo porque eu acho que há clara de uma preferência por desescalar, mas também um reconhecimento de que há desequilíbrios e de que é preciso eh eh dobrar a aposta na nas instituições multilaterais, na cooperação internacional, no diálogo, no G20”, complementou.
Na reunião, cada país pode fazer sua manifestação. O secretário do Tesouro foi um dos primeiros a falar e deixou o encontro antes do final. De acordo com Rosito, Bessent reforçou a posição que expressou publicamente de defesa de reformas nos bancos multilaterais. Segundo ela, isso serviu como alento aos países, por significar que os EUA não pretendem deixar esses espaços, mas na verdade têm a intenção de liderá-los.
“O interessante é que é a primeira vez que houve essa interação multilateral, porque do nosso conhecimento o secretário tem tido várias interações bilaterais. O que tem ali é um sinal muito claro, e isso traz algum alento para os países, é que há um engajamento dos Estados Unidos com as instituições financeiras internacionais”, avalia.
Rosito diz que a questão do financiamento climático, por exemplo, passou ao largo do jantar, focado nas análises globais. O Brasil, porém, aproveitou a intervenção para pontuar o tema como uma das prioridades.
“Quando falamos da nossa economia, dos nossos planos para arquitetura financeira internacional, reforçamos a importância do plano de transformação ecológica, da transição energética e do potencial de crescimento verde e baseado na natureza do Brasil para um novo ciclo de crescimento”, afirmou.
Um dos focos do Brasil durante as reuniões de primavera do FMI são tratativas ligadas à COP30, que será sediada em Belém, em novembro, como mostrou a Folha.
Segundo Rosito, o Brasil vai coordenar uma mobilização de ministros das Finanças voltados para a COP30.
“Há o entendimento, sim, de que é muito importante o trabalho dos bancos multilaterais para financiamento climático. Não só diretamente eles aplicando recursos nisso, mas o que eles conseguem mobilizar e o trabalho deles junto com os fundos climáticos. Acho que é uma área que ainda precisa ter mais avanços.”
O objetivo é traçar um roteiro para que os países atinjam a meta de mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano para financiamento climático. Ela disse que há cinco metas estabelecidas para organizar o trabalho. A ideia é em outubro, em nova reunião mundial em Washington, apresentar um relatório com as diretrizes para que os países possam formalizar um documento detalhando como vão chegar a esse objetivo durante a COP30.
Outro foco do governo Lula (PT) nas reuniões de primavera é a mobilização em torno do Brics, bloco presidido pelo Brasil e cuja cúpula ocorrerá no país no meio do ano.