As consequências das políticas tarifárias do presidente dos EUA, Donald Trump, arriscam elevar a dívida governamental em todo o mundo a níveis não vistos desde o fim da Segunda Guerra Mundial, alertou o representante do FMI (Fundo Monetário Internacional) para política fiscal.
Vítor Gaspar, diretor do departamento de assuntos fiscais do FMI, disse que o pior cenário atualmente projetado pelo fundo —com a dívida pública subindo de 92,3% da produção global para 117% até 2027— pode até se provar otimista demais se as tensões comerciais se intensificarem.
“Em 2025, a incerteza aumentou drasticamente, as incertezas comerciais e geoeconômicas escalaram, as condições de financiamento se estreitaram e a volatilidade do mercado financeiro aumentou, e as pressões de gastos se intensificaram”, disse Gaspar ao Financial Times. Ele acrescentou que os riscos agora são “mais consideráveis” do que as projeções do fundo, que foram calculadas no final do ano passado.
O FMI disse em seu mais recente Monitor Fiscal, publicado nesta quarta-feira (23), que uma relação dívida global/PIB de 117% seria a mais alta desde o período posterior à Segunda Guerra Mundial. A proporção atingiu um recorde histórico em 1946 de 150%, antes de cair drasticamente durante as décadas de 1950 e 1960.
A maioria das tarifas “recíprocas” de Trump —anunciadas em 2 de abril— agora estão pausadas para que os EUA e seus parceiros comerciais tentem negociar acordos para reduzir as taxas.
As ações americanas subiram na terça-feira (22) depois que o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse que uma guerra comercial com a China —que continua sujeita a tarifas de 145%, e que retaliou com impostos sobre importações americanas de 125%— era “insustentável”.
Trump ecoou as observações de Bessent mais tarde no dia, dizendo que as tarifas sobre a China “cairiam substancialmente”.
Gaspar destacou que o peso da dívida pública global já estava “alto, crescente e arriscado” em 2024, quando ultrapassou a marca de US$ 100 trilhões pela primeira vez. Este ano, a “incerteza muito alta” sobre políticas comerciais significa que os países “deveriam redobrar” os esforços para colocar sua “casa fiscal em ordem”, disse ele.
As expectativas do FMI também indicam que países que representam 75% do PIB global podem ver seus fardos de dívida aumentar em 2025, em comparação com o ano anterior. Isso incluía os EUA, China, Alemanha, França, Itália e Reino Unido.
As projeções de base do fundo são semelhantes às emitidas no Monitor Fiscal de outubro de 2024, mostrando níveis globais de dívida em relação ao PIB ultrapassando 100% até o final da década —superando um pico pré-pandemia.
Gaspar saudou os planos do novo governo alemão de afrouxar seu freio da dívida como um passo “muito significativo” que permitiria à Alemanha aumentar investimentos públicos em infraestrutura e outras prioridades.
“Isso dá flexibilidade a um país que tem baixos níveis de dívida, em comparação com o padrão das economias avançadas, para gastar mais”, disse ele, acrescentando que não se espera que isso ameace as finanças da maior economia da Europa.
Ele também elogiou as autoridades francesas por desenvolvimentos “muito promissores” na aprovação de seus orçamentos. “É um movimento na direção certa”, disse Gaspar. “Está claro pelos desenvolvimentos nos mercados que a aprovação do orçamento reduziu a incerteza.”