As doações para a cerimônia de posse de Donald Trump, realizada em 20 de janeiro, bateram um recorde: foram US$ 239 milhões, segundo prestação de contas feita pelo republicano. A maior contribuição para o governo “América em Primeiro Lugar”, porém, veio da subsidiária de uma empresa brasileira.
Marca da JBS, a Pilgrim’s Pride fez a maior doação: US$ 5 milhões, de acordo com relatório apresentado à Comissão Federal Eleitoral (FEC, na sigla em inglês). A empresa é uma das maiores produtoras de aves do mundo —quase 1 em cada 6 frangos nos EUA vem da Pilgrim’s, segundo site da empresa.
Em segundo lugar no ranking, vem a Ripple Labs, do setor de criptomoedas, com uma doação de US$ 4,9 milhões. A petroleira Chevron e a plataforma financeira Robinhood empatam em terceiro lugar, com US$ 2 milhões cada.
Completam o top dez uma associação de lobby pró-vaporizadores (Vapor Technology Association), os bancos de investimento Cantor Fitzgerald e JPMorgan e o gigante de logística e entregas Fedex.
“A razão pela qual Trump arrecadou tanto é, em grande parte, porque ele é um presidente muito transacional”, avalia o cientista político Jonathan Hanson, professor da Universidade de Michigan.
“Trump demonstra uma disposição clara de fazer acordos, de usar o poder do governo federal para recompensar quem o apoia e punir quem não o apoia. Muitas empresas e empresários perceberam isso e usaram a oportunidade da posse para basicamente dar dinheiro a Trump, para manterem-se em sua boa graça.”
Nesta semana, a JBS anunciou que a SEC (a Comissão de Valores Mobiliários americana) autorizou a dupla listagem da empresa nos EUA —um plano que a gigante brasileira perseguia há anos, mas que sofria forte resistência de parte do meio político, do agro americano e de organizações ambientais.
Em março, a secretária de Agricultura dos EUA, Brooke Rollins, anunciou que instruiu o serviço de inspeção e segurança alimentar (FSIS) a prorrogar as autorizações que permitem que as instalações de carne suína e de aves mantenham velocidades de linha de produção mais altas.
“Além disso, o FSIS não exigirá mais que as plantas submetam dados redundantes sobre segurança dos trabalhadores, já que pesquisas extensas confirmaram que não há ligação direta entre a velocidade de processamento e lesões no local de trabalho”, diz a pasta em comunicado.
Um total de 90 doadores, entre empresas e associações, repassaram US$ 1 milhão à cerimônia de posse de Trump. Estão nesta categoria muitas empresas de tecnologia, cujos CEOs foram destaque na cerimônia, como a Amazon (representada pelo bilionário Jeff Bezos no evento) e o Google (representada pelo CEO Sundar Pichai).
Integram também o grupo as farmacêuticas Bayer e Pfizer, o McDonalds, a aérea Delta e a cervejaria Anheuser-Busch, da AB InBev.
A legislação americana proíbe a doação de estrangeiros para comitês de posse presidencial. Não há limite de valor.
O total arrecadado por Trump para a posse em 2025 é mais do que o dobro do que o levantado por ele na posse de 2017 (US$ 107 milhões), o recorde anterior. Os ex-presidentes democratas também passaram longe da cifra. Na posse de Joe Biden, em 2021, ainda na pandemia, as doações somaram US$ 61 milhões.
A primeira posse de Barack Obama, em 2009, levantou US$ 53 milhões.
Parte significativa do total arrecadado neste ano foi por meio também de doadores individuais. No topo do ranking está o bilionário Warren Stephens, nomeado por Trump para o cargo de embaixador dos EUA no Reino Unido. Stephens doou US$ 4 milhões.
O segundo e o terceiro lugares nesta lista também são ocupados por pessoas que ganharam um cargo no governo. A investidora Melissa Argyros (doação de US$ 2 milhões) foi indicada para embaixadora na Letônia. Com uma doação de valor equivalente, o bilionário Jared Isaacman foi escolhido para comandar a Nasa.
De acordo com o relatório, 70 pessoas doaram US$ 1 milhão ou mais. Integram esse grupo CEOs de big techs como Tim Cook (Apple) e Sam Altman (OpenAI).
“Esse valor é muito, muito maior do que qualquer outra posse presidencial anterior. É certamente muito mais dinheiro do que realmente custa realizar uma cerimônia de posse. Isso levanta questões importantes sobre para onde está indo todo esse dinheiro”, diz Hanson.