/ Apr 25, 2025

Musk não se distancia da política tão cedo, dizem autores – 25/04/2025 – Mercado

Elon Musk não vai se distanciar da Casa Branca e da política mundial tão cedo. Apesar de ter dito a investidores que vai se dedicar mais a sua montadora de carros elétricos, a Tesla, o bilionário não largará o osso facilmente, na opinião de Kate Conger e Ryan Mac, jornalistas do jornal The New York Times que lançaram no ano passado o livro “Limite de Caracteres: Como Elon Musk Destruiu o Twitter”.

“Musk não consegue ceder o controle para outras pessoas. Agora que ele tem esse acesso [ao governo dos EUA], vai ser muito desafiador para ele abrir mão”, diz Conger, que participa com Mac do Festival Serrote, no IMS, neste sábado (26), em São Paulo.

“A política é muito importante para sua missão. [Musk] se vê como uma espécie de salvador, um herói da humanidade, e sua maneira de espalhar essa mensagem é se envolver com a política”, diz Mac.

Nesta semana, Musk disse a investidores que vai dedicar mais tempo à Tesla. E está chegando ao fim o prazo de 130 dias de seu cargo como funcionário especial do governo. Vocês acham que ele realmente vai se afastar do governo ou manterá sua influência?

Ryan Mac
Ele precisa sinalizar aos investidores que vai passar mais tempo na Tesla. A Tesla está indo muito mal, os lucros caíram 71%. As ações da empresa subiram após a declaração dele. Ao mesmo tempo, ele quer manter uma conexão com o governo.

Kate Conge Musk não consegue ceder o controle para outras pessoas. Ele quer estar na liderança, por dentro dos detalhes de seus projetos e empresas. Mesmo que ele esteja falando de se afastar do governo, vai ser difícil que abra mão do controle. Ele tem uma necessidade compulsiva de estar envolvido em cada pequeno detalhe, e, agora que ele tem esse acesso [ao governo dos EUA], vai ser muito desafiador abrir mão.

Vocês têm publicado várias reportagens sobre as promessas de cortes não cumpridas ou resultados inflados do Doge (Departamento de Eficiência Governamental dos EUA). Como vocês avaliam o desempenho de Musk até agora?

Conger
É muito semelhante ao que vimos no X. Ele entrou na empresa e quis se movimentar muito rapidamente, operando mais pelo instinto. No governo, ele quer fazer muitos cortes drásticos sem necessariamente pensar o que vai gerar as maiores economias para o governo e como chegar lá. É instintivo. É como se dissesse: “Eu não gosto de DEI (programas de diversidade e inclusão), eu não gosto da Usaid [agência de ajuda externa]. Vamos nos livrar disso.

Os posicionamentos políticos de Musk têm se refletido no desempenho de suas empresas, há boicotes e ataques à Tesla. Existe um cenário em que vocês o veem se afastando da política não apenas nos EUA mas no mundo?

Mac
Não, porque ele não consegue se controlar. A política é muito importante para sua missão. Ele se vê como uma espécie de salvador, um herói da humanidade, e sua maneira de espalhar essa mensagem é se envolver com a política.

Conger Como Ryan acabou de falar, Musk se vê como um herói. E ele gravita em direção a pessoas que afirmam essa autoimagem. Grande parte de sua guinada para a direita tem a ver com o fato de que essas pessoas o elogiaram e reforçaram a narrativa de herói. Então ele se aproximou delas, começou a repetir suas mensagens. Na Alemanha, na Argentina e em muitos outros países, líderes de direita estão celebrando Musk, então ele gravita em direção a eles e quer se envolver em suas eleições ou na política.

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes bloqueou o X por alguns meses no ano passado, afirmando que Musk havia descumprido ordens judiciais. Para alguns, Moraes foi um herói, porque conseguiu botar freios em uma das grandes empresas de tecnologia. Para outros, ele é autoritário e viola a liberdade de expressão. Na visão de mundo de Musk, quão importante é essa briga com um juiz no Brasil?

Mac –
Não acho que o Brasil estivesse em primeiro plano para Musk quando ele se envolveu, mas aí ele viu o assunto aparecer cada vez mais em seu feed do Twitter. Sabemos que Elon tem fixações momentâneas no Twitter. Isso se transformou em uma semana de insultos e brigas ininterruptos e essas bravatas de macho que ele promove. Mas, no final, ele cedeu. Moraes mostrou que havia uma maneira de fazer com que ele cumprisse ordens: ameaçando seus outros negócios. Agora, ele está aceitando de bom grado quaisquer condições que sejam impostas a ele pelo tribunal.

O X está questionando algumas decisões de moderação de conteúdo do governo na Índia. Mas Musk tem sido muito discreto em comparação ao que ele fez no Brasil, onde ele abraçou a bandeira da defesa da liberdade de expressão. Até que ponto Musk está comprometido com a liberdade de expressão?

Mac –
A mensagem de liberdade de expressão é conveniente para ele. Na Índia, havia um documentário da BBC que era muito crítico em relação a Narendra Modi e ao BJP [Baratiya Janata Party, Partido do Povo Indiano]. E o X não pareceu contrariado ao cumprir pedidos de remoção desse conteúdo. Agora, eles estão questionando o governo, mas Musk não disse nada publicamente. Elon quer vender Teslas no país, o que eles não podem fazer agora. Então, ele quer manter boas relações com Modi e não levantar questões de liberdade de expressão, como fez no Brasil.

Vocês cobrem tecnologia há muitos anos. Acham que a aliança entre as big tech e Trump vai durar?

Mac –
São alianças por conveniência. Mark Zuckerberg vai a Mar-a-Lago com a esperança de que o governo Trump não seja muito duro e não aplique sanções antitruste. No primeiro mandato de Trump, muitos desses CEOs eram combativos em relação a Trump ou pelo menos não receptivos à sua ideologia. E eles enfrentavam sua ira todos os dias. Desta vez, eles calcularam que não estão dispostos a lidar com isso. E por isso você tem Jeff Bezos (fundador da Amazon), Satya Nadella (presidente da Microsoft), Sundar Pichai (presidente do Google) indo a Mar-a-Lago, elogiando o governo e o presidente. Se isso vai render frutos para eles, veremos.

Conger – Eu acho que eles têm que manter essa aliança neste momento porque apostaram muito no governo Trump. É difícil imaginar que, daqui a três anos, todos esses CEOs saiam dizendo: “Ops, cometemos um erro”. Essas não são pessoas que gostam de admitir erros. Eles se alinharam muito fortemente com uma postura política, não foi apenas aparecer em Mar-a-Lago. Zuckerberg fez todas essas mudanças no Facebook para alinhar a cultura da empresa a Trump. É difícil voltar atrás e dizer “Oh, eu cometi um erro e agora quero voltar a apoiar DEI, quero voltar a apoiar checagem de fatos e moderação de conteúdo”. Não é apenas uma postura ideológica, trata-se de contratar pessoas, construir programas inteiros de DEI, ele desmantelou tudo isso. Não consigo imaginar que ele vá dizer: “Eu só fiz isso porque estava sob pressão e agora vou recontratar todas essas pessoas”.

Ou pelo menos eles iriam esperar até saírem as decisões e penalidades dos processos antitruste em curso contra o Google, a Meta…

Conger –
Tudo o que eles têm que fazer é olhar para o caso do TikTok. Trump defendeu a proibição do TikTok nos EUA, fez pressão. Aí, mudou de rumo e passou a dizer: “Vou salvar o TikTok”. E o prazo [para a venda do TikTok, que impediria o bloqueio] continua sendo estendido. Talvez o Facebook esteja esperando o mesmo tratamento. O tribunal diz: “Ok, eles precisam ser divididos ou têm que pagar uma multa”, e Trump diz: “Espere, eu preciso salvar o Instagram”, e isso se arrasta por anos e nada acontece.

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