O empresariado americano está contabilizando o custo da guerra comercial de Donald Trump, com executivos alertando sobre despesas crescentes, cadeias de suprimentos obstruídas e um golpe na maior economia do mundo.

Embora os líderes empresariais tenham, de forma geral, evitado críticas públicas ao presidente dos Estados Unidos, eles foram forçados a enfrentar suas tarifas —que incluem impostos de 145% contra a China— em teleconferências de resultados trimestrais este mês.

Empresas de transporte, energia, telecomunicações e construção civil estão entre as que discutiram as tarifas com o mercado. Em seus comentários, os executivos demonstraram estar em estado de alerta para as consequências das tarifas de Trump, ecoando preocupações de economistas sobre uma recessão.

“Os CEOs são um grupo realmente infeliz no momento”, diz Steven Purdy, chefe de pesquisa de crédito da gestora de fundos TCW.

Trump foi alertado sobre o impacto que suas tarifas estavam tendo no comércio pelos diretores executivos do Walmart e Target em uma reunião na Casa Branca na segunda-feira (21), segundo uma pessoa familiarizada com a situação.

Menos de um quinto das ações de grandes empresas S&P 500 realizaram teleconferências de resultados do primeiro trimestre até terça-feira (22). Mas, nas reuniões que foram feitas até então, as tarifas foram citadas em mais de 90% delas, de acordo com a FactSet. O termo “recessão” foi mencionado em 44% das teleconferências, em comparação com menos de 3% naquelas que cobriram o quarto trimestre de 2024.

A Norfolk Southern, grande grupo ferroviário de carga dos EUA, disse nesta quarta-feira (23) que as tarifas poderiam desacelerar os embarques de carros e contêineres intermodais, e a produção de carvão poderia esfriar “em meio a significativa incerteza em torno do comércio de exportação”.

A Boeing também afirmou que a guerra comercial dos EUA com a China a forçaria a encontrar compradores alternativos para algumas de suas aeronaves.

As tarifas aumentarão o custo dos geradores de energia a gás, justamente quando a demanda de eletricidade dos EUA cresce a uma taxa “diferente de qualquer coisa que já vimos desde o fim da Segunda Guerra Mundial”, afirmou John Ketchum, diretor executivo da NextEra Energy, dona da maior concessionária de energia dos EUA, nesta quarta.

A fabricante de turbinas a gás GE Vernova disse que seus custos poderiam aumentar até US$ 400 milhões este ano, e os grupos de serviços de campos petrolíferos Halliburton e Baker Hughes acrescentaram que a guerra comercial de Trump pode reduzir os lucros, interromper as cadeias de suprimentos e pressionar os preços do petróleo para baixo.

As ações da Baker Hughes caíram acentuadamente nesta quarta depois que a empresa afirmou que as tarifas poderiam custar até US$ 200 milhões em lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização este ano, um impacto de cerca de 4%.

AT&T e Verizon, dois dos maiores grupos de telecomunicações dos EUA, acrescentaram que as tarifas poderiam aumentar o preço de aparelhos telefônicos e roteadores sem fio.

“Se a tarifa sobre os aparelhos for tão alta quanto dizem, não estamos planejando cobrir isso em nosso trabalho. Isso simplesmente não vai ser possível”, disse o diretor executivo da Verizon, Hans Vestberg, aos analistas esta semana.

As ações da Procter & Gamble, dona do desodorante Old Spice, caíram 5% nesta quinta-feira (24) depois que a empresa reduziu suas orientações de vendas e lucros, citando os efeitos das tarifas e uma desaceleração no consumo nos EUA e na Europa. O grupo de alimentos e bebidas PepsiCo também apontou para tarifas e incerteza econômica ao reduzir sua perspectiva de lucro.

A fabricante de dispositivos médicos Boston Scientific disse que as tarifas custariam cerca de US$ 200 milhões este ano, mesmo com uma elevação nas orientações de lucro. A Johnson & Johnson na semana passada manteve sua previsão de lucros anuais, mas observou US$ 400 milhões em custos relacionados principalmente a impostos sobre dispositivos médicos.

Na 3M, o diretor executivo William Brown disse que “as tarifas serão um obstáculo este ano”. A empresa disse que tentaria amenizar o golpe movendo a produção e o inventário de sua rede de 110 fábricas e 88 centros de distribuição, cortando custos e aumentando os preços.

“Estamos tentando ser bastante inteligentes, estratégicos e cirúrgicos sobre isso”, disse Brown.

Na construtora PulteGroup, o diretor executivo Ryan Marshall afirmou que as tarifas adicionariam cerca de US$ 5.000 em média ao preço de venda de novas casas.

“Seja a volatilidade no mercado de ações, preocupações com inflação induzida por tarifas, a flutuação nas taxas de juros ou o crescente discurso sobre recessão, a demanda em abril tem sido mais volátil e menos previsível dia a dia”, disse Marshall aos analistas.

A empresa aeroespacial e de defesa RTX disse que poderia sofrer um impacto de US$ 850 milhões no lucro operacional antes dos impostos devido às tarifas de Trump se elas permanecerem em vigor até o final do ano. A GE Aerospace disse que aumentaria os preços para ajudar a compensar aproximadamente US$ 500 milhões em custos extras.

Os executivos têm tentado responder à política comercial volátil dos EUA. Trump suspendeu no início de abril as chamadas tarifas recíprocas contra a maioria dos países por 90 dias, horas depois delas entrarem em vigor, mas aumentou as taxas sobre a China.

Ele planeja poupar os fabricantes de automóveis de algumas tarifas, informou o Financial Times nesta quarta.

Purdy, da TCW, disse que os diretores executivos estão presos em uma espécie de “animação suspensa” enquanto a política comercial muda. “Eles não sabem se vão acordar em seis meses com uma ordem mundial totalmente nova, ou se isso vai parecer um sonho realmente ruim.”