/ Apr 26, 2025

A bomba atômica econômica – 25/04/2025 – Rodrigo Zeidan

Trump comprou uma briga que não tem como ganhar. Jerome Powell tem mais poder que ele, pois o Fed detém a bomba atômica econômica: o controle sobre os juros americanos. Se os membros do banco central dos EUA resolverem jogar os juros para a estratosfera, o dólar voltará com tudo, mesmo que isso cause crise gigantesca lá e no resto do mundo.

Paul Volcker foi o último presidente do Fed a resolver ignorar a inação do sistema político e resolver problema macroeconômico unilateralmente, custando o que custasse (e foi muito). No final da década de 1970, a economia americana sofria de estagflação, combinação de baixo crescimento e alta inflação. A primeira onda veio com a crise do petróleo de 1973, que jogou os preços de produtos intensivos em energia na estratosfera (o preço do barril quase quadruplicou em seis meses). A economia americana saiu de crescimento de 7% com 3,4% de inflação, em 1972, para uma retração de 2% e inflação de 12,4%, em 1974. A segunda crise do petróleo não foi diferente, com crescimento do PIB e preços saindo de 6,7% e 8,9%, respectivamente, em 1978, para zero e 12,4%, em 1980.

Além dos choques do petróleo, a persistente inflação dos anos 1970 foi causada por incertezas fiscais; o déficit público passou de 3% do PIB pela primeira vez desde a Segunda Guerra. Além disso, em 1976 ocorreu o primeiro impasse orçamentário americano, com o presidente Gerald Ford brigando com democratas que queriam aumentar os gastos públicos em programas sociais. Novos impasses ocorreram no governo Carter, sinalizando incapacidade da política fiscal de normalizar a economia. Como hoje, faltava credibilidade.

Volcker resolveu acabar com a inflação quase que por decreto. E conseguiu. Em 1980, a taxa de juros básica americana chegou a 20%, jogando a economia mundial em uma recessão profunda e disparando uma crise financeira nos EUA. Contudo, os juros absurdos pagos pelo Tesouro americano, que chegaram a mais de 15% para títulos de dez anos, acabaram com qualquer escalada de preços, já que o capital mundial migrou para os papéis da dívida dos EUA.

A inflação saiu de 12,6%, em 1979, para 9,3%, em 1980, 4,5%, em 1981, e ficou por volta de 4% pelo resto da década. O choque de Volcker durou até 1982. No começo, gerou protestos tão grandes que fazendeiros pararam Washington com centenas de tratores para reclamar dos juros altos que inviabilizavam as colheitas. Quebraram os fazendeiros e muitos outros.

História de presidente da República que demite chefe da autoridade monetária para forçar juros baixos acaba mal. Erdogan, presidente da Turquia, demitiu três em poucos anos, o mais recente em 2021. A inflação saltou de 19% em 2021 para 72% em 2022, terminando 2024 “somente” em 58,5%. É por isso que a pressão de Dilma sobre o Banco Central ajudou a causar a crise, Lula não deveria ter batido de frente com Campos Neto, e o novo presidente da autoridade monetária insiste na independência da instituição.

Talvez Trump já tenha percebido que vai perder se desafiar Powell, pois afirmou que não tem intenção de demiti-lo (provavelmente nem conseguiria). Mas, enquanto insistir em que o Fed deve fazer o que ele quer, vai colher o mesmo que qualquer presidente latino-americano: desconfiança e inflação. Afinal, ele não tem a senha dessa bomba.


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