Levantamento feito pela consultoria e auditoria PwC com 1.205 empresas em 47 países mostra que essas companhias enxergam a área tributária como protagonista na reinvenção de seus negócios, em um cenário de mudanças em impostos, aumento de tarifas alfandegárias e uso de dados e da inteligência artificial para lidar com esses desafios.
A consulta foi feita em 2024, ano marcado pela consolidação do imposto mínimo global em diversos países. No Brasil, ele foi aprovado no ano passado, quando também foi regulamentada a reforma tributária —ambos começam a ser implantados aqui em 2026.
No cenário global, a maioria das organizações consultadas está tomando medidas como aumentar reservas, contratar consultores e revisar suas políticas fiscais para se preparar para o imposto mínimo que faz parte do acordo Pilar 2 da OCDE.
Nove em cada dez empresas esperam impacto perceptível ou significativo em seu modelo de negócios. Para a maioria, o problema não é o aumento de carga, mas a complexidade que envolve a redistribuição de tributos entre os países em que operam.
Cerca de 90% dos entrevistados aqui no país (70% na média global) estão investindo significativamente em automação das funções tributárias em função desta e outras mudanças.
No Brasil, os impostos sempre foram fator chave nas decisões empresariais, devido ao tamanho da carga, à complexidade e aos inúmeros benefícios fiscais que podem tornar uma operação viável ou não. Isso agora se torna também uma tendência internacional, na avaliação do sócio da PwC Brasil Durval Portela.
A sondagem mostra que 83% dos respondentes no Brasil e 66% no mundo afirmam que a área tributária desempenha um papel relevante nas decisões estratégicas, enquanto outra pesquisa da consultoria aponta que a maioria dos CEOs pesquisados avalia que, se seus negócios não forem reinventados a médio prazo, deixarão de existir.
“Quando você conjuga isso, verifica que há um protagonismo maior da área tributária na reinvenção dos negócios”, afirma Portela. “Embora isso seja maior no Brasil, é cada vez mais relevante no mundo.”
Romero Tavares, também sócio da PwC Brasil, diz que, mesmo em países em que tradicionalmente o sistema de impostos é estável, a questão tributária virou tema de discussão nos conselhos de administração empresariais.
“A função tributária está sendo elevada cada vez mais a esse patamar estratégico. O mais comum no mundo inteiro agora é a situação brasileira. Se você não pensar no efeito tributário e aduaneiro, o negócio não funciona”, afirma Tavares.
Os novos tributos se somam a um aumento de complexidade na apuração de dados e cumprimento de obrigações junto aos fiscos. Isso gerou uma sobrecarga significativa para os departamentos tributários, e mais da metade daqueles consultados afirma não estar preparado para responder efetivamente a um volume tão grande de mudanças no mundo inteiro.
Questionados sobre o que as autoridades tributárias têm feito para ajudar as empresas nesse cenário de mudanças em impostos, aumento de obrigações e maior fiscalização, eles afirmam que o diálogo com o contribuinte tem melhorado, mas que esses dois movimentos nem sempre caminham com a mesma intensidade nos mesmos países.
O levantamento mostra que, entre as soluções para a questão apontadas pelas empresas, estão a terceirização dessas atividades e a busca por um uso mais eficiente de dados com ajuda de inteligência artificial. Não só para ganho de eficiência com tarefas repetitivas e automatizadas. Cerca de 80% dos respondentes esperam que a IA generativa ajude também com planejamento tributário e definição de estratégias nos próximos anos.
Um exemplo disso é o uso dessa tecnologia pela consultoria para projetar os impactos da reforma tributária brasileira para uma empresa, com base nos dados atuais da sua operação, com objetivo de chegar a conclusões sobre reposicionamento estratégico do negócio.
“O profissional tributário é eficiente quando utiliza a IA generativa não apenas como suporte para funções repetitivas, rotineiras, mas nas funções de maior valor agregado”, afirma Tavares. “Você migra do ganho de eficiência para a influência [da IA] na própria reinvenção do negócio”, complementa Portela.