O preço do café disparou, o dinheiro entrou em volume maior dentro da porteira e a renda do produtor aumentou. Os dados do Ministério da Agricultura indicam que o preço do café, multiplicado pelo volume de sacas colhido, deverá atingir R$ 126 bilhões neste ano, uma alta de 137% em dois anos.
Como o produtor está reagindo a essa subida repentina de preços e de ganho maior? Melhor que o da soja, que viveu situação semelhante quando a saca esteve próxima dos R$ 200 e acreditou que esse valor fosse perdurar por mais tempo.
Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, diz que, assim como ocorreu com a soja, há vários perfis de produtores de café que devem ser avaliados. O analista acredita, no entanto, que eles estejam mais com os pés no chão que os da soja. Não deixa de existir certo deslumbramento em parte dos cafeicultores, afirma. Os do Espírito Santo, estado que lidera a produção de café conilon, ficaram um pouco mais encantados do que os de arábica, que tem Minas Gerais na liderança.
Muitos produtores de café conilon esperavam a manutenção dos preços recordes e saíram às compras de imóveis urbanos e de terras para aumento de área de plantio. Alguns ampliaram o leque de produção e foram para o cultivo de frutas.
Barabach afirma que também houve investimentos nas lavouras, mas em um patamar menor que o desejado. Tudo que se relaciona ao café subiu de preço, e os investimentos de agora, principalmente nas lavouras, vão se refletir em dois anos. Os preços ainda estão rentáveis, mas já dão sinais de queda. É difícil prever como estarão lá na frente, afirma ele.
O analista acredita que o produtor de arábica esteja um pouco menos encantado e tenha feito mais investimentos na correção das lavouras, buscando produtividade maior. Ainda há pouco café no mercado, e os preços são rentáveis, mas continuam sendo um ponto fora da curva. Os produtores de arábica sabem e estão olhando mais para 2026 do que para 2025, afirma Barabach.
Um clima bom e um cenário melhor em 2026, o que será definido na próxima florada, podem mudar as expectativas de mercado, e os preços voltam ao normal. Por isso, os investimentos de agora têm de ser bem-feitos, com um endividamento sustentável para os próximos anos, afirma o analista.
Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da Cooxupé, cooperativa que atua em Minas Gerais e em São Paulo, diz que os preços estão favoráveis, mas os produtores não obtiveram todo esse valor recorde atingido pelo produto. Resta pouco café nas mãos deles e boa parte do recurso que sobrou foi investido na propriedade.
Drones, irrigação, mecanização e até automação estiveram no foco do produtor, e tudo isso leva a uma produtividade maior, afirma. Os preços estão bons. Vão subir mais ou cair? Ninguém sabe. Nova crise climática ou uma safra boa determinará os rumos do setor. Daí a necessidade dos cuidados culturais nas lavouras e a busca de uma produtividade maior, afirma Melo.
O presidente da Cooxupé acredita que os produtores vêm fazendo essa lição de casa e obtendo uma gestão melhor dos negócios. Eles estão mais capitalizados e são donos de seus negócios. Investem com prudência, sem esquecer que o inimigo constante agora são os problemas climáticos.