O caviar não é mais o mesmo.
Segundo reportagem da Bloomberg, reproduzida aqui na Folha, a China inundou o mercado internacional com caviar barato e de qualidade variável –alguns deles comparáveis aos produtos russos e iranianos.
No EUA, tem restaurante vendendo nugget de frango com caviar por US$ 28 (ou R$ 156, uma pechincha para um artigo desses em Nova York).
Paradoxalmente, a abundância pode encerrar a história do caviar como iguaria, como artigo de luxo.
Porque o mercado do luxo não vende qualidade, vende exclusividade. Se muita gente pode comprar isto, isso ou aquilo, a mercadoria deixa de interessar aos compradores que só querem ostentar sua posição social.
A trajetória do caviar é interessante. Ele surgiu como subproduto da carne de esturjão –o peixe do qual se retiram as valiosas ovas– nas estepes do Cáucaso.
Na Idade Média, a elite ficava com a carne, que dizem ser parecida com vitela e outros animais terrestres. As ovas eram consumidas pelos pobres.
O jogo virou quando a realeza russa caiu de amores pelo caviar. Ele chegou a Paris bem quando o conceito moderno de luxo se formava, e tornou-se um artigo de consumo exclusivo da aristocracia.
A demanda acarretou a exploração predatória que quase aniquilou o esturjão. O preço do caviar explodiu, o que não é problema algum para quem almeja comprar status.
Aí veio a aquicultura, a criação de peixes em cercadinhos, a mesma que acabou com o glamour do salmão no fim do século 20. Tem fazenda de peixe na Europa, no Canadá e nos próprios Estados Unidos. Com o mastodonte chinês investido pesado em esturjão de cativeiro, é inevitável que o preço do caviar desabe.
E, para o público a que o caviar se destina, caviar barato tem tanta graça quanto tilápia. É o fim da linha para a iguaria.
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