Pressionado por vendas de jogadores abaixo do projetado e por um expressivo aumento das despesas, o São Paulo fechou o ano de 2024 com um déficit de R$ 287,6 milhões, o maior de sua história quase centenária.
Desde 2014, o clube do Morumbi registrou superávit em apenas quatro anos (2016, 2017, 2018 e 2022), o que fez com que o endividamento total tenha crescido em mais de R$ 300 milhões, se aproximando perigosamente da casa de R$ 1 bilhão —R$ 968,3 milhões.
As receitas do clube somaram R$ 731,9 milhões no período, um crescimento de 8% na comparação com 2023. Já os custos relacionados com futebol chegaram a R$ 655,7 milhões, um salto de 26%.
“É claro que o resultado não é o que gostaríamos, mas temos um planejamento para estancar a sangria da dívida e deixar o São Paulo Futebol Clube com mais musculatura para quem me suceder e para o centenário, em 2030”, escreveu o presidente do clube, Julio Casares, em publicação nas redes sociais.
De acordo com o dirigente, o déficit alto é resultado de alguns fatores, como a manutenção de um time competitivo e o pagamento de juros bancários oriundos da dívida e de empréstimos contraídos pela necessidade de manter o fluxo de caixa para pagamentos rotineiros e de curto prazo.
“O clube aumentou muito as receitas com patrocínios e com o programa de sócio-torcedor, mas os custos estão muito elevados em comparação com as receitas”, diz Amir Somoggi, diretor da consultoria Sports Value.
As receitas com publicidade e patrocínio somaram R$ 72,3 milhões, alta de 6,2% frente aos R$ 68,1 milhões previstos e de 57% ante os R$ 46,1 milhões do ano anterior.
No ano passado, o clube firmou o contrato com a Mondelez em relação ao naming rights do estádio, estimado em cerca de R$ 75 milhões por três anos, além de patrocínios com a Ademicon e a Viva Sorte.
Já o projeto do sócio-torcedor alcançou R$ 51,6 milhões, alta de 49,5% na comparação com os R$ 34,5 milhões previstos e de 151% contra os R$ 20,5 milhões de 2023.
Segundo o clube, o crescimento do sócio-torcedor é reflexo dos investimentos no futebol, “direcionados à manutenção da base do elenco campeão da Copa do Brasil de 2023, renovando os contratos de atletas como Lucas Moura, Arboleda, Luciano, Michel Araujo, além da contratação pontual de reforços com concreta capacidade de elevar o nível do plantel, como Ferreirinha, Ferraresi e André Silva”.
Pesquisador da história do clube, Alexandre Giesbrecht assinalou que pesou para os resultados financeiros a venda de jogadores aquém das expectativas.
A negociação de atletas totalizou R$ 93,4 milhões em 2024, 22,6% abaixo dos R$ 120,7 milhões de 2023, e 46,4% inferior aos R$ 174,1 milhões previstos.
O São Paulo disse que enfrentou problemas com contusões, que inviabilizaram as negociações na janela de transferência de julho do ano passado.
Pablo Maia, Alisson, Liziero, Patryck, Moreira e Ferreira foram alguns dos atletas que ficaram sob os cuidados do departamento médico em 2024.
O clube disse ainda que, no período da janela, estava disputando todas as competições nacionais e não contava com opções sobressalentes em seu elenco.
Em janeiro de 2025, já com os atletas recuperados, foram promovidas negociações que, se tivessem sido realizadas no ano passado, fariam com o que o orçamento de receitas fosse atingido.
Entre as vendas no início do ano, a maior foi a do atacante William Gomes, negociado com o Porto por 10 milhões de euros (R$ 64 milhões). Também saíram Michel Araújo (15 milhões) e Rodrigo Nestor (9,4 milhões), rumo ao Bahia, e Wellington Rato (R$ 5 milhões), para o Vitória.
Em relação às despesas, o clube destacou que o futebol profissional excedeu o volume previsto orçado em R$ 82,4 milhões, sendo 62% do valor representado por gastos com folha de pagamentos e direitos de imagem; investimentos nas renovações dos contratos dos seus principais atletas; e a pontual reposição de jogadores devido a contusões ocorridas durante a temporada.
Quanto ao futebol de base, o clube do Morumbi alavancou seus gastos em investimentos na infraestrutura e na formação de atletas, excedendo, sensivelmente, o orçamento inicialmente previsto —R$ 40,1 milhões realizados, contra R$ 35,1 milhões previstos.
“Contudo, espera-se que o retorno desses investimentos, em performance esportiva e exposição da marca, se revelarão em curto prazo”, afirmou a agremiação.
Segundo Casares, houve também em 2024 uma mudança contábil relacionada à forma como o futebol de base passou a ser registrado em balanço, não constando mais como investimento, mas como despesa, onerando a dívida em cerca de R$ 40 milhões.
O presidente do São Paulo citou ainda, entre as medidas para sanear as finanças do clube, a criação de um fundo de investimento (FIDC) em parceria com a Galapagos Capital e Outfield.
“Tal produto foi bem aceito pelo mercado financeiro. Já captamos R$ 135 milhões nestes primeiros meses, a verba foi utilizada para pagamentos de dívidas, tributos e fluxo de caixa”, disse o presidente do São Paulo.