Quando o vento muda de direção, o pior erro é insistir na mesma rota. Nas reuniões da primavera do FMI e do Banco Mundial, ficou claro que o mundo não vive mais sob o signo da simples incerteza, mas da imprevisibilidade como nova norma. A dinâmica global está sendo reescrita —e os países que não se adaptarem rapidamente ficarão à margem. Para o Brasil, que enfrenta dilemas internos e externos, o momento de agir é agora.
O crescimento mundial projetado pelo FMI —2,8% em 2025 e 3,0% em 2026 — mascara a gravidade das mudanças em curso. Os Estados Unidos lideram uma virada estrutural com tarifas abrangentes, políticas industriais agressivas e novos entraves à migração. Essa busca pela autonomia estratégica rompe velhas certezas e alimenta tensões que já começam a moldar o comércio, a indústria e o fluxo de capitais.
Nesse cenário, o Brasil se depara com um conjunto de riscos e oportunidades. A desaceleração da China, prevista para crescer apenas 4%, tende a pressionar a demanda por commodities, ainda essenciais para o superávit comercial brasileiro. Mas o país já mostrou capacidade de adaptação —como na guerra comercial de 2018, quando a soja brasileira rapidamente preencheu o espaço deixado pelos EUA na China.
Além disso, as próprias políticas americanas devem gerar um impulso desinflacionário global. A provável desaceleração dos EUA, combinada à queda de preços de energia e alimentos, ajudará a moderar as pressões inflacionárias no Brasil. Isso oferece uma janela de oportunidade para o Banco Central acelerar o corte da Selic, estimulando a atividade doméstica sem comprometer o controle da inflação.
Mas para transformar essa janela em um ciclo virtuoso de crescimento, o Brasil precisa enfrentar seus problemas fiscais. O prêmio de risco brasileiro continua elevado, refletindo preocupações sobre a sustentabilidade da dívida pública. Em contraste, o programa econômico argentino recebeu avaliação positiva em Washington: medidas técnicas sólidas, ancoradas em um regime fiscal crível e uma política monetária realista, geraram confiança inédita.
O Brasil precisa reagir. Um novo arcabouço fiscal que reequilibre as contas públicas e sinalize responsabilidade de médio prazo reduziria o prêmio de risco, liberaria espaço para cortes mais profundos da taxa de juros e atrairia investimentos. Sem essa reforma, um possível ciclo de corte da Selic será mais tímido e a retomada do crescimento, mais frágil.
No ambiente de fragmentação global, reforçar a diversificação comercial também é vital. A tendência ao “friend-shoring” —realocação de cadeias produtivas para países aliados— favorece economias estáveis e com energia limpa. O Brasil tem atributos valiosos nessa corrida: uma matriz energética majoritariamente renovável, recursos naturais estratégicos e um sistema financeiro robusto. Mas esses ativos precisam ser potencializados por credibilidade fiscal e abertura comercial ativa. Concluir o acordo comercial com a União Europeia é uma prioridade absoluta.
A nova ordem global não premia os mais fortes: premia os mais adaptáveis. No mundo da imprevisibilidade, a preparação é a melhor forma de liderança. Para o Brasil, o tempo de hesitação acabou.