Há um ano, a tragédia do Rio Grande do Sul gerava o maior sinistro da história do mercado segurador brasileiro. Porém, para seguradoras, o saldo financeiro foi positivo. O evento que paralisou o país levou a uma contratação recorde de seguro, segundo a CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras). Sem considerar planos de saúde, foram contratados R$ 436 bilhões, uma alta de 12% ante 2023, recorde nominal e real (considerando a inflação) do setor.
“Ficou essa maior percepção, o maior interesse das pessoas em geral, sobre como se precaver e como lidar com esse tipo de situação”, diz Dyogo Oliveira, presidente da CNseg.
Já as indenizações somaram R$ 243 bilhões, crescimento anual de 10%. Só as inundações no RS somaram R$ 6 bilhões em ressarcimentos, via 57,6 mil sinistros.
No estado do Rio Grande do Sul, a contratação de seguros também foi recorde no ano passado, apesar de um rimo de aumento menor, de 5,7%, para R$ 31 bilhões, ante 10,4% registrado de 2022 para 2023.
No entanto, no segundo semestre de 2024, o ritmo de contratação gaúcha superou a média nacional em quase todos os segmentos de seguros.
As maiores altas anuais nas contratações foram registradas nos seguros patrimonial (16,3%), cobertura de pessoas (15,6%) e seguros de pessoas (16,2%).
Porém, no segundo semestre do ano passado e no primeiro bimestre deste ano, o estado demonstrou um apetite maior por seguros que a média nacional em todos os segmentos de seguros, à exceção de responsabilidade civil e coberturas de pessoas.
A aceleração no estado foi mais proeminente em seguros de transportes (19,5%), marítimos e aeronaves (61,6%), riscos financeiros (28,3%) e garantia estendida (19,2%).
Já no primeiro bimestre de 2025, o salto veio de habitacional, com uma alta anual de 51,9% nas contratações.
Ao todo, os primeiros meses deste ano tiveram um volume de R$ 4,9 bilhões, semelhante ao visto no início do ano passado, antes das fortes chuvas que atingiram a região.
Neste mesmo período, no entanto, Oliveira destaca a queda de 9,8% em previdência privada no estado, maior que o recuo nacional de 2,7%.
“Isso mostra que as famílias [do RS] ainda estão com suas finanças comprometidas”, diz o presidente da CNseg.
Segundo o economista, o episódio trouxe muitas lições para o setor, que está trabalhando em um hub de dados climáticos para calibrar o cálculo de riscos das apólices.
“É muito importante compreendermos que o risco climático mudou. É visível a frequência e severidade de eventos climáticos, mas a grande dificuldade hoje é entender o dado climático. Sabíamos que, em média, cada dez anos o Rio Grande do Sul tinha uma seca, mas em 2022 e em 2023 teve seca. Em 2023 e em 2024 teve enchente e em 2025, seca”, afirma Oliveira.
Ele afirma que, apesar dos episódios alarmantes, o país não está preparado para lidar com catástrofes.
“Ficou claro que, quem tinha seguro já está mais tranquilo, e o próprio estado não tem seguro de sua estrutura, de seus prédios”, diz o executivo.
A CNseg também propôs ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao Congresso um seguro social de catástrofe, de modo a indenizar todos os afetados imediatamente com R$ 5.000 por moradia. Ele seria financiado por uma taxa mensal de R$ 2 a R$ 3 em contas de serviços públicos, com isenção para participantes de programas sociais.
Outra pauta da entidade é a ampliação do seguro rural para valores menores, a partir de R$ 100 mil. Atualmente, financiamentos rurais até R$ 270 mil são obrigatoriamente cobertos pelo ProAgro, do governo.