O projeto de identidade digital de Sam Altman, World, foi lançado nos Estados Unidos, disponibilizando sua controversa tecnologia de escaneamento de íris e token de criptomoeda no país, enquanto a administração de Donald Trump abraça o setor de ativos digitais.
O grupo pretende fazer dos EUA seu mercado principal após inicialmente lançar o produto fora do país em 2023, em parte devido à postura mais hostil da administração de Joe Biden em relação às criptomoedas.
Altman, que também é CEO da OpenAI, empresa de IA (inteligência artificial) avaliada em US$ 300 bilhões, lamentou na época que seu empreendimento, recentemente rebatizado de Worldcoin para World, seria “World menos a moeda dos EUA”.
Trump prometeu desde então fazer dos EUA a “capital mundial das criptomoedas”.
Anunciando o lançamento nos EUA durante um evento em San Francisco na quarta-feira (30) à noite, Altman disse: “Sou um americano muito orgulhoso, acho que a América deve liderar a inovação, não combatê-la.”
A tecnologia da World, acrescentou ele, era “uma maneira de garantir que os humanos permanecessem centrais e especiais em um mundo onde a internet tinha muito conteúdo impulsionado por IA.”
Adrian Ludwig, arquiteto-chefe da Tools for Humanity, a principal desenvolvedora por trás da World, disse: “Havia razões muito boas pelas quais nos concentramos em garantir que o produto funcionasse no mundo inteiro antes de chegar aos Estados Unidos. Algumas delas estão relacionadas a mudanças regulatórias.”
Altman e Alex Blania fundaram a Tools for Humanity em 2019. A empresa arrecadou cerca de US$ 200 milhões até o momento de capitalistas de risco, incluindo Andreessen Horowitz e Khosla Ventures, o cofundador do LinkedIn Reid Hoffman, bem como o fundador da FTX Sam Bankman-Fried, que foi condenado a 25 anos de prisão por fraude no ano passado.
Altman e Blania argumentam que um método confiável para distinguir humanos de computadores é essencial à medida que a IA se torna mais avançada.
A World fabrica “orbes” de escaneamento ocular que geram IDs únicos, que podem ser usados para acessar o token Worldcoin do grupo. Os dispositivos esféricos têm aproximadamente o tamanho de uma bola de basquete, mas a World está trabalhando em modelos portáteis e quer eventualmente integrar a tecnologia diretamente em câmeras web ou dispositivos móveis.
O grupo pretende construir até 10 mil orbes para o mercado americano nos próximos 12 meses, aproximadamente cinco vezes seu suprimento global atual, e está construindo uma nova fábrica em Richardson, Texas, para montar os orbes, segundo Ludwig.
O lançamento de modelos avançados de IA —que podem imitar com precisão a interação humana— introduziu aplicações do mundo real para a tecnologia da World e fez a premissa da empresa soar menos como ficção científica.
Os modelos abriram as portas para fraudes sofisticadas, golpes de phishing e duplicidade online. Na quarta, a World anunciou uma parceria com a empresa de namoro online Match Group para verificar usuários de aplicativos, incluindo o Tinder. Ludwig argumentou que a tecnologia poderia desempenhar um papel em serviços governamentais e comunitários.
Também poderia aumentar a confiança e segurança em uma rede social, disse ele. A OpenAI, que supostamente está desenvolvendo sua própria rede social, poderia ser uma futura parceira, embora Ludwig tenha acrescentado que a tecnologia da World também poderia ser usada por grupos rivais como o X de Elon Musk ou Meta.
A World ainda não obteve lucro e enfrentou resistência em vários países devido a preocupações com segurança e privacidade. No ano passado, o grupo foi bloqueado pelo regulador de proteção de dados da Espanha, que levantou preocupações de que a empresa estaria coletando informações pessoais sobre menores. Também enfrentou proibições, investigações ou multas em Portugal, Hong Kong, Coreia do Sul e França.
Ludwig disse que a World, que oferece escaneamentos oculares em cerca de 20 países, garantiu que todos os dados biométricos fossem anônimos.
Ele estimou que “em cerca de 18 meses começaremos a ver os custos de operação da rede começarem a ser compensados pelas taxas geradas pela rede”.