O banqueiro Daniel Vorcaro escolheu uma das mansões mais valorizadas de Brasília (DF) como base de suas articulações políticas e empresariais em meio às tratativas para venda do Banco Master.
Comprada por R$ 36,1 milhões, ela ocupa dois dos quatro lotes de um condomínio no Lago Sul, bairro nobre da capital, e está entre as mais caras já vendidas no Distrito Federal.
A casa foi adquirida por uma empresa que tem ligações com Vorcaro, a Super Empreendimentos, em 3 de junho de 2024. À época, seu cunhado, o advogado Fabiano Zettel, era um dos diretores da firma. Além disso, a Super pertence a um fundo que é administrado pela Reag Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, que tem diversos negócios com Vorcaro.
Procurado pela reportagem, o banqueiro não quis se manifestar sobre o assunto.
O imóvel tem 1.700 m², de acordo com a escritura, e uma área privativa de 4.300 m². Antes de Vorcaro, a casa foi alugada por Salim Mattar, que era secretário de Desestatização do Ministério da Economia do governo Jair Bolsonaro (PL).
Mattar é mineiro, como Vorcaro, e está entre as pessoas mais ricas do Brasil. Ele é dono da empresa de aluguel de carros Localiza, entre outros negócios.
A mansão é utilizada por Vorcaro para reuniões com seus interlocutores políticos em Brasília, principalmente desde que foi anunciada a compra do Banco Master pelo BRB, em março. A operação mobilizou aliados e concorrentes do banqueiro, que passaram a disseminar informações favoráveis e contrárias ao negócio.
Nos últimos anos, o banqueiro apostou em uma estratégia de expansão de sua teia de relações na cúpula do poder nacional e teve sucesso na tentativa de se aproximar de lideranças do Executivo, do Legislativo e do Judiciário por meio de festas luxuosas, viagens exclusivas e financiamento de eventos.
Alguns desses personagens visitaram Vorcaro em sua nova base, como o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP e seu principal aliado, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara, Antonio Rueda, presidente do União Brasil, Fábio Faria, ex-ministro das Comunicações, e Bruno Bianco, ex-advogado-geral da União. Os dois últimos também prestam serviços de relações institucionais e de assessoria jurídica para o BTG Pactual.
Também esteve ali o empresário Ricardo Faria, apelidado de “Rei dos Ovos”, dono da Granja Faria. Ele entrou na lista de bilionários da Forbes Brasil no ano passado com uma riqueza estimada em R$ 17,5 bilhões.
Na descrição de políticos que estiveram na casa e convivem com Vorcaro, o banqueiro costuma receber convidados com uma dose de uísque Macallan 12 anos, um de seus preferidos, cuja garrafa custa a partir de R$ 630 —valor que pode ser considerado modesto na comparação com suas extravagâncias.
Vorcaro já contratou o DJ Alok e gastou R$ 15 milhões no aniversário da filha em Nova Lima (MG), segundo valores divulgados pela imprensa local em 2023. Adepto do destilado, ele costuma promover degustações em ocasiões especiais.
Os políticos descrevem a casa em que se estabeleceu Vorcaro como uma das mais cobiçadas e elegantes de Brasília, ainda que não esteja instalada à beira do lago Paranoá. Localizada numa parte alta da quadra, tem vista privilegiada para um dos cartões-postais da cidade, a ponte JK, a partir de diversos pontos, como a sala de jantar, a área da piscina e a varanda do segundo andar.
O escritório studioHub, dos arquitetos Rebeca Maaldi e Ricardo Cury, elaborou o projeto da casa em 2012. As fotos que acompanham a reportagem são dessa época, anterior à entrada de Daniel Vorcaro.
Foi nos encontros realizados nesta casa, segundo relatos, que o banqueiro consultou aliados sobre a melhor estratégia de reação ao que via como ataques de concorrentes, especialmente André Esteves, chairman e sócio senior do BTG Pactual. Vorcaro atribui a ele, com quem disputa espaço político e de mercado, boa parte das notícias negativas sobre o Master e a negociação com o BRB. Esteves nega.
A casa foi comprada por uma empresa ligada a Vorcaro, a Super Empreendimentos e Participações.
Na época da aquisição, em junho de 2024, o cunhado de Daniel Vorcaro, Fabiano Zettel, era um dos diretores da Super. Ele entrou no capital social da empresa em 18 de agosto de 2021 e deixou em 23 de julho do ano passado, pouco depois da aquisição do imóvel.
Uma funcionária de Zettel, Ana Claudia Paiva, era do quadro social na época da compra da casa e permanece até hoje.
De acordo com documentos da Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo), a empresa pertence integralmente a um fundo, o Termópilas Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados.
O fundo é administrado pela Reag Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, que tem diversos negócios com Vorcaro. Uma dessas negociações foi a compra do WillBank, banco digital do Master.
Informações da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) mostram que o Termópilas é controlado por um outro fundo de investimentos, que é seu único cotista. Não é possível saber qual é esse fundo.
A Reag passou a administrar o Termópilas em dezembro de 2023, quando o capital da Super Empreendimentos e Participações aumentou de R$ 27,3 milhões para R$ 1,3 bilhão —hoje, o capital social da empresa é de R$ 2,6 bilhões.
Antes disso, a propriedade da empresa era dividida por dois fundos de investimento. O Jaguar Fundo de Investimento em Participações Multi Estratégias tinha quase 60% do capital social da empresa.
Ele era administrado pela Planner Trustee Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, empresa do então sócio de Vorcaro no Master, Mauricio Quadrado.
As demais ações da empresa pertenciam ao Kairo Fundo de Investimento em Participações – Empresas Emergentes, administrado pela Índigo Investimentos Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários.
A Índigo participou de uma emissão irregular de debêntures com Vorcaro. Por causa da irregularidade, o banqueiro pagou R$ 250 mil após assinar um termo de compromisso com a CVM. A Índigo pagou R$ 300 mil.
