Filho de pai norueguês e mãe brasileira, o esquiador Lucas Pinheiro Braathen, 25, é natural de Oslo, capital do país nórdico, mas com raízes bem fincadas no Brasil.
Com visitas frequentes ao país para visitar a família materna desde a infância, Braathen é fã de bossa-nova e futebol. Ele é torcedor do São Paulo.
Grande apreciador da culinária da região, em especial de churrasco, pão de queijo, brigadeiro e guaraná, também é considerado pelos pares um fenômeno em sua modalidade disputada em grandes morros cobertos de neve.
Em março de 2023, foi o campeão na categoria slalom da Copa do Mundo de esqui alpino, quando ainda defendia a bandeira da Noruega.
Apenas sete meses após a conquista, surpreendeu o mundo ao anunciar a aposentadoria precoce do esporte, devido a desentendimentos com a federação norueguesa sobre a condução de sua carreira.
Não demorou muito, contudo, para que Braathen voltasse às pistas geladas de esqui, em outubro de 2024, mas dessa vez defendendo as cores do Brasil.
Em dezembro do ano passado, ele foi o responsável por conquistar a primeira medalha do país em uma etapa da Copa do Mundo de esqui alpino, ficando com a prata em Beaver Creek, nos Estados Unidos.
Em março, encerrou a temporada 2024/25 em sexto na classificação geral e veio na sequência para um período de férias no Brasil antes de retomar os treinos com o foco nos Jogos de Inverno Milano Cortina, em 2026.
O objetivo é trazer a primeira medalha do país em uma Olimpíada de Inverno na história, retribuindo todo o carinho que passou a receber dos fãs brasileiros nos últimos meses.
“Meu sonho é voltar para o Brasil com uma medalha”, afirmou Braathen em entrevista na sede da CBDN (Confederação Brasileira de Desportos na Neve), no Itaim Bibi, em São Paulo.
Ele afirmou que durante sua estadia no país, com direito a uma parada no Rio de Janeiro para sessões de surfe com Pedro Scooby e Lucas Chumbo, já começou a ser parado nas ruas por fãs que fazem questão de agradecê-lo por representar as cores verde e amarelo nas competições na neve.
“Esse é um tipo de amor que só existe aqui no Brasil”, afirmou Braathen em um claro português com forte sotaque e um grande sorriso no rosto.
“Essa primeira temporada representando o Brasil foi uma jornada com muitas experiências muito lindas”, acrescentou, citando um fã brasileiro que pediu à mãe para preparar brigadeiros para lhe presentear durante uma etapa da Copa do Mundo.
Fã declarado do ex-atacante Ronaldo e chamado de ‘fenômeno’ em capa da revista francesa L’Équipe, Braathen afirmou que sentiu a pressão aumentar após a publicação, mas também não escondeu as ambições que alimenta no esporte.
“Eu tenho o sonho de virar o melhor do mundo. Eu quero virar um fenômeno. Essa pressão é um privilégio que me deixa achar meu potencial.”
Embora atue em uma modalidade ainda pouco conhecida entre os brasileiros, Braathen diz que quer servir como inspiração para os fãs para além do campo esportivo.
“Quero representar essas pessoas e mostrar que tudo é possível”, diz o jovem atleta, que é conhecido no circuito internacional pelas dancinhas durante as comemorações e pelas unhas pintadas com cores extravagantes.
Fã de moda, com publicações nas redes sociais vestindo trajes diferentes, Braathen afirma que vê o esporte apenas como mais uma forma de se expressar artisticamente junto ao público jovem que o acompanha.
“Meu jeito de esquiar é uma representação da minha personalidade, da minha história. Quero mostrar que não importa de onde você é, o seu sotaque, a sua roupa. Que o que importa são seus sonhos e que você pode fazer tudo o que quiser”, afirmou.
Ele acrescentou que a liberdade que tem para se expressar foi fundamental ao trocar a bandeira da Noruega pela do Brasil nas competições. “A liberdade é o mais importante. A maior diferença [entre as federações] é que estou em uma situação em que sou aceito.”
Quando se aposentar das competições de esqui alpino, as maiores conquistas além das medalhas, disse Braathen, terão sido as pessoas que ele inspirou ao longo do caminho.
Quando o momento da aposentadoria chegar, ele poderá realizar o sonho morar no Brasil, provavelmente no Rio de Janeiro, pela conexão com o mar e a natureza.
Algo que no momento não é possível não apenas pelos muitos compromissos profissionais na Europa, mas para que possa se manter em forma para competir. Isso porque, quando está no país, ele confessou que é difícil se controlar diante da fartura gastronômica. “Enquanto for um esquiador, não posso viver no Brasil, porque a comida aqui é uma delícia.”