Temos evidências de que a atividade de cuidado e participação dos homens na vida dos filhos é muito menor do que a das mulheres. Sabemos também dos impactos dessa divisão desigual em relação à participação no mercado de trabalho e ao volume de trabalho. Será que essa distribuição também impacta a vida dos filhos?
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2023 mostram que a alocação de horas de atividades de cuidado entre as mulheres muda a depender se elas têm filhos ou não. As mães trabalham em torno de 20 horas por semana nas tarefas domésticas; já as mulheres sem filhos, 15 horas, uma diferença de 33%. Homens sem filhos dedicam 11 horas por semana a tarefas domésticas. Os pais despendem o mesmo tempo, cerca de 11 horas.
Considerando que a presença de uma criança gera uma mudança, demanda cuidado e atenção, é curioso que o tempo de atividade de cuidado entre homens com e sem filhos seja igual. Nossa sociedade não está habituada a visualizar e colocar os homens nas atividades de cuidado e, no nascimento de um filho, o ajuste acontece para o lado feminino.
Certamente essa decisão impacta todos os envolvidos, mas como medir a diferença de um pai presente de forma saudável na vida dos filhos? A Pnad traz dados sobre a probabilidade de um jovem de 16 anos concluir o ensino médio, e também sobre a presença do pai no mesmo domicílio. Será que ter o pai em casa auxilia na redução da evasão escolar? Sabemos que para os filhos o que importa não é necessariamente ter um pai na mesma casa, mas ter um pai presente. Mesmo assim, podemos usar essa evidência da Pnad, sabendo das limitações.
Encontramos que um menino negro que não mora com o pai tem 20% de probabilidade de evadir, enquanto um menino negro que mora com o pai tem 12% de probabilidade, um impacto de 8% na probabilidade de evasão em caso de ausência paterna. Uma menina branca que não mora com o pai tem 9% de probabilidade de evasão, enquanto uma que vive com o pai tem 6% de probabilidade, uma diferença de 3%. Assim, o pai pode ser tão importante quanto o programa Pé-de-Meia, do governo federal.
A conclusão do ensino médio aumenta a empregabilidade, a produtividade, a saúde, entre outros aspectos. A presença paterna saudável influencia em muitas instâncias e áreas da vida que não a escolar. É de se esperar que ter um pai participativo fará com que seus filhos sejam mais seguros emocionalmente, o que novamente gera uma série de efeitos positivos.
As implicações para a política pública são óbvias: precisamos estimular e incentivar a paternidade ativa saudável em todas suas formas. Um primeiro passo importante e que tem efeitos cascata é a licença-paternidade. Os atuais cinco dias sinalizam para as famílias e para a sociedade em geral que o papel do pai é menos relevante. É crucial reforçar que a função paterna é tão importante quanto a da mãe, desde o início da vida de uma criança.
Para além da licença-paternidade, estratégias de comunicação sobre a importância da paternidade tardam a acontecer, afinal, eles merecem saber que são tão importantes para os filhos quanto a principal estratégia de melhoria educacional do governo federal.