O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, neste mês celebrou uma “nova energia” no relacionamento de Nova Déli com “toda” a América Latina, enquanto a economia de maior crescimento do mundo tenta aprofundar laços com o continente para garantir os minerais necessários para atingir suas ambiciosas metas de energia verde.
A América Latina possui as maiores reservas de lítio do mundo e a Índia está pressionando grupos de mineração a buscar reservas no “triângulo do lítio” —entre Argentina, Bolívia e Chile— onde a maioria dos recursos comprovados da região está localizada.
Nas últimas semanas, Modi se reuniu com o presidente chileno Gabriel Boric em Nova Déli para discutir o “fornecimento de minerais a longo prazo”— particularmente aqueles necessários para a transição energética, como cobre e lítio.
“Naturalmente, minerais críticos são uma peça-chave na matriz”, disse Periasamy Kumaran, um alto funcionário do ministério das Relações Exteriores da Índia, referindo-se ao Chile.
A nova busca por minerais reflete o compromisso ambicioso de Modi de alcançar emissões líquidas zero de carbono até 2070 em um país que é o terceiro maior poluidor globalmente.
“A aproximação da Índia com a América Latina reflete uma crescente consciência em Déli de que garantir acesso a minerais críticos é agora um imperativo estratégico”, disse Oliver Stuenkel, especialista em Brics da Fundação Getulio Vargas. “Trata-se de impulsionar o papel da Índia na cadeia global de suprimentos da transição energética.”
Nova Déli também sediou no mês passado um encontro empresarial Índia-América Latina, focado no acesso aos minerais necessários para atingir sua meta ambiciosa de ter 30% de seus veículos movidos a eletricidade até 2030.
Durante a visita de Boric, a Codelco do Chile, a maior mineradora de cobre do mundo, fechou um acordo com a estatal indiana Hindustan Copper. Também disse que forneceria concentrados de cobre para o Grupo Adani, de propriedade de um dos magnatas mais poderosos da Índia e aliado de Modi.
“A Índia tem um enorme apetite por cobre, há um senso de urgência —somos uma combinação perfeita”, disse Máximo Pacheco, presidente da Codelco, ao Financial Times em Nova Déli.
Ele acrescentou que “a Índia logo se tornará uma grande compradora de lítio chileno”, um componente-chave para baterias de veículos elétricos. A mineradora estatal está assumindo uma participação majoritária na SQM do Chile, a segunda maior produtora mundial, como parte da estratégia de Boric de trazer o lítio para o controle estatal.
Nova Déli abriu várias novas embaixadas na América Latina desde que Modi assumiu o cargo há uma década, a mais recente na Bolívia, rica em lítio.
“Nossa ideia é abrir o maior número possível de embaixadas”, disse um diplomata indiano sênior. “Não estávamos focados na América Latina com força —agora estamos.”
No ano passado, a Índia assinou um acordo com a Argentina para arrendar cinco blocos de lítio para exploração e eventual extração, em um acordo “histórico” entre a estatal indiana Khanij Bidesh India e a Catamarca Minera y Energetica Sociedad del Estado, que é de propriedade do governo provincial.
“Quando se trata de Índia e América Latina, a Índia não pode competir com a China”, disse Manjeet Kripalani, diretora executiva do Gateway House Indian Council on Global Relations em Mumbai.
“Mas minerais críticos são muito importantes para nós, temos grandes necessidades. Se quisermos sustentar mais de 1,4 bilhão de pessoas, precisamos sair para obter os minerais necessários e faremos isso dentro de nossa capacidade.”
O ministro das Relações Exteriores, Subrahmanyam Jaishankar, reuniu-se com sua homóloga boliviana, Celinda Sosa, em março, enquanto empresas da Índia e da Bolívia estão “explorando o setor de baterias de íons de lítio na Bolívia”, segundo o governo indiano.
Embora o lítio tenha sido encontrado apenas recentemente no território disputado do norte da Índia, Jammu e Caxemira, e no estado central de Chhattisgarh, a Índia possui modestas reservas de cobre em Rajasthan, Jharkhand e Madhya Pradesh.