O chefe de hidrogênio da Toyota alertou que veículos movidos pelo combustível verde podem sofrer o mesmo destino dos carros elétricos movidos a bateria, com o domínio dos grupos chineses nas cadeias de suprimentos e exportações, a menos que outros países aumentem os investimentos na tecnologia.

Mitsumasa Yamagata, presidente da divisão da montadora japonesa, disse que a China está assumindo a liderança na infraestrutura para caminhões de hidrogênio, reduzindo os custos de combustível para um terço do que o Japão gasta e ainda está construindo rapidamente estações de reabastecimento. A China já responde pela maior parte das vendas mundiais de veículos comerciais a hidrogênio.

“Todos os interessados agindo simultaneamente é a coisa mais importante para reduzir o custo do hidrogênio”, apontou Yamagata. “A China é a mais avançada do mundo em caminhões a hidrogênio. O motivo pelo qual estão tão avançados é porque o governo chinês ordenou a transformação das principais rotas logísticas em rodovias de hidrogênio.”

Células de combustível de hidrogênio —que geram eletricidade através de uma reação química com oxigênio, emitindo apenas vapor de água— oferecem grande promessa para o transporte de longa distância, pois as baterias são consideradas muito pesadas e requerem muita recarga para veículos comerciais.

Montadoras asiáticas, incluindo a Toyota e a sul-coreana Hyundai, apostaram no hidrogênio como combustível do futuro, mesmo enquanto os veículos movidos a bateria estão em alta e reduzem a oportunidade de mercado para o gás incolor.

Mas realizar simultaneamente a produção de combustível limpo e barato, construir estações de reabastecimento e produzir carros a hidrogênio de baixo custo tem se mostrado difícil. O futuro de grandes projetos de infraestrutura é questionado, pois os custos aumentaram e os subsídios são considerados insuficientes.

Os fundos dos EUA para projetos de hidrogênio correm o risco de serem cortados com o presidente Donald Trump. Os planos do Japão para suas próprias rodovias de hidrogênio e subsídios para importar o combustível têm avançado lentamente, e auditores classificaram como “irreal” a meta da UE de produzir e importar 10 milhões de toneladas de hidrogênio renovável até 2030.

Mesmo na China, o papel do hidrogênio no transporte comercial não está garantido. As vendas de caminhões e ônibus elétricos a bateria têm crescido rapidamente, ajudando as vendas de veículos comerciais com emissão zero a dobrar para um recorde de 230 mil em 2024, segundo o Conselho Internacional de Transporte Limpo.

Yamagata afirmou que carros a bateria e a hidrogênio eram tecnologias em um “período de transição”, mas os veículos movidos a bateria estavam levando as redes elétricas perto da sobrecarga e eram inadequados para transportar cargas pesadas em longas distâncias, exigindo várias soluções de descarbonização.

As vendas da China de ônibus e caminhões com células de combustível de hidrogênio em 2024 foram maiores que todas as outras regiões do mundo juntas, com 7.069 unidades, de acordo com o provedor de dados Interact Analysis.

Em abril, a mídia estatal chinesa divulgou o lançamento da primeira rota de caminhões a hidrogênio entre regiões do país, abrangendo 1.150 km entre Chongqing e o porto de Qinzhou, no sul do país.

O hidrogênio na China custa entre 500 ienes e 1.000 ienes (entre US$ 3,50 a US$ 7) por quilograma contra 2.000 ienes (US$ 14) no Japão, apontou o diretor da Toyota, embora parte dessa vantagem se deva à produção do combustível como subproduto na fabricação de aço.

O chefe de hidrogênio da Toyota disse que a liderança da China não era inalcançável, mas que ações urgentes eram necessárias. “Não temos muito tempo restante. É importante acelerar rapidamente”, diagnosticou.

Líder mundial em vendas, a Toyota tem sido a principal defensora de veículos a hidrogênio do setor, desenvolvendo a tecnologia por mais de 30 anos e vendendo 28 mil carros Mirai com célula de combustível desde seu lançamento em 2014. BMW e Honda também estão atrás da tecnologia.

Enquanto a Toyota reduziu suas expectativas de que o hidrogênio revolucionaria o mercado automobilístico no curto prazo, à medida que as vendas de veículos elétricos a bateria decolam, o grupo japonês mudou seu foco para fazer sua tecnologia de célula de combustível ter sucesso nos mercados de caminhões e ônibus.

Recentemente, revelou sua célula de combustível de hidrogênio de terceira geração, que dura tanto quanto um motor a diesel e pode ser instalada como uma unidade única em veículos comerciais, ajudando a reduzir custos.

A Toyota acredita que sua aposta no hidrogênio será bem-sucedida, assim como foi sua busca de décadas por veículos híbridos. Na China, planeja disputar participação de mercado através de joint ventures com empresas locais. No ano passado, abriu uma fábrica em Pequim com a SinoHytec que pode produzir até 10 mil sistemas de célula de combustível por ano.

Yamagata disse que a Toyota usaria o mercado chinês como um local para trabalhar em sua tecnologia antes de lançá-la para o resto do mundo.

“Ao refinar nossos produtos no difícil ambiente de mercado da China, lançaremos produtos competitivos no Japão, Europa e EUA posteriormente”, afirmou.