Parte do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende devolver de modo antecipado o dinheiro roubado de aposentados e pensionistas do INSS, como noticiou esta Folha. Tentaria recuperar o prejuízo depois, fazendo a quadrilha devolver o fruto da roubança —hum.
Tal providência ajudaria também a colocar um esparadrapo na sangria de imagem provocada pela facada do escândalo. É no que acreditam pessoas próximas de Lula, a turma do Planalto, digamos assim.
Parte do governo Lula acha que isso não chega a ser uma má ideia, pois não é uma ideia. Além de dúvidas sobre os meios legais de implementação da medida, não se sabe qual o tamanho do esbulho, quem tem direito a receber o que foi roubado, como serão definidos os critérios para tomar tal decisão, como será o processo (governo decide? Lesados podem recorrer?), qual período de descontos entrará no cálculo etc. A providência pode resultar em confusão e insatisfações extras. Foi imprudência vazar o plano, diz esta parte do governo.
O caldo do escândalo ainda ferve e pode escorrer da panela, fazendo mais sujeira —aparecem os cadernos de anotação da propina, aprovação de descontos em massa. Mesmo depois que o caso foi parar na Polícia Federal, o governo reagiu de modo tardio, burocrático e politiqueiro. O descalabro no INSS, porém, é antigo, vai além da roubança.
É mais um pneu careca do governo Lula: uma instituição importante é largada na mão de um agregado político, sem projeto de reforma e modernização. A turma do “Careca do INSS” apenas estourou esse pneu. Há outros pneus lisos, vide o caso do setor elétrico, para citar apenas um que pode dar rolo grande ainda sob Lula 3. Tomara que chova neste 2025.
As notícias policiais jorram. O escândalo pode ficar ainda mais midiático —já tem “carrão”, daqui a pouco aparece mala de dinheiro e sabe-se lá quem mais meteu a mão.
Vai se descobrindo como mais autoridades da Previdência eram omissas; como o Congresso, petistas inclusive, não deu a mínima para tentativas de conter os descontos não autorizados.
O governo trocou seis por meia dúzia no comando do ministério da Previdência, mais um esparadrapo, em vez de aproveitar a ocasião para virar o jogo e fazer reorganização geral do INSS. Talvez daqui a pouco seja preciso trocar o ministro.
No cálculo político pequeno ou sem imaginação, o governo achou que pudesse manter o PDT na órbita política. Nem isso. O PDT não pode fazer lá grande estrago, mas diz que agora é “independente”. Mais um vexame e sinal de fraqueza, como gente do União Brasil esnobando nomeação para ministério.
A oposição, claro, quer faturar o caso com CPI, que não costuma dar em nada de prático e decente, mas rende avacalhação do governo. Por ora, dizem líderes da Câmara, é quase impossível haver investigação. Mas o show não terminou, o que pode incentivar uma CPI mista, com deputados e senadores.
Vai ter barganha para barrar tal CPI, ainda mais se aparecer mais podre e a revolta pode ferver nas redes. Até agora, dizem entendidos, a repercussão não era grande. Nesta semana, o clima começou a mudar.
Por sorte do governo, por assim dizer, a extrema direita e o direitão não foram a fundo na campanha, pois a roubança vem de 2016, o que inclui na lambança o INSS sob Michel Temer e sob Jair Bolsonaro.
Enquanto isso, Lula viaja. Depois da Rússia, Lula irá à China.