/ May 06, 2025

Índia tenta erguer indústria solar para superar China – 06/05/2025 – Mercado

A China, a potência mundial em energia limpa, tem um rival por perto. E nada menos que um de seus principais clientes.

A Índia, grande compradora de painéis solares e baterias de veículos elétricos chineses, está usando uma série de incentivos do governo para fabricar mais equipamentos verdes em seu próprio território.

Isso é motivado não apenas pela necessidade de satisfazer as crescentes demandas energéticas de seus 1,4 bilhão de habitantes, mas também para lucrar com outros países que desejam proteger suas cadeias de suprimento energético da dependência chinesa, principalmente os Estados Unidos.

A Índia continua sendo uma pequena parte de um mercado no qual chegou tarde. No ano passado, produziu cerca de 80 gigawatts de módulos solares, enquanto a China produziu mais de 10 vezes esse valor. A Índia ainda está vinculada ao carvão, o combustível fóssil mais poluente. O carvão é sua maior fonte de eletricidade, e planeja extrair ainda mais.

Mas o país está tentando agressivamente aproveitar a transição energética global e a reação contra a dominação chinesa nas novas tecnologias energéticas.

Esperando estimular um boom na fabricação de equipamentos de energia limpa, o governo está oferecendo subsídios lucrativos para células solares e baterias produzidas localmente, e está restringindo produtos estrangeiros em seus maiores projetos de energia renovável.

Para aproveitar os contratos públicos para instalar energia solar em telhados para 27 milhões de residências até o final desta década, por exemplo, as empresas devem fabricar os painéis localmente.

Para Nova Déli, existem imperativos sociais, econômicos e geopolíticos. A China é sua rival mais formidável —os dois países já entraram em guerra por disputas de fronteira— então a busca da Índia para construir fábricas de energia solar, eólica e de veículos elétricos é parcialmente projetada para garantir sua cadeia de suprimento energético.

Ao mesmo tempo, a Índia quer criar empregos bem remunerados na indústria.

Ainda assim, o país enfrenta um problema que afeta muitos outros países: ou comprar tecnologias de energia renovável o mais barato possível da China, ou gastar mais para fabricar os produtos em casa.

“Estrategicamente, para garantir nossa independência energética, precisamos ter capacidade de fabricação”, disse Sudeep Jain, secretário adicional do Ministério de Energia Nova e Renovável da Índia. “Atualmente, sim, existe uma arbitragem de custos.”

O problema é que a China controla os componentes básicos dos produtos de energia renovável. Mais de 90% do silício policristalino que vai para painéis solares está sob controle chinês.

Assim, mesmo com a Índia expandindo rapidamente sua produção de painéis solares, ela ainda importa a maioria das células que compõem os painéis, principalmente de empresas chinesas. E as empresas indianas que fabricam células solares normalmente importam wafers de silício principalmente da China.

A Índia tem uma pequena indústria de baterias, e tem se mostrado difícil, por uma série de razões, aumentar sua escala.

Duas empresas indianas que fabricam baterias para veículos elétricos, Reliance Industries e Ola Electric, recentemente não atingiram as metas de produção que haviam prometido em troca de subsídios do governo. Não ajuda o fato de que a China domina o processamento de minerais essenciais para baterias, como o lítio.

A China tem “vantagem de primeiro movimento”, disse Amit Paithankar, CEO da Waaree Energies, a maior fabricante de painéis solares do país. “Temos de ser proativos e fazer parte da solução na diversificação da cadeia de suprimentos para a Índia, para os EUA e para o mundo.”

EMPRESTANDO IDEIAS

A Índia está seguindo o modelo chinês em pelo menos um aspecto. Está contando com sua enorme demanda interna.

A capacidade eólica e solar da Índia quase dobrou nos últimos cinco anos, de acordo com a empresa de pesquisa Ember, tornando-a a terceira maior geradora de eletricidade a partir de fontes renováveis do mundo, depois da China e dos Estados Unidos. Planeja incorporar 500 gigawatts de fontes não fósseis em sua rede elétrica até 2030.

O governo implementou tanto incentivos quanto restrições para estimular a produção.

Nos últimos anos, houve subsídios para painéis solares produzidos localmente. Esses estão sendo descontinuados, mas novos subsídios começarão no próximo ano para células solares produzidas localmente que vão para painéis, bem como para células de bateria.

A demanda doméstica não é o único motor. No ano passado, mais da metade dos módulos solares da Índia acabaram em solo americano.

Agora, o fator imprevisível para os sonhos de exportação da Índia é o caos tarifário semeado pelo presidente Donald Trump.

As últimas tarifas do governo Trump sobre mercadorias importadas da Índia são muito mais baixas (27%) do que as novas tarifas sobre produtos chineses (145%) e sobre aqueles do Sudeste Asiático (até 3.500%), onde empresas chinesas se estabeleceram.

O primeiro-ministro indiano Narendra Modi tem procurado cultivar relações cordiais com Trump, e autoridades dos dois países dizem que esperam negociar um acordo comercial bilateral neste mês.

“Seja o que for que os Estados Unidos vão importar, ainda podemos ser os mais competitivos”, disse Jain.

VENDENDO PARA OS EUA

A questão para as empresas de energia renovável agora é se elas se concentram no mercado indiano ou se esforçam para vender produtos fabricados na Índia no exterior.

Até recentemente, uma estratégia de exportação era bastante lucrativa para a Waaree. A empresa obteve a maior parte de seu lucro no ano passado exportando seus painéis solares fabricados na Índia para os Estados Unidos.

Atraída pelos incentivos fiscais oferecidos pelo governo Biden, a Waaree investiu US$ 1 bilhão em uma fábrica de painéis solares em Houston.

As exportações de outras empresas também aumentaram. Entre 2022 e 2024, a exportação de módulos solares indianos cresceu “exponencialmente” em 23 vezes, de acordo com o Institute for Energy Economics and Financial Analysis, um grupo de pesquisa. O crescimento foi tão espetacular que o grupo concluiu que a Índia poderia potencialmente substituir os países do Sudeste Asiático como o principal fornecedor de energia solar fotovoltaica para os Estados Unidos.

Então Trump assumiu o cargo. O futuro da energia solar nos Estados Unidos tornou-se muito mais incerto. As ações da Waaree caíram. A empresa pretende continuar fabricando painéis solares para os americanos, disse Paithankar.

No final, se as empresas indianas conseguirão entrar na cadeia de suprimentos de energia renovável depende menos da Índia e mais das compensações geopolíticas que cada governo terá que fazer.

“Se podemos nos tornar uma alternativa à China depende do que outros países fazem”, disse Sumant Sinha, CEO da ReNew Power, que constrói equipamentos solares e eólicos para o mercado doméstico indiano. “Se todos disserem: ‘Vou comprar barato’, então a China acabará dominando.”

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