/ May 07, 2025

Normalização da mediocridade – 06/05/2025 – Tostão

Na semana passada, operei de catarata e estou maravilhado com a minha nova e nítida visão. As pessoas, o ambiente e o jogo de futebol na televisão estão mais bonitos e coloridos. Nos últimos tempos, me acostumei e me adaptei a diminuição lenta e progressiva da visão até perceber o quanto ela me prejudicava. Lamentável que a maior fila de pessoas a espera de uma cirurgia eletiva no SUS é a de catarata. Milhares de idosos teriam uma vida muito melhor.

Na vida e no futebol, as pessoas se acostumam com os chavões, comportamentos, estratégias de jogo até levarem um susto e descobrirem os enganos e a nova realidade. Assim foi nos 7×1 para os alemães e nos 4×1 para a Argentina, quando ficaram escancaradas as nossas deficiências, especialmente coletivas.

Precisamos evoluir, nos desacostumar e nos libertar das repetições ultrapassadas que ocorrem no nosso futebol. Os enormes espaços deixados entre os setores e a marcação de longe é ainda muito frequente e ultrapassada, a não ser quando é necessário alternar em uma mesma partida a marcação mais avançada e a mais recuada. Guardiola gosta de dizer que é menos cansativo e mais eficiente correr para a frente para pressionar quem está com a bola do que correr para trás e fechar os espaços na defesa para contra atacar.

O Cruzeiro, como tinha ocorrido contra o bom time do Bahia, marcou o Flamengo por pressão em bloco e anulou a saída de bola e a troca de passe desde a defesa. Quando não dava para pressionar, o Cruzeiro recuava a marcação e formava duas linhas de quatro sem espaços entre elas para evitar que os excelentes meias Arrascaeta e Gerson recebessem a bola.

A maioria dos treinadores, analistas e torcedores se acostumaram com os posicionamentos fixos, as camisas 9, 10, 8 e 5 como se fossem avatares de uma disputa eletrônica. Falta à seleção brasileira, além de ótimos laterais, um verdadeiro centroavante que faz gols, se movimenta por todo o campo e participa da armação coletiva das jogadas, como o inglês Kane. No Brasil, ele seria chamado de falso 9. Falta também um craque meio-campista, como Pedri, do Barcelona, que atua de uma intermediaria à outra, mistura de camisa 8 e 10. Falta ainda mais um craque no meio-campo, volante que marca e inicia as jogadas ofensivas com excelentes passes, como o espanhol Rodri, o holandês De Yong e o alemão Kimmich. Estes craques não existem no Brasil porque não são formados. É a normalização da mediocridade.

Muitas pessoas, no cotidiano, de todas as áreas, se acostumam com as repetições, opiniões, comportamentos até perceberem uma nova realidade. “fiz de mim o que não soube e o que podia fazer de mim não o fiz… Quando quis tirar a mascara, estava apegada à cara. Quando a tirei e me vi no espelho, já tinha envelhecido” (Fernando Pessoa).

O Brasil, há tempos, se acostumou e normalizou a miséria, a corrupção, a falta de saneamento básico e a violência urbana, cada dia mais assustadora. Sonho morar com as pessoas queridas na minha Pasárgada, cidade idealizada e imaginaria de um poema de Manuel Bandeira, onde poderia caminhar distraído por todas as ruas e bairros, sem preocupações em ser roubado, assaltado.


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