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O avião estabilizou, mas o pouso dos juros ainda vai demorar – 07/05/2025 – De Grão em Grão

Imagine um piloto que começa a reduzir a potência dos motores para preparar o pouso. Os passageiros sentem a desaceleração e se acomodam nos assentos, acreditando que a aterrissagem está próxima. Mas, ao se aproximar do aeroporto, o comandante percebe uma frente de instabilidade e decide manter o avião estabilizado em altitude por mais tempo. O clima não permite descer. Foi esse o recado do Banco Central na reunião de hoje (quarta-feira).

O Copom elevou a Selic para 14,75% ao ano, um aumento de 0,50 ponto percentual — em linha com o que o mercado projetava. Mas o verdadeiro alerta veio nas palavras. O comitê foi firme em afirmar: “Tal cenário prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta.”

Essa afirmação reposiciona a sinalização de política monetária. Se até recentemente uma parte dos agentes econômicos apostava que os juros começariam em breve, o Banco Central tratou de ajustar essas expectativas. Não apenas voltou a subir a taxa, como indicou que ela deverá permanecer elevada por um bom tempo — sem pressa para iniciar uma reversão.

Ao mesmo tempo, o Copom adotou um discurso mais cauteloso, reconhecendo que o ciclo de aperto já avançou bastante e que os efeitos defasados das medidas anteriores ainda devem impactar a economia nos próximos meses. Em vez de anunciar novas altas, o comitê afirma que a política dependerá dos dados. O tom é de transição, mas o conteúdo ainda é de firmeza.

Isso marca uma inflexão em relação aos comunicados anteriores. Em janeiro e março, o Banco Central subiu os juros com discurso duro, deixando claro que novas altas estavam no radar. Agora, mesmo sem afirmar explicitamente que o ciclo chegou ao fim, o BC dá a entender que só voltaria a subir os juros caso o cenário se deteriore de forma relevante. A postura é de vigilância — não mais de ofensiva. (No fim do texto, incluo uma tabela comparativa das últimas cartas com a atual para entender a evolução dos comunicados)

Embora possa ter encerrado o ciclo de alta, o BC afirma que os riscos permanecem. A inflação segue pressionada, principalmente nos serviços. As expectativas para 2025 e 2026 continuam acima da meta, e a projeção do próprio Copom para 2026, no cenário de referência, é de 3,6%, acima da meta de 3%. Internamente, a política fiscal ganha destaque como fator de pressão, e, externamente, a política econômica do governo Trump adiciona incerteza com reflexos nos preços de ativos e no câmbio.

Para o investidor, o recado é claro: mesmo que o ciclo de alta esteja perto do fim ou encerrado, a fase de juros elevados está longe de terminar. A ideia de um pouso breve dos juros foi adiada. E os ativos que dependem de cortes iminentes, como ações e prefixados longos, terão que esperar.

O avião desacelerou, mas segue em altitude de cruzeiro. O Banco Central decidiu manter a cabine em modo de observação — e, por enquanto, o trem de pouso continua recolhido.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Abaixo, tabela comparativa e resumida das últimas cartas para entender a evolução dos comunicados.










Aspecto Janeiro 2025 Março 2025 Maio 2025
Decisão de política monetária Aumento da Selic em 1,00 p.p., para 13,25% a.a. Aumento da Selic em 1,00 p.p., para 14,25% a.a. Aumento da Selic em 0,50 p.p., para 14,75% a.a.
Tom do comunicado Hawkish: Enfatiza a desancoragem das expectativas de inflação e a necessidade de uma política monetária mais contracionista. Hawkish com flexibilidade: Indica continuidade do aperto, mas com possibilidade de ajustes menores, dependendo da evolução do cenário econômico. Hawkish reforçado: Destaca riscos elevados para a inflação e a necessidade de manter juros elevados por período prolongado.
Cenário externo Ambiente desafiador devido à política econômica dos EUA, gerando incertezas sobre a desaceleração e a desinflação globais. Mantém preocupação com a política econômica dos EUA e seus efeitos sobre a economia global. Reforça a adversidade e incerteza do ambiente externo, especialmente devido à política comercial dos EUA e seus impactos inflacionários heterogêneos.
Cenário doméstico Atividade econômica e mercado de trabalho aquecidos, com inflação acima da meta. Observa sinais de moderação no crescimento, mas inflação cheia e medidas subjacentes permanecem elevadas. Indica incipiente moderação no crescimento, mas destaca que a inflação cheia e as medidas subjacentes continuam acima da meta.
Expectativas de inflação Expectativas para 2025 e 2026 acima da meta, com projeções do Copom indicando inflação persistente. Expectativas de inflação permanecem elevadas, com projeções indicando necessidade de política monetária contracionista. Expectativas de inflação para 2025 e 2026 continuam acima da meta, com projeção de 3,6% para 2026 no cenário de referência.
Sinalização futura Indica continuidade do aperto monetário, com possibilidade de nova alta de mesma magnitude na próxima reunião. Sinaliza possível ajuste de menor magnitude na próxima reunião, dependendo da evolução do cenário. Não antecipa decisão para a próxima reunião, destacando a necessidade de cautela adicional e flexibilidade para incorporar novos dados que impactem a dinâmica de inflação. Mas perspectiva de cenário contracionista por longo prazo.


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