O Reino Unido e a Índia concordaram nesta terça-feira (6) com um “acordo histórico” de livre comércio, que Londres afirmou que impulsionará a economia britânica em 4,8 bilhões de euros (R$ 31,1 bilhões) a longo prazo, com grandes reduções nas tarifas indianas sobre exportações britânicas de uísque e carros.
As negociações, que se arrastaram por três anos, foram aceleradas após o presidente dos EUA, Donald Trump, impor tarifas globais no mês passado, com Londres e Nova Déli querendo estreitar os laços comerciais.
“Em um marco histórico, Índia e Reino Unido concluíram com sucesso um Acordo de Livre Comércio ambicioso e mutuamente benéfico,” postou o primeiro-ministro indiano Narendra Modi no X (ex-Twitter) após uma conversa com seu homólogo britânico, Keir Starmer.
Modi acrescentou que o acordo “ajudará a catalisar o comércio, o investimento, o crescimento, a criação de empregos e a inovação em ambas as economias” e que Starmer visitará a Índia em breve.
Ministros britânicos esperam que o acordo com a Índia possa ser um prelúdio para a assinatura de um acordo com Trump nos próximos dias, antes de um pacto com a UE (União Europeia) para melhorar os laços comerciais bilaterais em um encontro em 19 de maio.
Enquanto o Reino Unido garantiu tarifas mais baixas para exportações à Índia, incluindo uísque, gim e carros, Nova Déli buscava melhores condições para permitir que seus profissionais trabalhassem no setor de TI, além de redução de tarifas sobre têxteis.
Starmer disse que o acordo era uma resposta a “uma nova era para o comércio e a economia” e um sinal de que seu governo, que sofreu nas eleições locais na semana passada, estava entregando resultados ao povo britânico.
“Hoje, concordamos com um acordo histórico com a Índia, uma das economias de crescimento mais rápido do mundo, que irá impulsionar a economia e beneficiar o povo e os negócios britânicos”, disse ele.
As tarifas sobre uísque e gim serão reduzidas pela metade, de 150% para 75%, antes de caírem para 40% até o décimo ano do acordo. As tarifas sobre carros cairão de mais de 100% para 10%, sujeitas a cotas.
O governo do Reino Unido afirmou que os cortes nas tarifas sobre produtos indianos ajudarão a proporcionar aos consumidores britânicos “preços mais baixos e mais opções” em áreas como roupas, calçados e alimentos, como camarões.
Embora os detalhes completos ainda não estejam disponíveis, espera-se que o pacto comercial seja um dos mais significativos assinados pelo Reino Unido desde sua saída da União Europeia, após acordos com Austrália e Japão.
Também é provável que seja um dos acordos mais importantes assinados pela Índia sob o governo de Modi, que já firmou acordos de livre comércio com Emirados Árabes Unidos, Austrália e a Associação Europeia de Livre Comércio na última década.
Com base no comércio de 2022, o acordo levaria a Índia a cortar tarifas equivalentes a mais de 400 milhões de euros (R$ 2,6 bilhões) por ano quando o acordo entrar em vigor, aumentando para cerca de 900 milhões de euros (R$ 5,8 bilhões) após 10 anos, segundo o governo britânico.
O governo acrescentou que espera que o acordo aumente o comércio bilateral em 25,5 bilhões de euros (R$ 165 bilhões) e o PIB do Reino Unido em 4,8 bilhões de euros (R$ 31 bilhões) a longo prazo. O comércio bilateral entre Reino Unido e Índia foi de 42,6 bilhões de euros (R$ 276 bilhões) em 2024, enquanto o PIB britânico foi de 2.851 bilhões de euros (R$ 18,8 bilhões).
O anúncio afirmou que o acordo traria “certeza de mercado” para as exportações de serviços do Reino Unido, atualmente no valor de 500 bilhões de euros (R$ 3,2 trilhões) por ano. No entanto, a Law Society da Inglaterra e do País de Gales disse que o acordo falhou ao não incluir os serviços jurídicos, o que consideraram uma “oportunidade perdida”.
O governo britânico insistiu que o acordo comercial não envolve mudanças em seu sistema de vistos ou estratégia de imigração, num momento em que o partido Reform UK faz campanha intensa sobre o tema.
Autoridades britânicas afirmaram que o acordo tornará o processo o mais simples possível para que empresas indianas transfiram temporariamente profissionais para o Reino Unido.
Esses profissionais indianos não precisarão pagar contribuições para o seguro nacional durante transferências interempresariais de curto prazo para o Reino Unido, mas ainda estarão sujeitos aos mesmos limites salariais e terão de pagar a taxa do NHS para trabalhadores imigrantes.
A Índia manterá tarifas sobre produtos lácteos, enquanto o Reino Unido manterá restrições sobre alguns produtos agrícolas, como arroz.
A Índia foi o segundo maior mercado exportador de uísque escocês por volume em 2023, segundo a Associação de Uísque Escocês, que chamou o acordo de um “momento histórico” para o setor. A Índia é o terceiro maior mercado para carros, atrás dos EUA e da China, embora o departamento de negócios tenha dito que esses estarão sujeitos a uma “cota”, sem dar mais detalhes.
Sam Lowe, especialista em comércio na consultoria Flint Global, disse que estar entre os primeiros países a fechar um acordo de livre comércio com a Índia foi uma vitória para o Reino Unido, mas os benefícios reais só ficarão claros com o tempo.
