A renda fixa pós-fixada se tornou ainda mais atrativa após a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) desta quarta-feira (7).
O colegiado do BC (Banco Central) optou por elevar a taxa básica de juros do país em 0,50 ponto percentual, a 14,75% ao ano, dando mais um impulso à classe de investimentos que tem rentabilidade ligada à Selic ou ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), seu equivalente.
“Como os pós-fixados acompanham a taxa de juros, os Tesouro Selic terão uma rentabilidade próxima a 15%, um pouco maior do que a apresentada até então”, diz Antonio Sanches, analista de alocação da Rico.
Em se tratando de uma modalidade de investimento de baixo risco e de alta rentabilidade, o especialista considera ser uma oportunidade válida para qualquer perfil de investidor. Mas o pulo do gato está no prazo de alocação.
Analistas têm se dividido quanto ao momento em que o ciclo de aperto monetário do Copom chegará ao fim. Enquanto alguns apostam que a elevação desta quarta foi a última, outros vêem espaço para mais uma alta residual de 0,25 ponto na próxima reunião, em junho.
A expectativa, segundo o último boletim Focus, é que a taxa de juros de referência chegue ao fim de 2025 em 14,75%. Ou seja: pode permanecer estacionada no atual patamar ou ter a possível nova elevação da próxima reunião cortada até o último encontro do Copom do ano.
Com a possibilidade do fim do ciclo de aperto, “é preferível que, no curto prazo, as alocações sejam em ativos indexados ao CDI, especialmente no caso de clientes mais conservadores”, diz Rafael Winalda, especialista em renda fixa do Inter.
Isso porque, ainda que a escalada da Selic possa ter chegado ao fim, a taxa básica de juros está no maior patamar em quase duas décadas e, mesmo que haja cortes, deve permanecer em dois dígitos nos próximos anos.
“Existe o risco dos juros começarem a cair e, com isso, os pós-fixados vão perder um pouco da rentabilidade. Mas estando a Selic acima de dois dígitos, a rentabilidade continua boa”, diz Sanches, da Rico.
A assessoria One Investimentos tem começado a priorizar alocações híbridas, que acompanham o CDI e também prevêem um adicional fixo. “Os CDI+ acabam sendo vantajosos nesse cenário em que os juros nominais estão diante de uma possível redução. Olhando para um horizonte de pelo menos um ano à frente, essas alocações, por terem uma parcela fixa de rentabilidade, entregam uma performance melhor”, diz João Ferreira, sócio da financeira.
Nesta quarta, o Tesouro Selic com vencimento em 2031 e liquidez diária era negociado com uma rentabilidade de Selic acrescida de 0,1153% ao ano. Com a nova taxa, isso equivale a 14,86% ao ano. Trata-se de um ganho real de 9,46%, considerando a inflação prevista em 5,4% para os próximos 12 meses, segundo o C6 Bank.
Para prazos mais longos, os especialistas vêem como a bola da vez investimentos que acompanham o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial da inflação do país.
O Tesouro Direto ofertava, nesta quarta, títulos do IPCA com taxa fixa adicional acima de 7%. O prazo para 2029, por exemplo, prometia a variação da inflação mais 7,48%; o de 2040, a inflação mais 7,23%.
O atrativo dessa modalidade é a proteção do dinheiro do investidor contra a alta de preços. “Apesar da inflação de curto prazo estar caminhando em direção ao centro da meta, ainda vemos os títulos IPCA+ como uma estratégia importante de proteção da carteira”, diz Arley Matos da Silva Júnior, estrategista de investimentos e chefe de consultoria do Santander.
A expectativa do C6 Bank é que o IPCA anual vá para 4,59% em seis meses, 4,97% em um ano e 4,10% em 2030.
“Para quem pensa em prazos maiores, de mais de seis anos ou até de planos de aposentadoria, o IPCA+ pode ser um investimento interessante. Traz segurança em momentos de instabilidade e incerteza em relação ao futuro da inflação e dos juros”, diz Antonio Sanches, da Rico.
Já em relação a investimentos pré-fixados –onde a rentabilidade está determinada desde o início da aplicação– a recomendação é cautela.
São três os principais riscos em relação à classe de ativos. O primeiro é da taxa fixa do investimento ficar aquém da valorização do CDI. O segundo é de marcação de mercado, onde a oscilação do CDI ora ultrapassa, ora fica abaixo da taxa fixa durante o prazo contratado, causando desconforto em investidores mais conservadores que podem optar por encerrar o investimento antes do prazo acabar e, assim, sofrer prejuízo. O terceiro é do rendimento do título ser mordido pela inflação, já que ele não conta com a proteção dos investimentos IPCA+.
Mas, tendo os riscos em mente, os pré-fixados “costumam ser uma boa pedida em momentos que antecedem a queda de juros”, diz Sanches.
“A recomendação é investir em prazos menores nos quais o investidor consiga se comprometer a chegar até o final e evitar prejuízo.”
É a mesma visão de Arley Matos, do Santander. O banco prevê queda na Selic entre o final de 2025 e início de 2026. “Garantindo um investimento pré-fixado hoje, o investidor vai ver um efeito de marcação na carteira positivo, já que o CDI pode recuar em breve.”
Os especialistas recomendam uma carteira composta por produtos diversos com diferentes vencimentos, como CDBs (Certificados de Depósito Bancário), LCIs, LCAs e LCDs (Letras de Crédito Imobiliário, do Agronegócio e de Desenvolvimento, respectivamente), além de títulos do Tesouro.
Já a renda fixa privada, como debêntures, CRIs e CRAs (Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio, respectivamente), pode representar uma boa oportunidade para quem quer fugir da cobrança de IR (Imposto de Renda).
“Além do benefício, é um ativo que costuma ter um spread [diferença para a rentabilidade do título público equivalente] interessante e pagar um prêmio maior. E, diferentemente do título público, onde o investidor fica ‘preso’ no prazo contratado, é um produto que dá para vender no mercado secundário e, assim, ter um ágio”, diz João Ferreira, da One Investimentos.
O investidor, porém, deve ficar atento à confiabilidade do emissor do título antes da contratação.