Elogiado publicamente pelo presidente Lula, o empresário Lucas Kallas, dono da Cedro Participações, ganhou um reforço da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
No momento em que disputa com a MRS o direito de construir uma pequena ferrovia de R$ 1,5 bilhão na região mineradora entre Itaúna e São Joaquim de Bicas (MG), um projeto de lei estadual proíbe a construção de dutos minerários, algo que garantirá tráfego pelos trilhos de sua futura ferrovia.
Atualmente na Comissão de Minas e Energia da assembleia mineira, o projeto barra licenças ambientais para dutos que estejam localizados nos municípios de Mateus Leme, Igarapé, Brumadinho, Belo Vale, São Joaquim de Bicas e Mário Campos.
Usiminas, Arcelor Mittal, Morro do Ipê, Minerita operam nessa área e possuem projetos desse gênero. Na prática, eles funcionam como se fossem gasodutos.
Plano logístico
Esse projeto reforça o plano de negócio da Cedro, que conta ainda com um terminal portuário, em Itaguaí (RJ). Esse braço logístico foi criado no fim do ano passado, quando o grupo arrematou a concessão do ITG-02, terminal de R$ 3,6 bilhões destinado à armazenagem e movimentação de granéis minerais.
Durante a assinatura do contrato de concessão, no fim de fevereiro, o empresário foi elogiado por Lula.
“Desde que ele foi levado à minha sala (…), eu descobri na hora que estava conversando com um empresário sério, com um empresário com uma visão nacional muito interessante, que antes de tudo ama o Brasil”, disse Lula na cerimônia.
Litígio
A ANTT concedeu o trecho para a Cedro em outubro do ano passado. Controlada pela CSN, Vale, Usiminas e Gerdau, a MRS Logística foi à Justiça porque afirma ter o trecho concedido para Kallas como obrigação de investimento atrelada à sua própria concessão.
Esse pequeno trecho ferroviário, que passará pelas minas das grandes companhias, conecta-se à malha da MRS, que chega até o Rio de Janeiro.
A ideia da Cedro é criar um sistema logístico próprio que permita sua expansão na área dominada pelos grandes grupos. Hoje, a Cedro é uma mineradora de porte médio e sua produção fica no país, atendendo outras empresas do ramo, como Vale e CSN.
Kallas faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável da Presidência da República, o “Conselhão”, e é investigado pela Polícia Federal (PF) por supostamente participar de um esquema de extração ilegal de minério de ferro na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), o que ele nega.
Desconhecimento
Consultada, a Cedro afirmou não ter conhecimento do projeto de lei e disse não possuir projetos de dutos minerários. A empresa afirmou que, em novembro de 2024, a Justiça já negou o pedido liminar da MRS pelo direito de preferência na construção da ferrovia.
“Essa nova ferrovia beneficiará diretamente as mineradoras da região, que enfrentam dificuldades com o escoamento da produção via modal rodoviário, cujo eixo principal é a BR-381, uma das estradas mais perigosas do país”, disse em nota.
A companhia informa que a Cedro não possui minas na região de influência da ferrovia e que o direito de passagem [para concorrentes] está previsto pela regulação, “sendo inaplicável para as cargas da Cedro”.
Consultada, a MRS disse que não comenta processos judiciais em curso.
Com Stéfanie Rigamonti
