Quatro cinquentões percorrem as estradas de 17 países europeus em “Long Way Home”, a quarta temporada da série em que Ewan McGregor e Charley Boorman fazem uma aventura sobre duas rodas em
trajetos por vezes desafiadores.
Sim, quatro. McGregor, 54, e Boorman, 58, ganharam a companhia da Moto Guzzi Eldorado e da BMW R75, as motos escolhidas para a nova temporada, que também celebra os 20 anos de “Long Way Round” (2004), a primeira longa jornada dos amigos.
Em dez episódios, “Long Way Home” tem os dois primeiros capítulos disponíveis a partir desta sexta (9), na Apple TV+ —os outros oito serão liberados semanalmente. O amor pelas motos clássicas é um dos ingredientes da temporada, a mais contemplativa e turística das quatro, passando pelas maravilhas dos países escandinavos e bálticos.
“Queríamos que esta [temporada] fosse apenas divertida. Acho que tivemos experiências estressantes em algumas das viagens anteriores, geralmente porque tínhamos que pegar um barco, um trem ou algo assim em uma determinada data, e isso causava estresse”, afirma Ewan McGregor em entrevista à Folha.
“Então tentamos eliminar isso e só queríamos nos divertir mais, sabe? Acho que esse era nosso plano; e as motos antigas ajudaram”, completa o ator escocês, famoso por filmes como “Moulin Rouge” e pelo papel do jovem Obi-Wan Kenobi em “Star Wars”.
“Com motos antigas você tem só tem 80% de chances de chegar aonde quer ir, acontecem panes. Mas essas panes e as coisas que dão errado são frequentemente as melhores partes da jornada, as coisas de que você mais se lembra”, complementa Boorman, filho do diretor John Boorman (“Excalibur”), que teve pequenos papéis no cinema e já produziu outros programas sobre motos.
Depois de usarem modernas e equipadas BMWs nas duas primeiras temporadas e mudarem para as ecológicas e silenciosas Harley-Davidson elétricas no terceiro ano, os protagonistas optaram por uma troca radical no estilo dos veículos. McGregor tirou a Moto Guzzi de 1974 de sua garagem, enquanto Boorman comprou e reformou uma antiga BMW, motos definidas pelo próprio como “temperamentais”.
“Long Way Round” (2004), “Long Way Down” (2007) e “Long Way Up” (2019) —todas na Apple TV+— combinavam lugares muitas vezes exóticos e remotos com verdadeiros perrengues, incluindo percurso com lama na Mongólia, uma ponte inacabada na Rússia, areia nas estradas desérticas da África ou o desafio de usar motos elétricas na friaca dos Andes.
Desta vez, as dificuldades são minimizadas e dão lugar a paisagens de cair o queixo, muitas captadas por drones, no melhor estilo “Mundo Visto de Cima”. Mas McGregor discorda de que tenha sido uma jornada de mordomias. “Estivemos mais em cidades, em centros urbanos, porque eles estavam mais próximos desta vez do que em algumas das outras jornadas que fizemos, mas ainda tivemos nossas experiências de acampamento selvagem.”
Para corroborar, Boorman recorda com detalhes dos mosquitos em um dos acampamentos na Suécia. “Eles pareciam aviões antigos gigantes, voando lentamente em sua direção”, diz. “Lembro que chovia tanto que nos ligamos só para conversar um com o outro, porque ninguém queria sair por causa dos mosquitos e da chuva.”
Ainda assim, o trajeto de 12 mil quilômetros (o mais curto das quatro aventuras) é recheado de pontos turísticos. A jornada começa na casa de McGregor, na Escócia, passando por Holanda e pelos países da Escandinávia até chegar às geleiras do Círculo Polar Ártico (de barco). De lá, começa um trajeto de volta, com visita aos países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia), para depois cruzar Áustria e os Alpes até chegar ao destino final, a casa de Boomer, na Inglaterra.
Os acampamentos são alternados com quartos confortáveis e por vezes improváveis. Exemplo é o TreeHotel, no meio (ou no alto) de uma floresta na Suécia, com quartos que são casas da árvore, cada um assinado por um diferente escritório de design do país —o de Charley, chamado de Biosfera, é envolto por 315 casas de pássaro, com diárias de 13 mil coroas suecas, algo em torno de R$ 7.600, para duas pessoas.
Depois de olharem as grandes geleiras do Alasca (em “…Round”) e de Perito Moreno, na Argentina (em “…Up”), a dupla volta a vislumbrar um paredão de gelo na região do Círculo Polar Ártico.
“Elas sempre são de tirar o fôlego. Estar perto da borda de um fluxo de gelo assim é bastante especial. Esta talvez tenha sido única, por causa do local. Estávamos bem ao norte, em Svalbard. E nunca ficava escuro, era dia claro o tempo todo. Fomos até esta geleira e era como 23h30, mas parecia meio-dia. Era totalmente dia claro”, afirma McGregor, que também demonstra ter preocupação com o aquecimento global.
“Você pode ver que elas [as geleiras] recuam e se tornam mais baixas. Mas esta estava em boa forma, acho que provavelmente por está tão ao norte. Foi realmente especial chegar perto dela.”
Boorman lembra de outro tipo de problema, agora mais engraçado. “Estávamos numa pequena barraca, e toda vez que você queria se aliviar, tinha que ter alguém te acompanhando com um rifle ou uma pistola, porque há muitos ursos. E então você está lá, tentando fazer xixi e fingindo que não há alguém parado ali com uma arma. Você tem que realmente se concentrar, sabe.”
Há dicas turísticas curiosas para quem quiser usar a temporada como guia de viagem —você sabia que em Puumala, na Finlândia, existem cerca de mil ilhas e somente 2.000 habitantes?
Os momentos de descontração fora da moto, que são muitos, incluem esportes radicais ou inusitados, como uma partida de motobol na Lituânia, e aulas gastronômicas no estilo Masterchef, em um estúdio em Helsinque.