O primeiro balanço corporativo do ano indicou uma tendência de recuperação nos resultados do Bradesco e despertou otimismo entre os investidores.
Como reportado na noite de quarta-feira (7), o segundo maior banco do país teve lucro líquido de R$ 5,9 bilhões, um crescimento de 39,3% na base anual e de 8,6% na trimestral. O número ainda superou as expectativas de R$ 5,43 bilhões de analistas consultados pela Bloomberg, dando espaço para a interpretação de que o plano de reestruturação em curso está dando resultado.
A resposta à performance apareceu na B3. As ações preferenciais e ordinárias do Bradesco subiram 15,64% e 14,04%, respectivamente, a R$ 15,08 e R$ 13,40. A disparada do banco, uma das principais empresas da carteira teórica da Bolsa, também ajudou a empurrar o Ibovespa, que saltou 2,12%, a 136.231 pontos.
A análise do mercado é que, apesar do cenário macroeconômico estar desafiador, a instituição tem apresentado melhora na rentabilidade e no controle de riscos. O ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido Médio), que mede a rentabilidade do banco, subiu para 14,4%, uma alta de 4,2 pontos percentuais em comparação ao início de 2024 e de 1,7 ponto percentual ante o quarto trimestre do ano passado.
“O ROE é um dos principais indicadores para se analisar em balanços bancários, e o Bradesco estava até então apresentando um dos piores resultados dos últimos tempos diante do aumento de PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) e da diminuição do lucro”, diz Marco Noernberg, chefe de renda variável da Manchester Investimentos.
O PDD, na prática, é uma reserva financeira que reflete a inadimplência de clientes. Quanto maiores as chances de um calote, maior deve ser essa reserva para que a saúde da instituição se mantenha protegida. “O banco sofreu com a crise das Lojas Americanas, com a Selic alta, e teve uma agressividade maior na concessão de crédito, o que espremeu as margens de lucro. Com a diminuição da inadimplência e uma melhora na qualidade da carteira de crédito, o lucro aumentou”, diz Noernberg.
A inadimplência do Bradesco encerrou o trimestre em 4,1%, uma queda de 0,9 ponto percentual no ano e um aumento de 0,1 ponto percentual no trimestre.
Já a carteira total de crédito chegou a R$ 1 trilhão, uma alta anual de 12,9% e trimestral de 2,4%. O maior crescimento em termos percentuais foi do segmento de micro, pequena e média empresa, que saltou 29,6% ante os primeiros três meses de 2024 e 3,5% na comparação trimestral. As grandes empresas, por sua vez, tiveram ganho anual de apenas 1,2% e queda de 0,8% no trimestre.
“Já havíamos ajustado o nosso apetite ao risco no último quadrimestre do ano passado e por isso fomos mais seletivos na concessão de crédito, e ainda assim fizemos bons negócios”, disse Marcelo Noronha, CEO do Bradesco, ao divulgar o balanço.
Na análise da XP, a melhoria do lucro líquido e do ROE sugere que o banco está avançando no plano de reestruturação.
“Embora transmita uma mensagem de cautela, priorizando o crescimento lucrativo em um ritmo mais lento, o Bradesco destacou neste trimestre que as receitas estão crescendo mais rápido do que as despesas, a carteira de crédito está se expandindo com segurança, resultando em taxas de inadimplência e custos de crédito controlados, e o Plano de Transformação está sendo executado em um ritmo acelerado”, escrevem os analistas da corretora.
“Ficamos positivamente surpresos com a melhora significativa apresentada no primeiro trimestre. No entanto, por enquanto, mantemos nossa visão cautelosa, reiterando que o plano de reestruturação em andamento é bastante profundo e o ritmo de evolução dos resultados do banco provavelmente não seguirá uma trajetória linear.”
Mas, do ponto de vista dos investidores, a leitura é que “o trabalho de casa está sendo feito”, diz Noernberg, da Manchester Investimentos.
“O mercado vai continuar olhando os próximos balanços e monitorando essa expansão de melhorias para ver se o ROE e o lucro líquido do banco voltam às máximas históricas.”