A UE (União Europeia) planeja impor tarifas adicionais sobre exportações dos EUA no valor de 95 bilhões de euros (US$ 108 bilhões ou R$ 612 bilhões) caso as negociações comerciais em andamento com a equipe do Presidente Donald Trump não produzam resultado.
As medidas retaliatórias propostas afetariam especialmente bens industriais, incluindo aeronaves da Boeing, carros fabricados nos EUA e bourbon, que inicialmente havia sido removido de uma lista anterior. A nova proposta será objeto de consultas com os estados-membros e outras partes interessadas até 10 de junho e poderá sofrer alterações antes de ser finalizada.
A UE também iniciará um caso perante a OMC (Organização Mundial do Comércio) contra as chamadas tarifas recíprocas de Washington, temporariamente fixadas em 10%, e a taxa adicional de 25% sobre carros e autopeças, pois a UE acredita que essas medidas “violam flagrantemente as regras fundamentais da OMC”, disse a comissão em um comunicado.
A Comissão Europeia, o braço executivo do bloco que lida com questões comerciais, está iniciando negociações com a administração dos EUA esta semana e ainda busca encontrar uma solução amigável para a pressão tarifária de Trump. Espera-se que os funcionários da Comissão apresentem a Washington um menu de opções, incluindo ideias para reduzir barreiras comerciais e não tarifárias e impulsionar investimentos nos Estados Unidos, que poderiam ser transformadas em propostas formais.
As conversas entre ambos os lados têm feito poucos progressos até agora e a expectativa é que a maior parte das taxas dos EUA permaneça em vigor. A UE disse esta semana que as investigações comerciais em curso de Trump aumentariam o montante de bens do bloco enfrentando novas tarifas para 549 bilhões de euros (R$ 3,5 trilhões).
Ainda assim, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a UE “continua totalmente comprometida em encontrar resultados negociados com os EUA”.
“Acreditamos que existem bons acordos a serem feitos para o benefício de consumidores e empresas em ambos os lados do Atlântico”, disse em comunicado. “Ao mesmo tempo, continuamos nos preparando para todas as possibilidades, e a consulta lançada hoje nos ajudará a orientar este trabalho necessário”.
A Bloomberg havia relatado anteriormente o valor dos bens visados e quais produtos seriam mais afetados.
A lista de produtos da UE não especificou quais níveis tarifários poderiam ser impostos. Qualquer decisão sobre taxas e números só viria após a consulta de quatro semanas e dependeria do resultado das negociações, segundo um alto funcionário da UE.
Além das tarifas propostas, a comissão também consultará as partes interessadas sobre possíveis restrições às exportações da UE de sucata de aço e produtos químicos para os EUA no valor de 4,4 bilhões de euros (R$ 28,3 bilhões), confirmando uma reportagem da Bloomberg do mês passado. Tais medidas normalmente podem ser implementadas de várias maneiras, desde cotas e licenças até proibições totais de bens específicos.
Trump está buscando reconfigurar o sistema comercial global, afirmando que os desequilíbrios dos EUA com o resto do mundo são evidências de que seu país tem sido tratado injustamente. Embora essa política tenha apresentado principalmente movimentos tarifários intermitentes, a administração dos EUA também está negociando acordos, e Trump anunciou um pacto com o Reino Unido nesta quinta-feira (8).
Sua perturbação do comércio mundial significa que o fluxo de produtos também enfrentou turbulência. A UE disse na quinta-feira que monitorará qualquer desvio de mercadorias para o bloco, especialmente da China, que possa resultar das tarifas de Trump, e continuará trabalhando para concluir acordos comerciais com vários países.
Barragem de Tarifas
A nova lista de contramedidas da UE virá além dos 21 bilhões de euros (R$ 135 bilhões) de bens americanos já visados por taxas da UE em resposta à tarifa de 25% de Trump sobre exportações de aço e alumínio. A UE concordou no mês passado em adiar por 90 dias a implementação dessas medidas depois que os EUA reduziram sua taxa chamada “recíproca” sobre a maioria das exportações da UE de 20% para 10% enquanto as negociações estão em andamento.
As propostas anunciadas na quinta-feira são projetadas para abordar essas taxas recíprocas e as tarifas sobre carros e autopeças.
O bloco poderia propor medidas adicionais caso Trump avance com tarifas em outros setores: o presidente dos EUA iniciou investigações que poderiam resultar em taxas sobre as importações de madeira, produtos farmacêuticos, semicondutores, minerais críticos e caminhões.
A comissão disse que todas as opções estão sobre a mesa em resposta a tais movimentos e medidas futuras poderiam visar serviços dos EUA operando na Europa e restringir a exportação de certos bens, informou a Bloomberg anteriormente.
Em 2024, a UE exportou 531,6 bilhões de euros (R$ 3,4 trilhões) em bens para os EUA e importou 333,4 bilhões de euros (R$ 2,1 trilhões), resultando em um superávit comercial de 198,2 bilhões de euros (R$ 1,3 trilhão), segundo o Eurostat. Se os serviços forem adicionados, no entanto, o quadro é mais equilibrado, já que os EUA registram um superávit nesse segmento. A diferença entre as exportações da UE para os EUA e as exportações dos EUA para a UE foi de 48 bilhões de euros (R$ 309 bilhões) em 2023; o equivalente a apenas 3% do comércio total entre a UE e os EUA.
Consequências para a Boeing
O foco da comissão em aeronaves é um golpe para a Boeing. A relutância dos clientes em aceitar aviões com taxas adicionais apresenta um problema emergente para a empresa americana. Cerca de 58 de suas entregas de aeronaves pendentes para o restante de 2025 estão destinadas a estados-membros da UE, de acordo com o analista da TD Cowen, Gautam Khanna.
Outros 50 ou mais jatos estão reservados para clientes na China, estima a Cowen, onde as companhias aéreas já estão recusando novos aviões como parte de um impasse tarifário com os EUA. O CEO da Boeing, Kelly Ortberg, disse que a fabricante de aviões americana procurará compradores alternativos para essas aeronaves, se necessário.
“A dinâmica das tarifas da UE pode aumentar esse total, dependendo da severidade das tarifas da UE, caso ocorram”, disse Khanna.