/ May 10, 2025

Governo corre contra o tempo para mapear minerais críticos – 10/05/2025 – Mercado

Em meio a restrições orçamentárias, o SGB (Serviço Geológico do Brasil) tenta fazer parcerias com governos estaduais para mapear a geologia do país e encontrar reservas de minerais fundamentais para a transição energética.

Essa dinâmica é importante, porque os primeiros países que colocarem grandes minas em operação tendem a criar mercados mais rapidamente e a ganhar peso geopolítico na nova economia. Não à toa, os EUA fecharam recentemente um acordo com a Ucrânia para ter acesso às reservas de terras raras do país, além de manifestarem interesse em extrair esses metais no fundo do mar.

O Brasil é um dos países com maior potencial de abrigar metais da transição energética, mas sua geologia ainda é pouco conhecida quando comparada com a de nações desenvolvidas.

O SGB, vinculado ao Ministério de Minas e Energia, é o órgão responsável por disponibilizar informações essenciais da geologia do país às mineradoras interessadas em explorar uma região. Sem esses detalhes, dificilmente uma empresa iniciará pesquisas mais avançadas, já que é necessário ao menos uma diretriz sobre onde estão os metais críticos no país.

Um exemplo disso é a presença de lítio no norte de Minas Gerais, mineral importantíssimo para a produção de baterias de veículos elétricos. O órgão iniciou a procura pelo metal na região ainda em 2012 e quatro anos depois disponibilizou uma série de informações para a iniciativa privada. Desde então, várias empresas começaram a explorar áreas ao redor –a Sigma Lithium, aliás, já exporta desde 2023.

“Essa área tinha em torno de 360 pedidos de pesquisa na região na época e, a partir desse momento que foi lançado, houve um boom de pedidos de pesquisa na região e hoje ela margeia 3.000 pedidos”, afirma Valdir Silveira, diretor de geologia e recursos minerais do SGB.

Hoje, 27% do território brasileiro é mapeado na escala 1:100 mil, a mais tradicional em pesquisas de serviços geológicos no mundo. Mas expandir esse mapeamento exigiria grandes orçamentos e um aumento considerável no número de geólogos do SGB –hoje, são 600 servidores.

“Para fazer o mapa geológico de uma área de 3.000 quilômetros quadrados com informações necessárias para a iniciativa privada chegar e investir, seriam necessários dois geólogos trabalhando durante dois anos”, diz Silveira. “Com essa força de trabalho e os investimentos que a gente tem atualmente, nós vamos demorar 110 anos para mapear o país inteiro.” O Brasil tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados.

Como alternativa, o SGB quer intensificar um outro tipo de levantamento de informações: o aerogeofísico, no qual instrumentos aéreos monitoram o magnetismo, a radioatividade e a densidade das rochas do país. Entre 2011 e 2015, o órgão conseguiu levantar dados de 50% do país a partir desses métodos, mas os governos seguintes abandonaram a estratégia. Agora o desejo é captar mais dados dessas áreas e iniciar a análise de outras longe do litoral.

Essa alternativa, porém, também exige orçamento vultoso –ainda mais para um órgão como o SGB, com baixa visibilidade no governo federal. Em março, a espanhola Xcalibur venceu a licitação do serviço geológico para levantar os dados de um milhão de quilômetros lineares do país (semelhante ao estado da Bahia), o que exigirá investimentos de quase R$ 700 milhões. Em comparação, o orçamento do SGB em 2023 (último ano disponível) foi de R$ 633 milhões, sendo a grande maioria voltada para despesas de pessoal e encargos.

Com isso, a ideia do órgão é, a partir de uma lista de áreas predeterminadas pelo SGB, fazer parcerias com governos estaduais interessados em mapear seus territórios. Hoje, o órgão tem R$ 17 milhões para iniciar o levantamento e uma promessa do governo federal de alocar mais R$ 100 milhões.

“O que assinamos com a Xcalibur foi uma ata de registro de preço, o que permite que estados e empresas como a Petrobras entrem no projeto. O governo do Tocantins, por exemplo, está muito interessado e já nos assinalou que está trabalhando para conseguir uma emenda parlamentar de R$ 40 milhões. Também estamos conversando com Goiás, Bahia e Minas Gerais”, afirma Silveira.

Os primeiros recursos serão direcionados para áreas já conhecidas por abrigar grandes depósitos de minerais críticos, justamente para fomentar o projeto e entregar resultados para o governo federal –o que ajudaria a liberar mais recursos. Entre elas, estão áreas em Minas Gerais, Pará, Mato Grosso, Goiás, Tocantins e seis estados do Nordeste.

“Não precisa levantar o Brasil todo de novo; o que o Brasil quer é descobrir recursos o mais rápido possível, e o Brasil já sabe, a partir dos levantamentos já feitos e dos anúncios das empresas, onde está o maior potencial e onde tem suspeita de minerais críticos”, afirma Andre Rabelo, gerente de desenvolvimento de negócios da Xcalibur na América Latina. “Mas a questão toda é o orçamento, que todo ano varia conforme a questão política e econômica do país.”

Agamenon Dantas, presidente do SGB entre 2003 e 2011, aponta que um dos grandes desafios do SGB é se desvincular de interferências políticas –o que fica ainda mais difícil quando parte do orçamento para o levantamento depende de negociações políticas. “Existe uma pressão muito grande, principalmente de políticos, para que o SGB faça trabalhos específicos para as mineradoras. E isso é agravado, porque a maioria das pessoas que tomam decisões no setor de mineração é leiga”, afirma.

Dos cinco atuais diretores do órgão, por exemplo, apenas dois são técnicos da área –um deles é Valdir Silveira. O presidente, Inácio Melo, é marido da senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e não tem especialização em mineração ou geologia, assim como os diretores de administração e finanças, Rodrigo de Melo Teixeira, e de infraestrutura geocientífica, Sabrina Soares de Araújo Gois. O primeiro é especialista em segurança pública e a segunda em marketing.

Ainda assim, a estruturação do órgão e o levantamento da geologia brasileira é fundamental para o posicionamento do país nessa corrida pelos minerais críticos.

“Esses levantamentos são muito importantes para o Brasil, mas não há investimentos públicos porque é algo de longo prazo; entre um levantamento e o início de operação de uma mina, são dez anos. Antes dos levantamentos dos primeiros governos Lula, os últimos mapeamentos no Brasil tinham sido feitos na década de 1980 e, nesses dez anos, conseguimos mapear 12% do Brasil, mas isso porque não nos faltou dinheiro”, diz Dantas.

Entre 2004 e 2014, foram investidos aproximadamente US$ 183 milhões (R$ 1 bilhão) nesses levantamentos, segundo o órgão.

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