Depois de Dorival Júnior dizer umas mil vezes que a seleção brasileira passava por um processo, a palavra virou moda entre clubes, treinadores, torcedores e imprensa. É um bom argumento para justificar as derrotas. Outra antiga palavra no futebol que não sai da moda é atitude. Em partidas equilibradas, dizem que uma equipe ganhou por causa de atitude e a outra perdeu por falta de atitude.
No futebol, com frequência, sem mudar a maneira de jogar, os times ganham e perdem contra adversários do mesmo nível, por detalhes, técnicos, táticos, físicos, emocionais e também por acasos, uma falha do árbitro, uma expulsão, uma bola desviada, um descuido e tantos outros motivos. Como no final do filme “Match Point”, de Woody Allen, a bola parada na rede pode cair para qualquer lado.
As quatro partidas das semifinais da Liga dos Campeões da Europa, duas entre Barcelona e Inter e duas entre PSG e Arsenal, foram equilibradas e decididas nos detalhes. O Barcelona é a equipe que mais encanta pela maneira de jogar e pelos craques que possui, mas lhe falta um zagueiro de mais qualidade, como o brasileiro Marquinhos, da seleção e do PSG.
A relatividade não diminui a importância dos treinadores. Além do excelente elenco e da regularidade da equipe, o Palmeiras tem um treinador, Abel Ferreira, obsessivo pela vitória e com muitos conhecimentos técnicos e táticos. O Flamengo encantou no início da temporada, mas hoje é o Palmeiras que está melhor.
Os torcedores do Botafogo, em vez de criticar tanto o atual técnico Renato Paiva, deveriam lamentar as saídas de Luiz Henrique, Almada e outros. Além disso, o Botafogo superou as expectativas no ano passado, e não haveria nenhuma certeza de que o time manteria a enorme qualidade mesmo se não tivesse perdido nenhum jogador.
Os treinadores têm muitos dilemas nas suas decisões. Só os ignorantes não têm dúvidas. Leonardo Jardim, técnico do Cruzeiro, definiu, pelo menos por enquanto, que não há lugar para jogarem juntos Kaio Jorge, Matheus Pereira e Gabigol. Uma alternativa seria Matheus Pereira atuar da direita para o centro, além de marcar pelo lado, como faz Gerson no Flamengo. Sairia o ponta Wanderson ou o armador pelo lado Christian.
Dorival Júnior, quando tiver a volta de Garro, terá de descobrir como atuar sem pontas, que marcam e atacam pelos lados, como o técnico gosta. Uma opção será jogar com três zagueiros, dois volantes, Garro entre os dois e a dupla de atacantes, além de dois alas que ocupam os espaços pelos lados, na marcação e no apoio. Assim atuam muitos times europeus.
Os treinadores são exageradamente demitidos no Brasil. O Vasco dispensou o pragmático e prudente Carille, que fazia um trabalho dentro do esperado de acordo com a qualidade do elenco, e contratou o ousado e sonhador Fernando Diniz. Não dá para prever o que acontecerá.
Os torcedores, os dirigentes e a imprensa esportiva possuem uma relação ambivalente com os treinadores. Ao mesmo tempo que ficam fascinados nas vitórias, como se eles tivessem a chave dos segredos do jogo, tornam-se decepcionados com poucas derrotas, como se eles fossem vendedores de ilusões. É a dualidade humana. O futebol brasileiro precisa de ajuda psicológica.