Na quarta-feira (7), o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) decidiu elevar a taxa Selic de 14,25% para 14,75%. Afirmou que, “para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.
Muito provavelmente, até a próxima reunião estará mais clara a desaceleração da economia mundial em consequência da guerra comercial. Além dos efeitos defasados do aperto monetário sobre a atividade econômica, o Copom poderá alegar a situação mundial como mais um motivo para interromper o ciclo de elevação da taxa Selic.
A grande dificuldade do Copom será construir uma narrativa para iniciar, em algum momento do segundo semestre do ano, um ciclo de redução. O Copom prevê que a inflação de preços livres termine o ano em 5,3%. O IPCA de abril, divulgado nesta sexta (9), apontou que os preços livres subiram 5,8% nos últimos 12 meses. Será que haverá sinais de moderação da inflação nos próximos meses?
O modo petista de governar é forçar a economia a operar além dos seus meios. Gera uma queda insustentável do desemprego. Os salários se elevam acima da produtividade, a rentabilidade do setor privado se reduz, as exportações líquidas caem, e a inflação de serviços se eleva. Todos esses fatos têm ocorrido. Por exemplo, em abril, a inflação dos serviços subjacentes fechou em 6,7%.
A dificuldade é que a queda da inflação em 2025 requer alguma desaceleração da economia em razão da redução da demanda agregada. Se a desaceleração ocorrer somente por se ter atingido o limite da capacidade produtiva, a inflação não se reduzirá: teremos a economia andando de lado, com inflação ainda em elevação.
A janela para a queda da demanda está estreita: no primeiro semestre, de fato a execução fiscal tem reduzido o gasto. No entanto, a partir do início do terceiro trimestre, com o pagamento dos precatórios e a evolução do novo empréstimo consignado, terá passado a janela em que a demanda se contrairá.
A política monetária fortemente contracionista reduz o consumo de bens duráveis e o investimento. No entanto, na direção contrária temos os estados com caixa para elevar os investimentos, em 2026 teremos eleições, e, mais para o final do ano, o programa MCMV deve ter novo impulso. Adicionalmente, diversos investimentos em infraestrutura, fruto de programas de concessão, têm prazo contratual para entrega. São insensíveis à política monetária. No ano próximo temos a mudança da tabela do IRPF e, é possível, elevação do benefício do programa Bolsa Família, entre outros botões que podem ser apertados para estimular a economia e ajudar a popularidade de Lula em ano eleitoral.
A menos que haja uma forte inversão do ciclo da economia mundial, tudo sugere que caminharemos com juros elevados e economia a plena carga até as eleições. As empresas e as famílias sofrerão muito com a piora de suas dívidas, mas, enquanto a roda da economia estiver girando, a gente vai levando. Quando o ciclo econômico virar —após as eleições, independentemente de quem for eleito, haverá um ajuste fiscal—, a fragilidade do setor privado após período tão longo de aperto monetário cobrará seu preço.
O ajuste da economia no final de 2026 promete. Cada vez mais 2026 se parece com 2014.