/ May 14, 2025

China x EUA: Trégua de tarifas mostra os limites de Trump – 14/05/2025 – Mercado

A decisão do presidente Donald Trump de impor, e depois recuar, tarifas de três dígitos sobre produtos chineses durante o último mês demonstrou o poder e o alcance global da política comercial dos Estados Unidos. Mas também foi mais uma ilustração das limitações da abordagem agressiva de Trump.

As tarifas sobre produtos chineses, que os EUA aumentaram para um mínimo de 145% no início de abril, paralisaram grande parte do comércio entre os países. Elas levaram empresas a redirecionar negócios globalmente, importando menos da China e mais de outros países (como Vietnã e México), forçaram o fechamento de fábricas chinesas e levaram alguns importadores americanos à beira da falência.

As tarifas acabaram se mostrando dolorosas demais para as empresas americanas para que Trump as mantivesse. Em poucas semanas, funcionários do governo começaram a dizer que as tarifas sobre a China eram insustentáveis e que estavam buscando reduzi-las.

As negociações entre as maiores economias do mundo em Genebra, no último fim de semana, se encerraram com um acordo para reduzir as pesadas taxas sobre os produtos de ambos os países mais do que muitos analistas haviam previsto.

As importações chinesas enfrentarão um imposto mínimo de 30%, abaixo dos 145%. A China reduzirá sua taxa de importação sobre produtos americanos para 10%, de 125%. Os dois países também concordaram em realizar conversas para estabilizar o relacionamento.

Ainda resta saber quais acordos podem ser alcançados em negociações futuras. Mas as conversas deste fim de semana, e o caos tarifário do último mês, não pareceram gerar quaisquer outras concessões imediatas dos chineses além do compromisso de continuar conversando.

Isso levantou questionamentos sobre se as perturbações comerciais do último mês —que levaram muitas empresas americanas a cancelar pedidos de importações chinesas, congelar planos de expansão e alertar sobre preços mais altos— valeram a pena.

“O acordo de Genebra representa uma retirada quase completa dos EUA que confirma a decisão de Xi de retaliar com força”, disse Scott Kennedy, especialista em China do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, referindo-se a Xi Jinping, o líder chinês.

Embora Trump e seus conselheiros afirmem que os EUA têm as cartas mais fortes na manga, a aceitação do acordo por parte do presidente revelou algumas de suas limitações.

Através de suas chamadas tarifas recíprocas e taxas maximalistas sobre a China, o presidente da “Arte da Negociação” está empregando uma estratégia que envolve fabricar crises comerciais na esperança de extrair concessões econômicas rápidas.

Mas ao enfrentar uma potência econômica com força semelhante e talvez mais disposição para suportar a dor, Trump optou por recuar e declarar como vitória o fato de a China aceitar se juntar a ele na mesa de negociações.

Do lado americano, os funcionários essencialmente disseram que haviam determinado que não queriam —ou pretendiam— seguir o caminho que as tarifas do presidente haviam estabelecido para os EUA, de desacoplar completamente sua economia da China.

“Concluímos que temos um interesse compartilhado”, disse o secretário do Tesouro Scott Bessent em uma coletiva de imprensa em Genebra. “O consenso de ambas as delegações é que nenhum dos lados queria um desacoplamento.”

Essa linguagem foi uma mudança marcante em relação às falas anteriores de Bessent de que a guerra comercial seria muito pior para a China, dada sua dependência das exportações para os EUA.

“Eles têm a economia mais desequilibrada da história do mundo moderno”, disse Bessent na Fox Business Network no mês passado. “E posso dizer que essa escalada é uma derrota para eles.”

As tarifas se mostraram dolorosas para a China, mas também perturbaram a economia dos EUA, e empresas americanas já haviam começado a alertar sobre os impactos iminentes para os consumidores na forma de preços mais altos e menor disponibilidade de produtos.

Os fabricantes americanos estavam particularmente preocupados com as restrições de exportação da China sobre minerais vitais e ímãs. Enquanto os embarques da China para os EUA caíram 21% em abril em relação ao ano anterior, suas exportações para países do Sudeste Asiático aumentaram 21%, sugerindo que os chineses estava encontrando outros canais para continuar alimentando sua máquina de exportação.

A decisão de reduzir temporariamente as tarifas sobre a China dá um alívio bem-vindo para as empresas, mas faz pouco para aliviar a incerteza de longo prazo que pesa sobre as empresas americanas. Os dois governos agora têm até meados de agosto para avançar em direção a um acordo comercial.

Na manhã de segunda-feira (12), Trump disse que se os países não chegassem a um acordo nesse período, as tarifas sobre produtos chineses subiriam novamente para serem “substancialmente mais altas”, embora não a 145%.

“A 145%, você está realmente desacoplando porque ninguém vai comprar”, acrescentou.

Varejistas e outros importadores expressaram alívio pelo retorno do fluxo comercial entre os países, mas estavam cruzando os dedos para que a trégua durasse mais de 90 dias.

Matthew Shay, CEO da National Retail Federation, que representa grandes e pequenos varejistas, chamou a pausa temporária de “um primeiro passo fundamental para fornecer algum alívio de curto prazo para varejistas e outras empresas que estão no meio do processo de encomenda de mercadorias para a temporada de festas de inverno.”

Gene Seroka, diretor executivo do Porto de Los Angeles, disse na segunda que a tarifa remanescente de 30% sobre a China ainda era substancial, e que o entusiasmo dos consumidores e das empresas que dependem de seus hábitos de compra havia sido prejudicado pela ameaça de tarifas.

Noventa dias também é um período relativamente curto para as empresas tentarem reiniciar remessas interrompidas da China, disse ele, dado o tempo que pode levar para reservar espaço em navios oceânicos e mover produtos pelo mar.

“Isso ainda é um território meio inexplorado, então veremos como as pessoas respondem”, disse Seroka. “Mas não acho que, com base no sentimento do consumidor, na confiança do consumidor, as pessoas estejam dispostas a entrar imediatamente e dizer: ‘OK, isso é realmente ótimo. Vamos começar.'”

Especialistas em comércio afirmam que 90 dias também é uma janela muito curta para fazer progressos significativos na longa lista de disputas comerciais entre os EUA e a China, incluindo o crescente superávit comercial de Pequim.

Wendy Cutler, vice-presidente do Instituto de Política da Sociedade Asiática, disse que três meses é “um período extremamente curto para abordar a gama de questões comerciais contenciosas que permanecem entre os EUA e a China, incluindo lidar com o excesso de capacidade de fabricação, subsídios excessivos a empresas chinesas e esforços de transbordo por empresas chinesas.”

“Negociações semelhantes normalmente levam bem mais de um ano”, acrescentou.

Trump disse que as conversas com a China se concentrariam em parte na “abertura” do país asiático para empresas americanas. Funcionários disseram que concordaram em estabelecer uma regularidade de conversas, e sugeriram que algumas delas poderiam abordar compras chinesas de produtos americanos que ajudariam a equilibrar o comércio.

Não está claro o que vai diferenciar essas conversas das negociações passadas com a China. Funcionários de Trump criticaram o tipo de diálogos que administrações anteriores mantiveram com os chineses.

Funcionários chineses também concordaram com compras significativas em um acordo comercial de 2020 com Trump que deveriam ajudar a equilibrar o comércio entre os países, mas eles acabaram não cumprindo.

Ainda assim, a gestão Trump agora parece determinada a reviver o acordo. Em uma entrevista à CNBC na segunda, Bessent disse que o acordo de 2020 poderia servir como um “ponto de partida” para conversas futuras e culpou o governo Biden por não fazer o acordo sair do papel

“Todos pensaram antecipadamente que a coisa mais importante é obter a adesão chinesa ao acordo da Fase 1 de 2020, que para muitas questões fornece uma base para seguir em frente”, disse Michael Pillsbury, que foi um dos principais conselheiros de Trump sobre a China em seu primeiro mandato.

Outros analistas disseram que a administração Trump provavelmente continuaria pressionando a China para conter o fluxo de fentanil para os EUA e tentaria fazer progressos em outras questões comerciais, como a vasta subsidiação e domínio chinês de certas indústrias.

“Os dois governos se deram uma janela para realizar algo sobre o fentanil e as compras”, disse Myron Brilliant, conselheiro sênior do DGA-Albright Stonebridge Group que aconselha clientes sobre a China. “Mas com o que mais a China concordará permanece uma grande questão daqui para frente, dadas nossas preocupações de longa data sobre suas políticas comerciais.”

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