“A economia circular é uma maneira de dar lógica econômica a ferramentas que terão grande impacto nas estratégias de mitigação e adaptação a mudanças climáticas. É um manual sobre como enfrentá-las”, disse o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, durante o primeiro dia do no Fórum Mundial de Economia Circular (WCEF, na sigla em inglês).
O evento, criado em 2017 pelo Fundo de Inovação da Finlândia (Sitra), chega a sua primeira edição na América Latina numa parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Senai-SP, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Senai Nacional.
“A economia circular é hoje mais importante do que nunca. E seria difícil encontrar lugar mais adequado para a nona edição do fórum do que São Paulo”, disse Kristo Lehtonen, diretor do Sitra. “Ela representa uma oportunidade para negócios, para comunidades e para o planeta por meio de soluções que respeitam barreiras planetárias. É uma ferramenta poderosa para lidar com a crise climática e que pode gerar milhões de empregos, mas precisamos ir à ação”, convocou.
O fórum é o maior evento mundial dedicado à transição global de um modelo de economia linear, baseado na tríade extrair, produzir e descartar, para uma economia circular, que propõe uma abordagem sistêmica para reduzir o uso de recursos, minimizar a produção de resíduos e regenerar sistemas naturais.
Corrêa do Lago disse que “a COP30 tem que ser sobre ações e soluções” e que a economia circular é “uma alternativa ao que vem sendo feito” tanto no campo econômico como ambiental.
“Se quisermos cortar emissões de carbono, o conceito de circularidade é fundamental”, afirmou o cônsul da Finlândia em São Paulo, Kari Puurunen à Folha. “Realizar o Fórum Mundial de Economia Circular no Brasil no mesmo ano em que o país sedia a maior conferência ambiental do planeta, a COP30, é um reconhecimento da política ambiental que o Brasil está fazendo mundialmente.”
O fórum abriu nesta terça (13) com uma conferência que teve a participação da ex-presidente da Finlândia Tarja Halonen e mensagem do vice-presidente e ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, que citou a economia circular como um “caminho para utilizar melhor recursos, reduzir desperdícios e criar novos modelos de negócios”.
O evento presencial, que ocupa a OCA e o Auditório Ibirapuera, em São Paulo, até a sexta (16), é reservado a cerca de mil convidados entre lideranças de governo, empresariado, ciência e sociedade civil de vários países. As conferências são transmitidas online para o público.
Os painéis foram organizados em torno das várias facetas da chamada circularidade e de sua relação com inovação, sustentabilidade, descarbonização da economia, transição energética, segurança nacional, cadeias de suprimentos e regeneração de ecossistemas, entre outros.
O avanço rumo a práticas industriais mais eficientes é considerado essencial diante dos atuais desafios produtivos e da tripla crise global: do clima, da biodiversidade e da poluição. A extração de recursos naturais quase quadruplicou desde 1970 e pode aumentar 60% até 2060, segundo o Panorama Global de Recursos 2024, relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). A expectativa é que o consumo global de materiais, como biomassa, combustíveis fósseis, metais e minerais, dobre nos próximos 40 anos, enquanto a geração anual de resíduos deve aumentar 70% até 2050.
“Estamos no meio do furacão”, disse o diretor de sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Mineração, Rinaldo Mancin, durante painel que discutiu mineração responsável e acesso a minerais críticos à transição energética. “Mas a mineração faz parte da solução porque, independente de qual seja, ela requer minerais críticos.”
A ex-ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Suzana Muhamad, que foi presidente da COP16 da Biodiversidade, avaliou que a política do petróleo tem ganhado tração novamente com Trump, mas também no Brasil, e criticou a exploração de petróleo na Amazônia. “Economia circular não é só mudar o modo como extrair e produzir, mas como governos, negócios e comunidades precisam mudar o sistema para produzirmos vida, e não morte.”
Entre as sugestões apresentadas por Muhamad está a de reduzir aterros sanitários ao mínimo necessário para reduzir emissões e promover a circularidade dos resíduos orgânicos e recicláveis. “A América Latina poderia fazer uma revolução”, disse.
O secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Mdic, Rodrigo Rollemberg, afirmou que o governo brasileiro tem avançado na agenda regulatória. O governo federal lançou no ano passado uma Estratégia Nacional de Economia Circular e aprovou, na semana passada, um Plano Nacional de Economia Circular. “O processo regulatório é o primeiro passo para uma economia circular. Agora temos o desafio da implementação.”
Para Beatriz Luz, fundadora do Hub de Economia Circular Brasil, “o mercado parece estar pronto para a ação ao se conectar a uma agenda global que traz um novo olhar sobre desenvolvimento de negócios, produção e consumo, pautado na durabilidade, na cooperação, e na transformação de produto em serviço e de consumidor em usuário”.