/ May 14, 2025

Painel solar no lugar de diesel reduz conta de luz na AM – 14/05/2025 – Mercado

No meio da floresta a cena é normal. Centenas de comunidades pobres dependem de um motor a diesel para ter luz. Apesar de o investimento inicial ser elevado, trocar esse equipamento obsoleto por conjuntos de geração solar a bateria pode reduzir o custo de geração de energia em até 44%.

A estimativa consta do estudo Descarbonização dos Sistemas Isolados da Amazônia, um extenso diagnóstico que busca colocar em debate as contradições da transição energética na área que concentra a floresta tropical brasileira, mas, ao mesmo tempo, ainda depende de combustíveis fósseis para ter eletricidade.

Enquanto 87% da geração de energia elétrica é renovável no SIN, o Sistema Interligado Nacional, apenas 12% da produção é limpa no SISOL, os Sistemas Isolados. Essas áreas abarcam 175 municípios que dependem de diesel e óleo combustível para ter eletricidade em Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá e Pará, sede do evento que justamente trata dos efeitos das emissões, a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas).

O estado mais impactado é o Amazonas, onde quase 35% da população está em área isolada. Quem paga a conta mais cara é o Pará, onde a tarifa fica 28% acima da média nacional.

“Energia elétrica é o serviço público mais acessível do Brasil, no entanto, a gente não pode esquecer que ainda existe um conjunto de quase 4 milhões de pessoas, alguns nos confins do país, que não têm energia de qualidade ou um acesso muito restrito a esse bem básico”, diz Luiz Eduardo Barata, presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia.

A entidade encomendou o levantamento para a Envol Energy Consulting, por entender que, com a COP30, não existe melhor momento para resgatar a discussão do abastecimento nas áreas remotas.

Segundo o levantamento, cerca de 2,7 milhões de pessoas —mais gente que a população de uma Belo Horizonte, capital de Minas Gerais— vivem na parte mais organizada dos Sistemas Isolados. Esse grupo é atendido por distribuidoras de energia e abastecidos por térmicas, em sua maioria movidas a combustíveis muito poluentes, como o diesel, a custo elevado —não apenas para o morador local, mas para todo o Brasil.

O gasto com o combustível dessas térmicas é embutido na conta de luz dos brasileiros que estão no sistema nacional. De 2018 a 2024, essa despesa cresceu 49%, chegando a R$ 11,7 bilhões no ano passado. Ou seja, a luz de cada morador num sistema isolado custou R$ 4.350, o equivalente a 2,8 salários-mínimos per capita, detalha o estudo.

Importante destacar: isso não quer dizer que o morador local não pague a conta de luz. Paga, e muito. Uma família de classe média pode gastar R$ 1.000 por mês com energia em Boa Vista, Roraima, única capital fora do sistema interligado. Os custos são turbinados pelo uso do ar-condicionado em meses mais quentes, quando a temperatura pode ir a 34°C e mesmo 39°C.

Os mais pobres, que vivem em áreas remotas, têm acesso ainda mais restrito à energia elétrica, mas igualmente custoso. Apesar de a baixa renda contar com um programa federal de eletrificação por pequenos sistemas fotovoltaicos, chamado Luz para a Amazônia, a pesquisa também identificou que outro 1 milhão ainda vive em regiões sem acesso formal à eletricidade.

Boa parte dessas pessoas é invisível até para o sistema de proteção social. Não estão no CadÚnico, que reúne os elegíveis a programas de assistência e redistribuição de renda.

O estudo identificou que essa parcela tem um gasto exorbitante para o seu padrão financeiro. Gasta até R$ 900 por mês apenas com combustível para tocar os motores a diesel, que ficam ligados de 6 a 8 horas diárias. Famílias nessa condição lidam com limitações do século 19. Não podem estocar alimentos, têm comunicação e acesso a informação restritos e limitação para proporcionar um ambiente adequado para uma criança estudar num dia chuvoso e nublado.

Além de recorrer à base de dados de fontes oficiais, como a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), responsável pelo planejamento setorial a consultoria visitou capitais e comunidades em áreas isoladas. Foram ouvidos moradores, representantes de ONGs e órgãos públicos que acompanham o tema na Amazônia, como WWF, Instituto Arayara e o Ministério Público, para que fosse possível traçar um cenário mais assertivo e atualizado dessa região desconectada das linhas de transmissão.

Segundo o estudo, a principal causa da lentidão para a eletrificação dessas áreas é a falta de coordenação entre os diferentes projetos. Há boas iniciativas, mas sem visão integrada.

Falta também uma discussão mais profunda sobre a realidade particular de cada localidade. Existe uma fixação em fazer a interligação integral ao sistema, mas talvez seja importante reconhecer que alguns lugares jamais poderão ser conectados, e que a tecnologia pode oferecer alternativas mais baratas e eficientes a esses pontos.

“A gente entende que, dada a geografia e a vegetação de floresta, é difícil chegar a algumas áreas, mas por mais que essa realidade seja conhecida, ver os números sempre choca”, diz o CEO da Envol, Alexandre Viana.

“Houve melhora nos anos recentes, mas é preciso encontrar maneiras de acelerar a universalização para cumprir o cronograma.” O prazo estabelecido para completar o atendimento integral é 31 de dezembro de 2028.

O gerente de estudos de mercado e regulação da consultoria, William Kay, lembra que, segundo a EPE, o número de cidades nos sistemas isolados foi de 258, em 2020, para 175 no ano passado. No entanto, mantido esse ritmo, 118 localidades ainda estarão desconectadas na data limite. “Cerca de 2 milhões de pessoas ainda teriam acesso limitado à energia”, diz Kay.

O estudo sobre a descarbonização será apresentado nesta quarta-feira (14), durante o seminário “Clima, sociedade e energia: oportunidades e desafios da transição energética no Brasil da COP30”. O evento é gratuito e online.

FORA DO SISTEMA NACIONAL

2,7 milhões

de pessoas estão no Sisol (Sistemas Isolados), com dificuldade de acesso à energia elétrica confiável e de baixo custo. Alguns não podem pagar pelas instalações nem pela energia elétrica

1 milhão

de pessoas vivem em regiões remotas, sem acesso formal à eletricidade. Muitas dessas pessoas podem não estar cadastradas no CadÚnico ou serem desconhecidas juridicamente

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