No que talvez seja a maior reunião de CEOs americanos desde que eles participaram da posse do presidente Donald Trump, os poderosos do Vale do Silício se deslocaram para Riad na terça-feira (13) para se juntar ao republicano e um grupo conselheiros para solicitar investimentos do país rico em petróleo.
Trump não mediu palavras em uma reunião à tarde com o príncipe herdeiro saudita. “Como vocês sabem, temos os maiores líderes empresariais do mundo aqui”, disse. “Eles vão sair daqui com muitos cheques para muitas coisas que vocês vão fornecer.”
O evento, anunciado como a primeira cúpula de investimentos entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita, contou com altos executivos de bancos, finanças e outros setores, mas a forte presença do setor de tecnologia refletiu o quanto a indústria tem dependido dos Estados do Golfo para cumprir suas ambições em inteligência artificial.
Entre a série de acordos anunciados na viagem está a promessa da Nvidia de que venderá centenas de milhares de seus novos chips Blackwell para a Humain, uma startup lançada pelo fundo soberano da Arábia Saudita. A fabricante de chips AMD também anunciou uma colaboração de US$ 10 bilhões com a Humain. A Amazon anunciou grandes centros de dados AWS no país no início deste ano.
A presença pública de tantos executivos está muito distante de 2018, quando membros da elite empresarial chegaram a boicotar a conferência de investimentos do reino —apelidada de Davos no Deserto— devido à morte do jornalista saudita e colunista do Washington Post Jamal Khashoggi dentro do consulado saudita em Istambul.
O fundador da Amazon e proprietário do Washington Post, Jeff Bezos, que apoiou uma campanha de alto perfil para chamar a atenção para a morte de Khashoggi, não estava presente no evento de terça-feira.
A primeira grande viagem internacional de Trump em seu segundo mandato mostra seu modelo emergente de diplomacia comercial, no qual interesses empresariais —alguns deles envolvendo sua própria família e associados— estão entrelaçados e até equiparados aos objetivos da política externa dos EUA. Executivos e empresas são colocados em papéis de embaixadores políticos.
Principais figuras da tecnologia se reúnem na Arábia Saudita
Elon Musk, CEO da Tesla e SpaceX
Musk foi o maior doador do presidente Donald Trump nas eleições. Ele emprestou sua celebridade, junto com US$ 288 milhões em doações e apoio público vocal no X, para ajudá-lo a retomar a Casa Branca. Ele passou a liderar a iniciativa de corte de custos do presidente, o serviço Doge dos EUA. Embora Musk esteja se afastando da pasta, sua presença na Arábia Saudita nesta semana —ao lado de seu irmão Kimbal e outros aliados— mostra que ele pretende permanecer ao lado de Trump.
Ruth Porat, presidente e diretora de investimentos do Google
Até o ano passado, Porat era diretora financeira da Alphabet e sua subsidiária Google e a executiva mais poderosa da empresa depois do CEO Sundar Pichai. Agora, ela tem um papel mais discreto como presidente e diretora de investimentos. Ex-executiva de Wall Street, ela não é estranha a alguns dos grandes investidores que foram à viagem a Riad. Ao enviar Porat, o Google marcou presença na reunião sem que Pichai tivesse que comparecer.
Andy Jassy, CEO da Amazon
Jassy sucedeu Jeff Bezos como CEO da Amazon em 2021. Antes disso, ele liderou o negócio de software em nuvem e armazenamento digital da Amazon, o que significa que ele conhece o valor dos chips de computador e centros de dados. A Amazon tem o maior negócio de nuvem do mundo e lidera o setor há anos. Mas a empresa está na defensiva quando se trata de IA, com os arquirrivais Google e Microsoft se movendo rapidamente para tentar usar a tecnologia para tomar parte dos negócios da Amazon. (Bezos é proprietário do The Washington Post).
Ben Horowitz, sócio do fundo de capital de risco Andreessen Horowitz
Horowitz —um capitalista de risco, pioneiro da internet e ex-doador democrata— ganhou manchetes no verão passado quando anunciou, junto com o sócio Marc Andreessen em seu podcast, que apoiariam a campanha de reeleição do ex-presidente Trump. Ao fazer isso, eles se juntaram a um grupo de líderes de tecnologia que haviam se voltado para a direita. Horowitz tem há muito tempo interesses comerciais no Oriente Médio. Sua empresa estava em negociações no ano passado com a Arábia Saudita sobre a criação de um fundo dedicado à IA.
Sam Altman, CEO da OpenAI
Altman apareceu ao lado de Trump em seu primeiro dia no cargo em janeiro, anunciando um investimento planejado de US$ 100 bilhões pela OpenAI e outros investidores em novos centros de dados de IA nos EUA. Altman está levantando dinheiro para o esforço do centro de dados, chamado Stargate, e quer ajudar a construir centros de dados em outros países também. A Arábia Saudita e outros países do Golfo têm o dinheiro de que Altman precisa para manter a OpenAI crescendo e para construir os centros de dados que ele diz serem fundamentais para o futuro da IA.
Jensen Huang, CEO da Nvidia
Huang dirige a Nvidia, a empresa de chips de computador no centro do boom da IA. Ele fundou a empresa em 1993 e durante a maior parte de sua história se concentrou na construção de chips de computador para consoles de videogame. Mas em meados da década de 2010, pesquisadores de IA perceberam que os chips de jogos eram ideais para executar modelos de IA, e a Nvidia abraçou a indústria nascente. Essa decisão levou a empresa a se tornar a produtora dos melhores e mais procurados chips de computador para construir e executar software de IA. Grandes empresas de tecnologia gastaram bilhões no hardware da empresa nos últimos anos, tornando Huang uma das pessoas mais influentes na indústria de tecnologia.
Lisa Su, CEO da fabricante de chips AMD
Su dirige a Advanced Micro Devices, empresa de chips que está tentando abrir caminho na corrida armamentista da IA e competir com a Nvidia. Seu perfil tem crescido, e muitas empresas de tecnologia estão comprando os chips da empresa na esperança de que a AMD ajude a trazer mais competição para o mercado de chips de IA, que a Nvidia dominou nos últimos anos. Na terça-feira, a AMD anunciou que trabalharia com a recém-formada empresa de IA da Arábia Saudita, Humain, para gastar US$ 10 bilhões na construção de novos centros de dados nos EUA, Arábia Saudita e outros países.
Alex Karp, CEO da Palantir
Karp é frequentemente o único democrata em uma sala de líderes de tecnologia cada vez mais inclinados à direita. Ele cofundou a empresa de análise de dados com o investidor Peter Thiel após o 11 de setembro. A empresa vendeu tecnologia para clientes do governo dos EUA e para o setor de defesa em um momento em que muitos no Vale do Silício hesitavam em vender para o Pentágono. Karp é um forte apoiador de Israel, e a Palantir provavelmente desempenhará um papel no que Trump disse na terça-feira ser um acordo de vendas de defesa de quase US$ 142 bilhões com a Arábia Saudita.
Travis Kalanick, cofundador e ex-CEO da Uber
Kalanick ajudou a fundar a Uber e liderou a empresa em seu crescimento meteórico de 2010 a 2017 antes de renunciar sob uma nuvem de acusações de que ele pressionou executivos a contornar leis locais e alegações de que ele não investigou denúncias de assédio sexual na empresa. Desde que deixou a Uber, Kalanick tem se concentrado em sua nova empresa CloudKitchens, que constrói cozinhas e software para empresas usarem para entrega de alimentos. O fundo soberano da Arábia Saudita anunciou um investimento de US$ 400 milhões na CloudKitchens em 2019.
Tim Sweeney, CEO da Epic Games
Sweeney é o chefe da Epic Games, criadora do jogo Fortnite. Ele entrou em conflito com líderes de grandes empresas de tecnologia, mais notavelmente ao desafiar as taxas que Apple e Google cobram por transações em suas lojas de aplicativos móveis, que impactam fortemente o resultado da Epic. Os juízes têm se posicionado a favor da empresa em várias decisões importantes, reduzindo o poder da Apple e do Google.
Dara Khosrowshahi, CEO da Uber
Khosrowshahi assumiu o comando da Uber em 2017 após a renúncia de Kalanick. A empresa abriu capital logo depois. Durante o primeiro mandato de Trump, Khosrowshahi, que imigrou para do Irã para os EUA quando criança, criticou a política de imigração de Trump e a proibição de viagens de países de maioria muçulmana. A Uber também tem uma conexão importante com o governo saudita, que é um de seus investidores e ocupa um assento no conselho da empresa. Em 2019, Khosrowshahi disse a um entrevistador que o assassinato do colunista colaborador do Washington Post Jamal Khashoggi por agentes sauditas foi um “erro” que poderia ser perdoado. Ele então se desculpou pelo comentário e disse que o “assassinato foi reprovável e não deve ser esquecido ou desculpado”.
QUEM NÃO ESTAVA LÁ?
Houve algumas ausências notáveis entre o panteão de bilionários da tecnologia que já participaram de eventos de Trump. O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, que compareceu à posse de Trump e já falou favoravelmente sobre ele, não estava presente, nem qualquer executivo da Meta, de acordo com uma lista de convidados fornecida pela Casa Branca.
Nem o CEO da Microsoft, Satya Nadella, nem seu presidente, Brad Smith, que geralmente lidam com reuniões políticas, estavam presentes. O fundador da Amazon, Bezos, e o CEO do Google, Sundar Pichai, não estavam lá, assim como o CEO da Apple, Tim Cook, cuja ausência Trump notou.
Ninguém da fabricante americana de chips Intel estava presente, que já foi a empresa de chips mais importante da América até perder em grande parte o boom da IA. A empresa tem enfrentado dificuldades nos últimos anos, demitindo milhares de funcionários e substituindo seu CEO de longa data, Pat Gelsinger. Ainda assim, a empresa é a única grande companhia americana de chips que realmente fabrica seu próprio hardware em vez de terceirizá-lo para empresas estrangeiras, como fazem AMD e Nvidia.
Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn e um dos apoiadores de mais alto perfil da campanha presidencial da ex-vice-presidente Kamala Harris, foi listado pela Casa Branca como participante, mas disse ao The Washington Post que não compareceu de fato.